sexta-feira, 5 dezembro, 2025 04:08
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Almir Sater: ‘Se alguém faz uma música que emociona, quem sou eu pra julgar se ela é boa ou ruim?’

de @bonitonet
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Cantor de 68 anos recebe a reportagem do ‘Estadão’ em seu refúgio de sete hectares na Serra da Cantareira antes de show na capital neste sábado, 6, e turnê com o filho Gabriel que chegará ao Carnegie Hall, em Nova York, se Trump ‘não impedir’

Almir Sater estava completamente à vontade durante a tarde na qual atendeu a reportagem do Estadão em sua chácara de sete hectares em Mairiporã, na região metropolitana de São Paulo. De roupão e almoçando um prato de mocotó, o violeiro de 68 anos, notório morador da Serra da Cantareira há mais de quatro décadas, estava rodeado de cães e gatos – os felinos, segundo ele, são as melhores armas contra as jararacas que aparecem com frequência no vasto terreno.

Minutos depois da entrevista, o cantor veste chapéu, camisa e passa a dedilhar a viola para uma sessão de fotos, ressoando o folk caipira que o consagrou, inspirado por nomes como Paul Simon, Crosby, Stills & Nash, Bob Dylan, entre outros, e pela música irlandesa e andina.

Ator nas horas vagas, o mato-grossense de Campo Grande também caiu nas graças do povo devido aos papéis carismáticos em telenovelas como Pantanal (a versão original e o remake), A História de Ana Raio e Zé TrovãoO Rei do Gado e, mais recentemente, Renascer.

Neste sábado, 6, Sater se apresenta na Vibra São Paulo, casa de shows na zona sul da capital. Não faltarão sucessos como ChalanaTrem do PantanalNo Rastro da Lua Cheia e, claro, Tocando em Frente – célebre faixa composta em parceria com Renato Teixeira, gravada por dezenas de artistas e recém-eleita pelo jornal O Globo entre as 100 melhores canções brasileiras.

No fim do ano, ele embarca em uma longa turnê acompanhado do filho, Gabriel Sater, que segue os passos do pai. O giro, cujo roteiro completo ainda não foi anunciado, vai se estender até 2026 e terá uma passagem pelos Estados Unidos, em Boston e no icônico Carnegie Hall, em Nova York, se “aquele senhor [Donald Trump] não nos impedir”, brinca.

O cantor e compositor Almir Sater em sua residência na Serra da Cantareira
O cantor e compositor Almir Sater em sua residência na Serra da Cantareira Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Por que para o senhor é tão importante ter esse refúgio e estar conectado com a natureza e a tranquilidade?

Eu venho de um lugar chamado Mato Grosso. Fui criado no meio das matas, do cerrado. Campo Grande é uma cidade muito pequena. Eu me acostumei com a natureza. Eu fui estudar no Rio, depois eu vim pra São Paulo. Morava num apartamento de um primo meu, mas sempre achava aquilo muito desconfortável. Foi quando eu encontrei o Renato Teixeira num dos programas de TV. Ele me convidou pra almoçar aqui [na Serra], onde ele tinha alugado a casa que era da Elis Regina. Então, a Cantareira me salvou. Acho que São Paulo deve muito à Serra da Cantareira.

Como avalia esse sentimento cada vez mais frequente das pessoas buscarem sair da loucura e da ansiedade de cidades grandes, como São Paulo, em troca de momentos de paz?

É muito pessoal. Meu pai, por exemplo, quando dava 17h no mato dava depressão nele. Ele queria ir pro bar tomar uma cerveja. Queria ver os amigos. Acho que na época da pandemia muita gente se isolou, se afastou e percebeu que era possível viver assim. Não é pra qualquer um. Não é fácil você morar no meio do mato. Eu sou bicho do mato.

Além de ser um símbolo da Serra, o senhor é um símbolo do Pantanal. Como te afeta toda a questão do desmatamento, dos incêndios e do sofrimento dessa região?

As pessoas têm uma certa ignorância em relação ao Pantanal. É um dos lugares mais preservados do planeta. Mas existem algumas cidades periféricas ao Pantanal que causam impacto, poluição. Nós vemos incêndios no Pantanal geralmente por causa desse aquecimento do planeta, de pouca chuva, de seca, muito calor. No ano passado um caminhão pegou fogo e queimou milhares de hectares. Quem deu conta de resolver isso foi o Exército Brasileiro. A gente não aguentava mais lutar contra o fogo e pedimos ajuda ao Exército, que foi lá e resolveu.

Almir Sater se apresenta neste sábado, 6, na Vibra São Paulo e em 2026 tocará no Carnegie Hall, em Nova York
Almir Sater se apresenta neste sábado, 6, na Vibra São Paulo e em 2026 tocará no Carnegie Hall, em Nova York Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Musicalmente, o senhor é uma grande referência da viola caipira. O que esse instrumento te proporciona que o violão, por exemplo, não proporciona?

