sexta-feira, 5 dezembro, 2025 03:42
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Montado em uma mula, com outra de reserva, saindo dos EUA em direção ao Brasil, engenheiro brasileiro quer atravessar as Américas em uma expedição de cerca de 10 mil km com duração de 2 anos

de Redação Bonitonet
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Engenheiro paulista, quatro vezes campeão de berrante em Barretos, atravessa as Américas em uma expedição de cerca de 10 mil km a lombo de mulas para voltar dos Estados Unidos ao Brasil, levando a cultura caipira de Orindiúva para o mundo e colocando em debate os limites entre aventura, fé e risco na estrada

Pedro Henrique Biondo, conhecido como Pedro Berranteiro, está no meio de uma jornada que parece roteiro de filme. O engenheiro civil e competidor de berrante decidiu voltar dos Estados Unidos ao Brasil montado em mulas, acompanhado do cão Bastião e de um veterinário que segue de caminhonete.

A missão é chegar à Festa do Peão de Barretos 2026, maior palco da cultura sertaneja do país.

A expedição, batizada de “Berranteiro das Américas”, começou em 2023, quando Pedro saiu de Barretos em uma caminhonete F-1000 e cruzou 16 países rumo aos Estados Unidos. Só depois dessa primeira etapa de estrada começou o desafio de retorno, desta vez a passo lento, em cerca de 10 mil quilômetros de trilhas e rodovias percorridos em lombo de mula.

Nas redes sociais, onde aparece como @berranteiro, o paulista mostra a rotina na estrada, cidades, paisagens e famílias que o recebem pelo caminho. Em entrevistas, ele explica que a ideia é registrar cada trecho para valorizar o modo de vida do peão boiadeiro e da cultura caipira que o formou.

A história que hoje fascina seguidores começou ainda na infância. Nascido em Santo André, na Grande São Paulo, Pedro teve graves problemas respiratórios quando bebê.

Por causa da saúde, foi levado aos dois anos para Orindiúva, região rural de São José do Rio Preto, onde passou a viver com os avós e descobriu o campo, o berrante e um estilo de vida que agora o leva de volta ao Brasil em ritmo de tropa.

Infância frágil em Santo André e renascimento em Orindiúva

Segundo o jornal Diário da Região, Pedro nasceu em Santo André e viveu os primeiros meses entre médicos e internações por causa de crises respiratórias. Aos dois anos, a família decidiu levá-lo para Orindiúva, distrito rural de Rio Preto, em busca de ar mais puro e clima mais ameno.

O contato diário com animais, terra e vida simples ajudou a melhorar a saúde e moldou sua ligação com o interior.

Foi a avó quem comprou o primeiro berrante para fortalecer a respiração do neto, numa espécie de fisioterapia caseira. O instrumento que começou como tratamento rapidamente virou brinquedo, passatempo e, depois, marca registrada. O som do chifre ecoando pela roça passou a fazer parte da rotina do menino.

Na adolescência, o berrante deixou de ser apenas diversão e virou compromisso. Pedro passou a treinar com mais frequência, aprendeu diferentes toques usados em comitivas de gado e, aos 19 anos, estreou no concurso de berrante em Barretos, ficando em segundo lugar.

Hoje, acumula quatro títulos de campeão em Barretos, um currículo que reforça sua autoridade quando fala em cultura sertaneja e tradição do peão de boiadeiro.

Como nasceu a expedição Berranteiro das Américas em mulas

Mesmo com a carreira de engenheiro civil encaminhada, Pedro relatou a amigos que se sentia preso a uma rotina mecânica, “no automático”. De acordo com o Diário da Região, foi nesse período que ele conheceu Filipe Masetti, o “Cavaleiro das Américas”, famoso por cruzar o continente a cavalo entre o Canadá e Barretos. A amizade e as histórias de estrada despertaram o desejo de viver algo semelhante, mas com a sua própria marca, o berrante.

