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Artistas falam sobre o amor durante o namoro e psicólogo contextualiza esse tipo de relacionamento

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Ágape (divino, incondicional), philia (próprio da amizade), eros (romântico, sexual). São apenas algumas das várias palavras com que se descrevia o amor na Grécia Antiga. “Encontro pela vida milhões de corpos; desses milhões posso desejar centenas; mas dessas centenas, amo apenas um”. Isso já é Roland Barthes (1915-1980) destilando o sentimento em um livro que se tornou um clássico sobre o assunto, “Fragmentos de Um Discurso Amoroso” (1977).

Saltando para a cidade de Campo Grande de hoje em dia, justamente na data brasileira em que se celebra o Dia dos Namorados, o psicólogo Henrique Henkin Coelho Netto busca aterrissar nas variantes possíveis da realidade a ebulição que se encerra na manifestação do afeto amoroso, a fervura de prazer e transtorno que não passa mesmo depois de quando se tem a idade dos hormônios à flor da pele. Adolescentes, adultos, idosos. Todos parecem ser vítimas de uma arriscada combustão à base de alegria e risco. A solidez ficaria para o casamento?

“Todo amor é válido e digno quando todas as pessoas envolvidas estiverem de acordo. Amar é ser quem se é, e deixar o outro ser quem ele é, é dar ao outro o que ele precisa dentro das minhas possibilidades. E se isso me aproxima dele, ótimo, se me afasta, faz parte dos meus critérios de escolha, e tudo bem”, pontua o psicólogo.

“O amor é um dos conceitos mais elaborados em toda a história da humanidade, desde a Grécia Antiga, até antes, se questionava as várias formas de amar”, afirma.

“Esse amor se apresentou na forma sensual, na amizade, no amor pela humanidade, o amor pelo conhecimento, entre tantos amores. Atualmente, o amor é apresentado como um ideal romântico, que também é válido, mas não único, a busca pela alma gêmea. Mas muitas vezes é romantizado, projetado no outro um ideal que não pode ser alcançado, criando uma forma distorcida de amor”, diz Henrique. Mas e o namoro?

“O namoro em si é esse primeiro limiar, aonde são estabelecidos os contratos iniciais da relação. Após um início de grande paixão, o casal e outras formas de se relacionar definem se esse parceiro faz sentido por inúmeros fatores, afetivos, de valores, ideais de vida, e cada relação tem uma forma específica de ver isso. O amor romântico é apenas uma forma de amar, que foi instituída há poucos séculos, e cada cultura estabeleceu formas diferentes de vivenciar esse amor”, desenvolve o especialista de 35 anos que atua há 15 anos.

“Na nossa sociedade ocidental, o ideal romântico de namoro ficou muito mais forte por ideais econômicos, nas datas, filmes, livros. Apesar disso, faz parte do que somos, e, mais do que uma crítica, diria que é uma compreensão de como vivemos, pois nada que é acolhido socialmente vem apenas de fora. Esse romantismo sempre esteve presente dentro da humanidade, vide os ideais românticos representados por tantos deuses e heróis de contos”, afirma.

O AMOR NO DIVÃ

“Nos meus trabalhos no consultório, tanto no individual como em grupos, o amor é uma temática constante, seja no amor de uma mãe, de um pai, de um irmão, amigo, como nas relações românticas”, conta Henrique.

“Eu diria que o amor é o grande tema da humanidade, pois ele é questionado constantemente, seja no amor pelo outro, romântico ou não, seja por si mesmo. O grande desafio da terapia é aprender a amar o outro sem esquecer de si mesmo, é olhar para seus desejos ao mesmo tempo que se relaciona, pois somos seres sociais, não há amor sem relação, independente de qual for”, reforça.

“Cada vez mais se questiona o que é o amor romântico, visto que nossa tão jovem sociedade vê qualquer forma de amor para além da relação de casal como um tabu. O amor é a entrega, aceitar o outro sem esquecer de si, é viver aquilo que se acredita, e nem sempre será adequado para a sociedade em que vivemos”, pondera o psicólogo, que fez graduação na UCDB e tem formação em psicodrama e análise junguiana.

“O grande desafio desse momento é compreender que o amor vai para muito além do ideal de casamento, de família ideal, não excluindo essas formas de amor, mas abrindo a mente para o que o ideal das pessoas que estão se relacionando vivem. O amor é tudo aquilo que o contrato relacional permitir ser”, conclui Henrique.

O especialista convida o leitor para o encontro público Amor/es – Uma Experiência para Pessoas que Amam, no dia 22, das 15h às 17h, na Associação Entre Nós. Mais informações: (67) 98185-3350.

