A Bolívia enfrenta escassez de combustível. Produtores de leite, de cana-de-açúcar, mineradores, soja e o setor do transporte de cargas, além de fornecedores, declararam situação de emergência devido à falta de diesel e gasolina no país.
Eduardo Cirbián, presidente da Federação Departamental de Produtores de Leite (Fedeple), disse que a falta de combustível está afetando a distribuição e produção de leite, paralisando o fornecimento do produto para as indústrias dos nove departamentos do País.
“A situação é insustentável. Teremos que eliminar o nosso leite porque a cada dia que passa aumenta o estoque e não temos como escoar. Estamos falando de 1 milhão de litros (de leite) que é o que produz o mercado departamental (que está em risco)”, afirmou Cirbián.
Os produtores de leite de Santa Cruz de la Sierra, anunciaram medidas de protesto, para hoje (08), nas proximidades dos Campos Petrolíferos Fiscais Bolivianos (YPFB) centrais, responsável pela distribuição de combustível para o País.
A situação também vem afetando a área de fronteira com Corumbá. Nos postos de combustíveis das cidades de Puerto Quijarro e Puerto Suárez, filas gigantescas são formadas à espera de abastecimento. Boa parte dos veículos fica aguardando na fila e alguns caminhões ficam às margens da estrada Bioceânica, em Puerto Suárez, aguardando para abastecer, conforme apurou o Diário Corumbaense.
A Comissão Nacional dos Produtores de Cana-de-Açúcar da Bolívia (Concabol) também manifestou preocupação com o desabastecimento. “A falta de diesel prejudica gravemente nossos trabalhos no campo, como adubação, fumigação e subsolagem, entre outros. Isso fez com que nossas máquinas parassem, aumentando o custo de produção. Nessas condições, o setor sucroenergético não pode garantir o abastecimento dos volumes de etanol exigidos pela YPFB para 2025”, indicou.
O documento acrescenta que a falta de etanol coloca em risco a soberania alimentar. As estações de serviço também se pronunciaram.
A Associação dos Fornecedores Privados de Hidrocarbonetos (Asosur Nacional) declarou-se em “estado de emergência”.
La Paz
No departamento de La Paz, os dirigentes da Federação das Cooperativas de Mineração de Ouro do Norte de La Paz, indicaram que a falta de combustível complica as operações. Efraín Silva, presidente da Fecoman RL, afirmou que há três meses as cooperativas mineiras de ouro não têm combustível e descartou que o pedido do seu setor tenha algum objetivo político contra o Governo.
Edson Valdez, secretário executivo da Federação Departamental de Motoristas Primeiro de Maio de La Paz, afirmou que seu setor está solicitando a modificação do custo da tarifa de transporte diante da escassez de combustível.
Demetrio Pérez, produtor e ex-presidente da Associação dos Produtores de Oleaginosas e Trigo, disse que a campanha de inverno da soja, que tem cerca de 400 mil hectares, está em risco. “Nossas máquinas estão paralisadas e há duas semanas não há combustível. Só conseguimos colher 5% com a reserva (de diesel) que tínhamos. Existe o risco de perdermos nossos grãos no campo se não conseguirmos combustível”, frisou Pérez.
Liberação de combustível
O presidente da Câmara de Indústria e Comércio (Cainco) de Santa Cruz, Jean Pierre Antelo, assegurou que é necessário liberar a importação e comercialização de combustíveis para uso produtivo e para acesso da população em geral.
“A solução imediata deve ser a liberalização irrestrita da importação e venda de combustíveis no país. É claro que, nos últimos meses, o Estado não teve capacidade para dar certeza na questão dos combustíveis”, destacou Antelo em conferência de imprensa.
A Câmara Agrícola Oriental (CAO) teve posição semelhante. O presidente, José Luis Farah, afirmou que a situação de escassez de combustíveis “é insustentável” e está afetando as cadeias de abastecimento alimentar, fechando milhares de fontes de emprego e gerando escassez de alimentos.
“Como setores que fazem parte da cadeia de abastecimento de alimentos e outros produtos, propomos a seguinte medida a ser aplicada imediatamente pelas nossas autoridades: liberação da importação e comercialização de combustíveis para que os agentes privados participem no fornecimento desses produtos para o consumo nacional”, disse Farah.
Além disso, a YPFB deve continuar com as atividades de comercialização de diesel e gasolina para abastecimento nacional, constituindo uma cadeia de abastecimento mista.
Fonte: Com informações do jornal El Deber.