A viola caipira, muito mais do que um instrumento, é uma concepção. Cada instrumentista vai escolher qual afinação ele gosta mais. É como se você pegasse o teclado do piano e desse uma embaralhada. O bom da viola é você usar a afinação aberta. É uma afinação que te dá um acorde e soa bonito. E quanto menos dedo você colocar na viola, melhor. Quanto mais dedo você colocar na viola, ela vai abafando a ressonância. É um instrumento de ressonância.

Como o senhor desenvolveu o seu repertório atual nos shows? Chegou numa fórmula a qual se sente confortável?

Nós rodamos muito o Brasil. Depois que eu fiz a novela Pantanal, a minha imagem se popularizou um pouco e pude fazer shows no País inteiro, dos lugares mais simples, aos mais sofisticados. Mas o show que eu faço no interior do Pará é o mesmo show que eu faço na Vibra. E esse show atual me deixa confortável, com um pouquinho de cada fase da minha vida musical.

A turnê com o Gabriel vai ser muito diferente desse show?

Na verdade, a turnê com o Gabriel vai ter dois shows. O Gabriel tem o trabalho dele. Quando ele resolveu ser músico, eu falei: ‘meu filho, você vai estudar. Não vai ser analfabeto igual teu pai’. Então, ele aprendeu a ler música, é um cara muito dedicado. Nunca pediu um conselho pra mim. E se eu der, ele também não vai me ouvir. Ele é muito teimoso, acho que puxou um pouco o pai (risos). Então, provavelmente vai ser o show dele, o meu show e algumas canções que fazemos juntos.

E a sua expectativa para tocar no Carnegie Hall? Não é um lugar corriqueiro de se apresentar…

Quando veio essa proposta, a nossa produtora já chegou com um roteiro pronto. Desde quando eu era menino, ouvia falar no Carnegie Hall. Se aquele senhor [Donald Trump] não impedir a gente com taxação, nós vamos bater lá…

Almir Sater, fotografado em 1999, participou de novelas populares como 'Pantanal' e 'O Rei do Gado'
Almir Sater, fotografado em 1999, participou de novelas populares como ‘Pantanal’ e ‘O Rei do Gado’ Foto: Divulgação/Acervo Estadão

Como foi se tornar uma figura conhecida também pelas telenovelas?

Quando eu fiz Pantanal, foi tão bom que ganhei o convite para ser o protagonista de A História de Ana Raio e Zé Trovão, que eu encontro hoje toda uma geração de pessoas que foram crianças daquela época e que foram fãs do Zé Trovão. Aí aceitei o convite do [Benedito] Ruy Barbosa para fazer O Rei do Gado. Jamais vou falar não para qualquer coisa do Ruy Barbosa. Ele brigava por nós em O Rei do Gado. Anos depois, quando fui fazer Renascer já começaram a me chamar de ator (risos), porque era um papel muito diferente do que eu tinha feito: um árabe com sotaque [Rachid]. Foi o papel que eu mais gostei de fazer (…) Hoje em dia você não tem mais audiência de novela igual antigamente. Há uma concorrência absurda de cinema, streaming.

Voltando à música: ‘Tocando em Frente’ é o exemplo perfeito de como uma colaboração musical pode ser algo especial?

Compor com o Renato Teixeira é muito fácil. Ele pega a caneta e aquilo vem fácil. Essa música foi feita na casa que era da Elis Regina. Peguei o violão do filho dele, fiz uma melodia, o Renato escreveu aquilo. Então eu falei: ‘não é plágio isso?’. Ele disse: ‘Não, parece essas coisas suas mesmo’. O mais difícil é você fazer uma música simples, que emociona alguém. É uma música que ninguém fez sucesso com ela. Eu nunca gravei. Cada vez que eu ia gravar alguém pedia.

Qual a sua versão preferida?

A melhor versão é da Maria Bethânia, que foi a primeira pessoa que gravou, com músicos como Toninho Horta, Jacques Morelenbaum. Um time e tanto. Mas não fez o sucesso que merecia ter feito.

Hoje, a qualidade da música no Brasil caiu?

Não gosto de colocar minha opinião pessoal em um meio de comunicação tão importante. É questão de gosto. Se alguém faz uma música que emociona, quem sou eu pra julgar se ela é boa ou ruim? As músicas dos anos 60, 70, 80 foram de excelência musical. É inquestionável. Eu não vou julgar a música de cada um, mas eu continuo ouvindo as músicas que eu ouvia quando eu era menino.

Almir Sater compôs o clássico 'Tocando em Frente' em parceria com Renato Teixeira
Almir Sater compôs o clássico ‘Tocando em Frente’ em parceria com Renato Teixeira Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Almir Sater – Ao Vivo

  • Quando: 6 de setembro de 2025
  • Onde: Vibra São Paulo (Av. das Nações Unidas, 17955)
  • Ingressosuhuu.com (baixa disponibilidade)
  • Preços: R$ 60 a R$ 140

Fonte: Estadão

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