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“Os produtores já esperam por preços melhores neste segundo semestre”

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Guilherme Bumlai 
Guilherme de Barros Costa Marques Bumlai é paulista, pecuarista, advogado formado pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB). Foi presidente da Associação Sul-Mato-Grossense Nelore-MS e diretor da Associação dos Criadores de Nelore do Brasil (ACNB). Foi membro do conselho da Acrissul de 2009 a 2022. Tornou-se presidente da Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul (Acrissul) em novembro de 2022.

 

O pecuarista Guilherme de Barros Costa Marques Bumlai  assumiu a presidência da Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul (Acrissul) em novembro de 2022 e já colhe alguns frutos da gestão. Paulista, Bumlai é advogado e já atuou em outras entidades do setor produtivo, além de fazer parte do conselho da Acrissul desde 2009.

Em entrevista com a reportagem ele destaca o retorno da Expogrande às origens, a feira que havia sido reduzida a festival de shows se consolida novamente como uma das grandes feiras de negócios rurais do País.  Em 2024, foram negociados mais de R$ 570 milhões durante a feira agropecuária de Campo Grande e conforme o pecuarista, o próximo ano deve gerar números ainda mais expressivos.

O presidente da Acrissul ainda destaca os desafios da pecuária sul-mato-grossense, fala sobre a  importância da abertura de novos mercados para exportação da carne bovina de MS para valorizar o mercado local.
Bumlai ainda discorre sobre  a variação dos preços da arroba do boi, custo de produção, sustentabilidade, perfil produtor do Estado e mais.

Confira a entrevista a seguir:

 

A Expogrande registrou mais de R$ 570 milhões em negócios nesta edição, acredita que estão no caminho para a feira voltar a ser uma das maiores do País?

Com os números apresentados, ela já se credencia para estar entre uma das maiores do País. Pelos negócios apresentados, pela quantidade de expositores de outros estados que participaram da Expogrande, pela quantidade de animais em julgamento, pela quantidade de leilões realizados e pela quantidade de público que visitou a feira durante os seus 11 dias. Tudo isso somado, já a coloca entre uma das maiores feiras do País.

Qual a importância dessa retomada da feira como ambiente de negócios, após alguns anos focada apenas em shows?

Essa retomada da feira como ambiente de negócio é de grande significado para a Acrissul, representa a retomada da tradição. A Expogrande é esse completo de atividades, são os leilões, julgamentos, palestras técnicas e também entretenimento. Os negócios são a coluna vertebral da economia do setor.

A Expogrande é um ambiente propício para isso. Durante a exposição concentram-se no Parque Laucídio Coelho setores tanto da oferta de produtos e serviços quanto da oferta de crédito, que conversam entre si e permitem essa dinamização dos negócios. Resultado disso é que os leilões registraram médias acima do mercado e vão servir de balizador de preços para os preços pós-feira.

Acredita que para o próximo ano já podemos esperar uma feira ainda maior?

Quando nós entramos numa linha ascendente, a expectativa é de permanecermos sempre em crescimento. Com os resultados e o sucesso obtidos esse ano, muitos que não puderam vir já demonstraram interesse em participar da Expogrande de 2025, inclusive já temos confirmado uma etapa nacional da raça nelore, alguns leilões que não aconteceram esse ano mas já ficou certo que serão realizados no ano que vem. A expectativa é que iremos fazer uma feira ainda maior em 2025.

Houve recentemente a abertura de negócios para a ampliação da exportação de carne de Mato Grosso do Sul para a China, você acredita que isso pode impulsionar a pecuária estadual?

Sem sombras de dúvidas, isso acaba melhorando o mercado local pelo aumento da demanda por carnes. Atualmente temos uma superoferta de animais prontos para abate e com uma demanda reduzida, principalmente pela queda no consumo de carne bovina.

Com essa possibilidade de exportação por novas plantas, abrem-se novos mercados consumidores e os produtores já esperam por preços melhores nesse segundo semestre.
Nos últimos três anos o produtor tem se deparado com preço baixo da arroba ante um custo elevado para produzir, como você acredita que é possível mudar esse cenário?

