sexta-feira, 5 dezembro, 2025 04:04
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Contrabandistas negociam o ‘Mounjaro do Paraguai’ livremente em redes sociais

de @bonitonet
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Com a proibição da importação de canetas emagrecedoras produzidos à base de tirzepatida no Paraguai, sul-mato-grossenses em tratamento se arriscam ao comprar de contrabandistas. Dessa forma, o preço da venda clandestina pode ser até 180% mais alto que o praticado em farmácias do Paraguai. Esses medicamentos têm o mesmo princípio ativo do Mounjaro e são utilizados para emagrecimento ou combate ao diabetes.

Na última quinta-feira (20), a Anvisa proibiu os produtos T.G. 5, Lipoless, Lipoless Eticos, Tirzazep Royal Pharmaceuticals e T.G. Indufar. Segundo a Agência, eles não têm registro sanitário no Brasil, então, não tiveram a qualidade, eficácia e segurança de uso avaliadas no país. Antes, a importação era permitida apenas com prescrição de um médico e para uso exclusivamente pessoal.

O preço das canetas emagrecedoras paraguaias é tão mais baixo porque o país quebrou a patente deste tipo de medicamento. Ou seja, qualquer laboratório do outro lado da fronteira pode produzir utilizando o princípio ativo do Mounjaro. No Brasil, a farmacêutica estadunidense Eli Lilly possui monopólio da produção e venda de tirzepatida. Nesse caso, o preço chega a ser três vezes mais alto que no Paraguai.

Enquanto canetas emagrecedoras vendidas legalmente em farmácias brasileiras estão com o preço nas alturas, a comercialização clandestina ocorre sem freios e com superfaturamento no país, inclusive em Mato Grosso do Sul. A reprotagem do Jornal Midiamax encontrou contrabandistas negociando tirzepatida livremente em redes sociais, além de farmácia paraguaia oferecendo entrega do produto proibido em todo o Brasil.

Preços mais altos

No Paraguai, é possível encontrar Lipoless de 15 mg por cerca de R$ 600, no caso do medicamento com caneta aplicadora. No entanto, o Jornal Midiamax apurou que contrabandistas vendem o mesmo produto — caneta de Lipoless com 15 mg — por preço 180% maior: R$ 1.700.

No caso da ampola de Lipoless com 15 mg, o preço cai para até R$ 500 na região da fronteira do Paraguai com o Paraná. Já na fronteira com Mato Grosso do Sul, o mesmo produto foi encontrado por R$ 625. Assim, o próprio paciente precisa fracionar o medicamento antes de aplicá-lo. A importação é proibida.

A reportagem também apurou que farmácia de Pedro Juan Caballero comercializa caneta de Lipoless com 5 mg por R$ 500. Enquanto isso, o valor chega a cerca de R$ 1.200 no comércio clandestino de Campo Grande. Ou seja, o preço sobe 140% para quem recorre ao contrabando a fim de não parar o tratamento.

Por fim, o Lipoless com 7,5 mg é comercializado por R$ 600 na fronteira com Ponta Porã. No Brasil, a venda clandestina é superfaturada em cerca de 117%, com o mesmo produto custando cerca de R$ 1.300.

Mesmo após a proibição da Anvisa, farmácia paraguaia da fronteira com Mato Grosso do Sul negocia a venda de Lipoless a brasileiros, em português, inclusive com cotação de preços em Real, nesta quarta-feira (26).

Contrabando por Correios

Opção ainda mais arriscada é o contrabando por Correios. A reportagem descobriu uma farmácia do Paraguai que oferece envio de Lipoless para todo o Brasil via Sedex. Gravação de tela obtida pela reportagem mostra vendedor oferecendo envio sem “risco nenhum” e em “três a cinco dias úteis”. Nas redes sociais, a farmácia anuncia o produto em português e brasileiros comentam sobre a comercialização.