AMOR DE NAMORO

“É o rompimento dos gestos, das palavras. Aquilo que existe entre o silêncio. Feito de matéria escorregadia. A busca contínua de achar palavras que sejam possíveis para dizer. Espaço sem sobreviventes, rompimento do tempo e da morte”.
Febraro de Oliveira, escritor.

“É o amor da descoberta, do desconhecimento, da curiosidade. O do impulso, da surpresa e das borboletas”.
Mariana Marques, cineasta.

“Pode ser um amor experimentado e vivido em um tempo limitado. Mas também pode ocorrer não apenas entre pessoas apaixonadas ou com quem estamos envolvidos romanticamente, mas convivendo em um estado de partilha, onde a gente vê aquela pessoa junto conosco, em tudo o que queremos fazer”. Salim Haqzan, ator e diretor de teatro.

“Amor de namoro é identificação, é química intelectual e física”.
Juci Ibanez, cantora.

“Quando a paixão e a admiração chegam num ponto de partilha crucial, a gente namora. Quando o amor não cabe só dentro do peito e você quer pedaços da pessoa encaixados no seu dia a dia e quer partilhar fragmentos da vida com quem se ama, sabe?”.
Marina Duarte, quadrinista.

PARA QUE SERVE

“Para que os poetas tenham sobre o que escrever, para que camisas sejam vendidas, para que chuteiras sejam trocadas, para que unhas sejam lixadas”.
Febraro.

“Serve para corar, ferver o sangue, derreter, exaltar e envolver”.
Mariana.

“Serve pra alma, pra nos sentirmos vivos de verdade. Serve também para o autoconhecimento, porque só podemos saber de nós mesmos através da relação com outra pessoa”.
Salim.

“Serve para suprir a necessidade da parceria, da boa companhia, da necessidade que temos de sermos par”.
Juci.

“Pra entrelaçar e mudar profundamente nosso íntimo. Tem a possibilidade desse encontro de almas ser lindo, ser profundo, ser raso, ser problemático. Mas nunca de ser o mesmo que foi antes. Então, pra mim, namorar tem a potência de nos moldar os olhos, o coração, a percepção de mundo. Pode perceber que, depois de um namoro, os objetos, as datas e lugares mudam totalmente de significado – talvez, depois de um namoro interrompido, uma simples árvore na via te faça chorar.

E acho que é sobre isso o amor de namoro: emprestar um pedaço nosso pra habitar a lembrança de alguém eternamente”.
Marina.

COMO FOI NA PRIMEIRA VEZ

“Foi a suspensão do nome, no escondido. Foi quando os gestos escondiam as palavras. Antes de ser palavra, amor eram apenas os gestos repetidos. Depois, por ser palavra, acabava escondendo-se nos rastros, nos destroços de uma civilização”.
Febraro.

“Foi num samba com os amigos, saindo mais uma vez juntos. Ele se aproximou e eu recuei. Queria manter a compostura, mas meu corpo não ia de encontro com minhas palavras. Ele não saía do meu campo de visão, ou de perto. E dançamos, bebemos e demos risada. E eu esperava que insistisse um pouco mais, dançava em um embalo arrependido no chorinho. Mas ele só permaneceu ali ao meu lado. E por alguns dias seguimos assim, até que num rompante urgente eu disse que o queria, e muito. E nunca mais ele saiu do meu lado”.
Mariana.

“Não consigo me lembrar da primeira vez que me senti atraído por alguém e me apaixonei. Me lembro de já aos 23 anos, namorando, não conseguia me imaginar vivendo longe daquela pessoa. Tudo parecia ter sentido apenas do lado dela. E uma vontade imensa de sair gritando pra todo mundo saber do amor que a gente sentia e vivia”.
Salim.

“O namoro mais importante que se tornou amor foi com meu marido. Amor incondicional, que perdoa, que entende, que não abandona, e que, como disse Vinicius, ‘seja infinito enquanto dure’”.
Juci.

“Sempre fui apaixonada por outras formas de ver o mundo e sorrisos que me viram do avesso. Por óbvio, daí que sou uma mulher namoradeira.
O que considero meu primeiro namoro foi com alguém que eu tinha profunda amizade, já era apaixonada por sua forma de viver a vida e nossa combinação. Eu era muito nova, vivi momentos divertidos dos quais nunca me esqueço – e desde sempre passei a entender que amar também é deixar ir e aceitar o que fica. Tenho em mim fragmentos de pessoas que me ensinaram, aos pouquinhos, às vezes com boas lembranças, às vezes não tão boas, como amar e como quero ser amada. E acho que namoro é isso”.
Marina.

Fonte:CE

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