sexta-feira, 5 dezembro, 2025 04:23
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Biomas de MS devem ter expansão de monitoramento

de Redação Bonitonet
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A expansão de sistemas de monitoramento ambiental, inicialmente pensada para a Amazônia e o Cerrado, deve chegar também ao Pantanal e a outras regiões críticas do País. A possibilidade foi confirmada em conversa com especialistas do Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE) durante a Futurecom, em São Paulo, na quarta-feira, que destacaram o papel estratégico de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul nesse processo.

Segundo o professor da Universidade de Brasília (UnB) e membro sênior do IEEE Renato Borges, o objetivo é construir uma cobertura ampla de dados para a prevenção de desastres ambientais.

“A gente tem a Amazônia como referência, o Cerrado com algumas iniciativas prévias, mas isso não vai fazer sentido para chegar onde nós mencionamos, uma solução global, se nós não tivermos uma cobertura completa. Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, por sinal, são protagonistas. Tem grupos de excelência ali que trabalham exatamente com esse tipo de infraestrutura de torres”, declarou.

PANTANAL SOB PRESSÃO
O Pantanal, que tem cerca de 65% de sua área total no Estado e foi considerado, em 2022, a região com maior número de focos de calor no Brasil, sofre com queimadas cíclicas. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontam que, somente em 2024, mais de 1 milhão de hectares do bioma foram atingidos pelo fogo.

Renato Borges reconheceu esses desafios e ressaltou que sensores específicos já estão no radar do projeto.

“Para questões específicas, por exemplo, queimadas, existem outros tipos de sensores que vão compondo, mas isso também fica no radar. Inclusive, para a gente conseguir perceber esse impacto nesse tipo de monitoramento”, afirmou Borges.

Um dos gargalos para levar torres de monitoramento ao Pantanal é a falta de conectividade. Muitas áreas do bioma não contam com cobertura de internet ou telefonia celular, dificultando a transmissão de dados em tempo real.

O especialista explicou que a solução está na combinação de tecnologias terrestres e espaciais.

“Esse é o ponto chave, essa é exatamente a minha área específica de atuação. A minha principal participação nessa iniciativa é a parte de coletar os dados, fazer ingestão em plataformas, processar e disponibilizar. Aí a gente entra com tecnologias espaciais. Então, esse projeto tem junto o desenvolvimento de rede de satélites para coleta de dados”, disse o professor da UnB.

A tecnologia foi projetada para funcionar mesmo em regiões de difícil acesso, com autonomia energética e redundância de transmissão. “Ela vai ter a capacidade de gerar energia, de armazenar energia, de transferir esses dados via satélite. Se a gente tem condições de fazer redes em solo, isso também é feito via satélite”. 

Além do Pantanal, o Cerrado sul-mato-grossense também deve ser beneficiado. A região concentra parte da produção agrícola do Estado e sofre com o desmatamento e a perda de biodiversidade. De acordo com o MapBiomas, o Cerrado foi o bioma que mais perdeu vegetação nativa em 2023, e Mato Grosso do Sul está entre os estados mais afetados.

Com a integração de novas torres e satélites, será possível ampliar a capacidade de monitorar queimadas, enchentes e mudanças no uso do solo em tempo real, apoiando tanto a preservação ambiental quanto políticas públicas de mitigação de riscos.

MONITORAMENTO
A professora da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) e também membro sênior do IEEE Cristiane Pimentel tem seu trabalho voltado para o estudo dos chamados gêmeos digitais, que são a reprodução de algo em um ambiente virtual para que seja feito um estudo, seja para alguma predição, seja para algo que vá ser estudado.

Ela explicou à reportagem do Correio do Estado como é possível combinar sensores, inteligência artificial (IA) e modelos preditivos para antecipar desastres ambientais. 

“Nós fazemos um estudo de barragens, em parceria com a Usina Itaipu, para predizer o tempo de vida dessa barragem, quando ela precisa parar para manutenção. E, através desses modelos de monitoramento, conseguimos fazer esses estudos”, afirma.

A professora destaca modelos desse monitoramento também nas grandes cidades, como São Paulo, com o estudo de áreas de drenagem para escoamento da chuva, e Curitiba, no planejamento urbano, integração da infraestrutura e tecnologias, como metrô e ônibus.

O projeto principal de monitoramento ambiental acontece na Amazônia, para prevenção de queimada e de desmatamentos.

Renato Borges trabalha na parte prática, com a instalação de torres verticais nos biomas com sensores para estudo e transmissão de dados dessa área.

“Não é possível chegar a um gêmeo digital somente com os satélites, sem colher operação em solo. A gente precisa entender como esse bioma se desenvolve, qual o impacto da ação humana ali. Então, essas estruturas verticais são instaladas no bioma, com sensores em vários pontos da torre, inclusive no subsolo. Essas torres ultrapassam a copa das árvores e têm um alcance de centenas de metros e, dependendo da altura, podem perceber processos em escala global, com muitas informações a serem analisadas”, explicou o professor da UnB.

Esse monitoramento, segundo o especialista, é o que permite o sensoriamento do ambiente, que é a fase 1 para o desenvolvimento de um gêmeo digital, para que sejam colhidos os dados na fase 2 e seja feita a criação desse gêmeo na fase 3.

“O objetivo é trazer confiabilidade e confiança na informação, proteger essa informação para que ela chegue às nossas mãos de forma certeira e confiável”, reforçou Borges. 

Já estão em estudo e em desenvolvimento os gêmeos digitais globais, para simulação de cenários com alta precisão, mostrando impactos de decisões sobre os solos de outros biomas e regiões.

“Esses gêmeos vão ajudar governos e empresas a escolher caminhos mais sustentáveis, tanto nas áreas públicas como nas privadas, com uma predição de tomadas de decisões mais precisa, impactando diretamente a redução de custos e de uso de recursos”, afirmou Cristiane.

*SAIBA
Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos
O Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE) é a maior organização profissional técnica do mundo dedicada ao avanço da tecnologia em benefício da humanidade, com mais de 486 mil membros, entre engenheiros e especialistas em mais de 160 países, sendo 5 mil deles somente no Brasil. Suas publicações, conferências, padrões de tecnologia e atividades profissionais são recomendadas por diversos especialistas, e a organização é fonte confiável para informações de engenharia, computação e tecnologia em todo o mundo. 

Fonte:Correio do Estado

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