O homem afirma, ainda, que garante o envio do produto. Ele reconhece que o tirzepatida paraguaio é proibido no Brasil e parece não ter medo da fiscalização. Quando questionado sobre o que acontece caso o item clandestino seja barrado na fronteira, ele minimiza o problema. “Se quiser o dinheiro, a gente manda ou mandamos outro [Lipoless]”, afirma o contrabandista, em gravação de voz enviada a suposto cliente.

Segundo o atendente de farmácia paraguaia, os frascos ou as canetas de Lipoless podem ficar até 20 dias fora da geladeira, o que facilitaria o envio por Correios. Os valores cobrados, inclusive, já incluem taxa de entrega.

Brasileiros sem medo do contrabando

Conversa entre uma suposta consumidora de Campo Grande e uma mulher oferecendo TG 5, produto na lista dos proibidos no país, mostra que os vendedores clandestinos têm pouco medo da fiscalização. “Tem risco, está proibido, mas é por minha conta”, afirma a mulher em captura de tela obtida pela reportagem. Ela diz que está vendendo a última remessa do ano, não pela proibição, mas porque os preços sobem em dezembro.

“Se eu cair ou se algo acontecer, ou eu dou um jeito de ir de novo e trazer o produto ou eu te devolvo o dinheiro. Mas eu não trago grandes quantidades, meu isopor não é muito grande”, conclui a contrabandista. Ela oferece opção de pagamento por Pix ou crédito e oferece o produto em grupos de WhatsApp.

A Receita Federal irá intensificar a fiscalização na fronteira contra a entrada de canetas emagrecedoras, em Mato Grosso do Sul, depois de decisão da Anvisa. O órgão passará a monitorar especificamente a entrada desses medicamentos nas fronteiras brasileiras, especialmente nos pontos de maior fluxo.

Conforme informações, também será avaliada a necessidade de reforço de efetivo e de intensificação das ações de fiscalização nos locais com maior risco de ingresso das canetas emagrecedoras.

‘Chega segunda e esgota na sexta’

Em vídeo obtido pela reportagem, farmacêutica de Pedro Juan Caballero confirma que a procura pelos medicamentos à base de tirzepatida (princípio ativo do Mounjaro) e de semaglutida (princípio ativo do Ozempic) é grande no local. “Chega segunda-feira e nem para sexta… Já não tem mais”, explica.

A mulher explica que as farmacêuticas produtoras desses medicamentos no Paraguai não podem fazer as canetas emagrecedoras em grande escala. “Eles não podem liberar muita quantidade”, diz ela. Segundo a atendente de balcão, o local já chegou a ter falta dos produtos por duas semanas, mesmo com alta procura.

Nas imagens, ela oferece o TG 5, também proibido. Ele tem a mesma composição que o Lipoless e o Mounjaro, mas é de um laboratório diferente. O produto custa R$ 569 no estabelecimento e, em Campo Grande, é encontrado por R$ 700 no mercado clandestino, conforme apuração da reportagem. O valor praticado por contrabandistas levanta suspeitas quanto à procedência do suposto medicamento.

‘Mounjaro do Paraguai’ é mais perigoso?

Médicos especialistas ouvidos pela reportagem afirmam que o problema não é o país de origem, mas a falta de regulamentação. “Não sabemos como foi feito, se existe alguma adulteração no percurso até chegar na mão do consumidor final. Ou até mesmo: se foi bem refrigerado, já que são medicamentos termossensíveis, não aturam bem variações de temperatura”, explica o endocrinologista Ben Hur Ono.

Já o médico conhecido como Dr. Canela afirma que “o problema é entrar no país sem seguir as regras brasileiras de registro, fiscalização e rastreabilidade. Como médico, eu não posso incentivar ninguém a burlar a lei, ainda que eu entenda o desespero de quem está buscando um tratamento mais barato”.

Segundo ele, quando um medicamento é registrado aqui, ele passa por uma série de exigências e é impossível garantir isso dos medicamentos que vêm de fora. “A questão é que, enquanto o medicamento não estiver regularizado aqui, eu não posso chamar isso de uso seguro”, conclui Dr. Canela.

Fonte: Midiamax

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