O herdeiro da família Ermírio de Moraes que se divide entre as pistas de rali e o mundo das startups

Enquanto entra na reta final do campeonato mundial de rali, em que está em terceiro lugar e com chances de ser campeão, Lucas Moraes faz aporte de R$ 10 milhões, ao lado de Cristiano Oliveira, na zMatch, empresa de assinatura de carros elétricos

No Rali Dakar, piloto e navegador recebem o mapa dos 400 quilômetros que percorrerão naquele dia cinco minutos antes da prova. Isso por 14 dias: apenas um pouco antes da largada, eles têm ideia do terreno acidentado e desconhecido pela frente, com uma surpresa a cada curva ou a cada reta.

É mais ou menos como empreender, como diz Lucas Moraes. Brasileiro mais bem colocado na história da disputa, ele tem conhecimento de causa das duas frentes. Fundou a startup Olivia, vendida para o Nubank em 2021. Agora, está investindo na empresa de assinatura de carros elétricos zMatch. “Empreender é o esporte mais difícil do mundo”, diz ele.

Ao lado de Cristiano Oliveira, que fundou com ele a fintech Olivia, Moraes está aportando R$ 10 milhões que serão usados sobretudo no aplicativo da zMatch. A empresa que está recebendo investimentos foi criada por Sylvio de Barros, fundador da Webmotors, morto em maio do ano passado e de quem Moraes era próximo.

Moraes não é um investidor/esportista qualquer. Herdeiro da quinta geração da família Ermírio de Moraes, dona do Grupo Votorantim, que fatura R$ 50 bilhões por ano, ele tem conquistado boas posições nas diferentes frentes. Caso precisasse, a venda da Olívia “faria diferença na vida de qualquer um”, segundo ele. Também é atleta da Toyota e da Red Bull e patrocinado profissionalmente desde os 15 anos de idade.

Lucas, no Rally Dakar: paralelos entre o esporte e a atividade empresarial Foto: Marcelo Maragni/Red Bull Content Pool

O que o move, porém, não tem ligação com o mundo dos negócios ou dos patrocínios. Sua meta é “ganhar o Dakar para o Brasil”. “O brasileiro gosta de torcer para quem ganha e, eventualmente, se eu conseguir chegar lá, esse esporte tão grande na Europa e tão desconhecido no Brasil, vai ter outra importância por aqui”, diz ele. “Essa é minha obsessão e, hoje, eu me dedico 100% para isso.” O Rali Dakar, a prova mais emblemática do circuito, é disputado em janeiro.

Moraes, literalmente, tem estrada que o permite ter essa ambição. Tricampeão do Rally dos Sertões, vice-campeão de motocross no Brasil e nos EUA, ele está atualmente em terceiro no Campeonato Mundial de Rally-Raid, do qual o Dakar faz parte e que é considerado a Fórmula 1 dos ralis.Sua diferença é de apenas dez pontos do primeiro colocado. O tricampeão do mundo Nasser Al Attiyah, do Catar, lidera o campeonato com 140 pontos. Ele é seguido pelo sul-africano Henk Lategan, que tem 131, e por Lucas Moraes, com 130.

Esta semana, está acontecendo o Rali de Marrocos. Com extensão de 2.299 km, a disputa começa em Fez e termina em Erfoud, uma cidade oásis no deserto do Saara. A prova, que pode sagrar Moraes campeão, começou no dia 10 e se encerra nesta sexta-feira, 17. São 50 pontos em disputa.

Paixão de longa data

Em cima de uma moto à combustão desde os quatro anos de idade, ele diz ter sido incentivado pela família de esportistas. O pai, Marcos Moraes, também foi piloto. Eles pertencem ao ramo da família de Ermírio de Moraes, irmão mais novo de Antônio Ermírio, a figura mais emblemática da família. Aos 92 anos, o patriarca recebe filhos e netos, toda segunda-feira, para um almoço.

A carreira de Lucas no motociclismo, porém, foi encerrada por conta de uma lesão no quadril. Sem conseguir competir em cima de uma moto, ele graduou-se em administração pela FAAP e mudou-se para o Vale do Silício, onde estudou na Singularity University. “Comecei a me interessar por inteligência artificial (IA) em 2014 e achei que haveria a possibilidade de trazer a tecnologia para o Brasil”, afirma.

Ao lado de Oliveira, ele criou a Olivia, uma assistente virtual que buscava ajudar as pessoas a fazer o salário chegar ao fim do mês. Por meio da IA, ela aprendia sobre o comportamento financeiro da pessoa, dava dicas, informações sobre descontos e ajudava o usuário a economizar e a se educar financeiramente. Em 2019, a startup recebeu um aporte da XP e, no ano seguinte, o BV (que pertence ao Grupo Votorantim) colocou mais R$ 25 milhões.

Com grandes clientes como Itaú, Caixa e o próprio BV, além de cartões como Itaucard e Amex, a Olivia viu a demanda pelos serviços aumentar no meio da pandemia. Moraes e Oliveira venderam a empresa em 2021, na época em que os recursos para startups ainda eram abundantes. A transação superou os R$ 200 milhões. “Como a gente tinha investidores, era importante ter um múltiplo (em relação ao valor investido) que fizesse sentido para eles”, afirma Moraes. “Foi uma transação que mudaria a vida de qualquer pessoa, mas que vem de um trabalho gigantesco de anos, como acontece em qualquer esporte.”

O paralelo entre esporte e empreendedorismo é uma constante nas conversas com Moraes. Do trabalho em equipe que envolve dezenas de pessoas, em provas que duram dias e são extremamente exaustivas, aos imprevistos do caminho desconhecido, à dedicação, ao alto rendimento.

Ou mesmo para investir. “Essa vivência no esporte me ajuda a ter uma visão para ajudar o empreendedor da empresa em que estou investindo, por exemplo”, diz ele. “Principalmente no meio de esportes e atletas, é onde eu posso contribuir mais, por conta da minha experiência.”

No fim do ano passado, Moraes investiu na holding Outfield, especializada em investimentos em esportes. Entre outras iniciativas, a Outfield estruturou o fundo creditório de R$ 400 milhões do São Paulo e investiu no time francês Le Mans, ao lado do tenista Novak Djokovic e dos ex-pilotos de Fórmula 1 Felipe Massa e Kevin Magnussen. O objetivo é avançar na aproximação entre o esporte e o mercado financeiro, que tem acontecido nos últimos anos, tanto no Brasil quanto em outros países.

Sua iniciativa mais recente, na zMatch, também tem ligação com sua paixão por carros. “Assinatura não é uma coisa óbvia para os brasileiros, mas é um mercado que vem mudando muito”, diz Moraes. “Além disso, tenho um enorme carinho pelo Sylvio de Barros, fundador da Webmotors e da zMatch, que foi um dos primeiros investidores da Olivia e morreu no ano passado.”

Fonte: Estadão

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