A viagem começou a tomar forma em 2021, com dois anos de planejamento, busca de patrocínios e definição da rota.

Em agosto de 2023, logo após participar da Festa do Peão de Barretos, Pedro saiu da cidade em uma caminhonete F-1000, com o cão Bastião, e cruzou 16 países até os Estados Unidos, passando por diferentes climas e fronteiras.

A segunda etapa, a mais desafiadora, teve início em outubro de 2024, saindo de Fort Worth, no Texas. Lá, ele recebeu de um criador norte-americano duas mulas, batizadas depois como parte fundamental da expedição. Foram cerca de dois meses de doma e adaptação, até que os animais estivessem prontos para encarar longas jornadas diárias com segurança.

Desde então, o grupo segue em média 25 quilômetros por dia, ritmo considerado seguro para os animais, segundo o próprio viajante e o veterinário que o acompanha em uma caminhonete de apoio. A rota já passou por Estados Unidos, México, Guatemala, El Salvador, Honduras, Costa Rica e Panamá, com a entrada na Colômbia marcando oficialmente o retorno à América do Sul.

A meta é chegar a Barretos em agosto de 2026, durante a Festa do Peão, completando aproximadamente 10 mil quilômetros em lombo de mula e mais de 10 países atravessados.

Segundo reportagens da CNN Brasil e de portais do agronegócio, Pedro sonha em registrar a jornada no Guinness World Records, como a primeira travessia das Américas realizada integralmente em mulas com essa extensão.

Rotina na estrada, apoio de moradores e cuidados com os animais

A sobrevivência no caminho não depende apenas de patrocínios. Pedro conta, em entrevistas e nas redes sociais, que tem se mantido graças ao apoio de moradores locais que o acolhem para dormir e alimentar os animais.

Em uma das etapas, por exemplo, ele relatou estar hospedado na casa de uma moradora do Panamá, enquanto se preparava para seguir viagem em direção à Colômbia.

Além do registro da aventura, as postagens também servem para mostrar os cuidados com as mulas e com Bastião. A dupla de animais é revezada, recebe avaliação constante do veterinário e períodos de descanso.

Pedro afirma que prefere avançar devagar, com um número limitado de quilômetros por dia, para “curtir a viagem” e preservar a saúde dos bichos, que carregam não só os arreios e bagagens, mas também a bandeira do Brasil que acompanha a comitiva.

Símbolo da cultura caipira e debate sobre os riscos da aventura

Para especialistas em cultura sertaneja, o berrante e a figura do peão boiadeiro fazem parte de um patrimônio imaterial que liga estados como São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, região conhecida como Paulistânia.

Ao levar o instrumento e a vestimenta típica por países das Américas, Pedro reforça essa identidade e ajuda a explicar, fora do Brasil, o significado da Festa do Peão de Barretos e das comitivas de gado.

De acordo com reportagens recentes, o berranteiro afirma que seu sonho é “levar a cultura do peão de boiadeiro para o mundo” e que, antes da expedição, sentia que apenas cumpria obrigações diárias, sem realmente viver o que desejava.

A viagem, portanto, é apresentada por ele como uma virada de chave pessoal, em que troca o escritório de engenharia pela poeira das estradas de terra e pelo contato direto com quem encontra no caminho.

A mesma jornada que encanta milhares de seguidores também provoca questionamentos. Há quem veja a expedição como um esforço extremo, que expõe animais e humanos a riscos de estradas perigosas, mudanças bruscas de clima e falta de estrutura.

Pedro e sua equipe argumentam que o ritmo reduzido, a presença constante de um veterinário e o planejamento detalhado da rota são suficientes para garantir bem-estar animal e segurança. Ainda assim, o equilíbrio entre aventura, tradição e responsabilidade segue alimentando o debate em torno do projeto.

A história do morador de Orindiúva que volta dos EUA ao Brasil montado em mulas pode ser vista como inspiração, ousadia ou imprudência, dependendo do olhar de quem acompanha.

Fonte;clickpetroleoegas

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