O pecuarista sul-mato-grossense tem feito a lição de casa, que é produzir carne de forma sustentável e de qualidade. O mercado, entretanto, baseia-se numa regra fundamental de oferta e procura, o que deixa o produto à mercê de variáveis que não dependem da vontade do produtor.

A Acrissul, juntamente a outras entidades vêm fazendo campanhas para incentivar o consumidor a pesquisar por preços melhores antes de comprar carne, aumentando assim a quantidade comprada  e consequentemente o consumo.

O mercado é globalizado e a carne brasileira está chegando cada vez mais a novos países pelo mundo. Acreditamos que o embarque para novos destinos tornará nossa carne mais competitiva e mais valorizado no mercado, inclusive o doméstico. Em relação aos altos custos, a saída é qualificar cada vez mais o produtor em gestão da propriedade e no uso de novas tecnologias.

 

A produção pecuária reduziu bastante nos últimos anos, somente de 2018 para 2022 foi de 20,8 milhões de cabeças para 18,4 milhões de cabeças de gado. Mato Grosso do Sul que já figurou como maior rebanho do Brasil hoje é o quinto, por que houve essa mudança?

Essa diminuição no rebanho é um fenômeno que se iniciou há mais de uma década, com a introdução de atividades agrícolas mais interessantes para o produtor, como a cana-de-açúcar e a silvicultura, e que tornaram o Estado um dos maiores produtores do País de açúcar, etanol e celulose.

A região da Costa Leste de MS, por exemplo, teve sua matriz econômica radicalmente transformada da pecuária para a produção de eucaliptos. A própria produção de grãos cresceu consideravelmente em área plantada e tudo isso tomou terras ocupadas tradicionalmente pela pecuária.

Mato Grosso do Sul atualmente ocupa o quinto lugar no ranking nacional da produção de grãos. Com isso, o gado foi ocupando áreas específicas, como o Pantanal, e deixando essas áreas antes ocupadas só pela pecuária.

 

Há alguma intenção de o Estado voltar a estar no topo dos maiores produtores ou o foco hoje  está mais na qualidade dos animais produzidos? 

Mais importante que estar no topo é ter uma carne de qualidade e buscarmos a valorização desse produto. O Mato Grosso do Sul tem reconhecidamente uma das melhores carnes do Brasil e precisamos buscar uma melhor remuneração por essa qualidade.

Com os avanços das tecnologias de nutrição, reprodução, sanidade e manejo, o Mato Grosso do Sul reduziu drasticamente o tempo médio de abate de gado gordo. A introdução do programa de produção de novilho precoce, por exemplo, trouxe uma nova perspectiva para o mercado, tornando o MS também referência nesse segmento, sendo copiado por vários outros estados.

Com a redução do tempo de abate, os custos também foram reduzidos, melhorando também a taxa de lotação do rebanho nos pastos, além de o pecuarista receber incentivos fiscais para tanto.

Acredita que a pecuária de Mato Grosso do Sul está em consonância com a meta de se tornar um Estado cada vez mais sustentável?

A pecuária está muito alinhada em relação a esse tema, vide a questão da preservação do Pantanal, onde a pecuária convive em harmonia com o ecossistema há mais de 300 anos e o bioma mantém-se quase 84% preservado. Isso mostra que o pecuarista está preocupado com a sustentabilidade de sua produção.

Outro fator que merece ser destacado é que estamos caminhando para a remuneração pela prestação desses serviços ambientais. A hora que isso tornar-se definitivo o produtor será de fato recompensado por essa preservação que tornou o Mato Grosso do Sul uma referência em nível de Brasil.

Vale ressaltar, finalmente, que um estudo realizado pela Associação Rede Integração Lavoura – Pecuária-Floresta ( ILPF) constatou que Mato Grosso do Sul é o Estado com maior área destinada aos sistemas integrados na produção agropecuária.

São mais de 3 milhões de hectares com Integração-Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) em diferentes configurações, mesclando dois ou três componentes de cultura no sistema produtivo. Isso permitiu, inclusive, que o Estado esteja na vanguarda do conceito de carne carbono neutro, que é aquela produzida com emissões cada vez mais baixas de carbono.

Meta estabelecida pelo governo estadual é de até 2030 o Mato Grosso do Sul será um território reconhecido internacional como carbono neutro, não só na pecuária.

 

Fonte:CE

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