A ‘Casa Boiadeira’ guarda um pedaço de todos os lugares que Pedro Braga Ribeiro, de 26 anos, visitou nas andanças pelo Brasil. A simplicidade é o que traz beleza para o lar cercado por natureza, araras, tamanduás-bandeira, antas e por uma vaca chamada Beyoncé.
O artista mora em Bonito, a 297 km de Campo Grande, onde nasceu e viveu até os 17 anos. Com essa idade, Pedro veio cursar Direito na Capital onde ficou por seis anos até mudar bruscamente de vida durante a pandemia. Esse período marcou o início das viagens pelo Brasil, que foram essenciais para a criação da Casa Boiadeira.
Ao perceber que não gostava da rotina que levava, o bonitense largou tudo. “Peguei uma carona de Bonito até São Paulo pra ir atrás do meu sonho. Depois fiquei 1 ano e meio na estrada, viajando com uma mochila nas costas”, diz. Enquanto viajava, fez trabalhos voluntários do litoral de São Paulo a Salvador. Durante o trajeto, ele aproveitou e ‘deu um pulo’ em Minas Gerais.
A fase foi marcada por aprendizados, o artista se abriu para outras culturas, ideologias e formas de levar a vida. Com essa ‘bagagem’ retornou a Bonito em março de 2023 para realizar um sonho antigo: a Casa Boiadeira. Ele explica que precisou recuperar praticamente do zero a casa que pertence à família.
“O terreno estava largado por mais de 5 anos, todo podre e cheio de mato. Encarei tudo aquilo de frente, coloquei uma enxada na mão, música no último, muito amor e determinação para fazer daquela área o meu lar”, fala.
O processo levou cinco meses para que o imóvel, nas palavras dele, se tornasse habitável. Com o apoio de amigos e familiares, o bonitense transformou o espaço em algo realmente único. “Minha casa tem hoje um pouco de cada lugar que passei enquanto estava na estrada. Tem um pouco de São Paulo, um pouco do Rio de Janeiro, um pouco de Minas Gerais, um pouco de Espírito Santo e muito da Bahia”, afirma.
O rosa que marca a fachada do lar, por exemplo, representa uma promessa que Pedro fez durante a passagem pelo Espírito Santo. No trem, ele conheceu uma senhora, que naquele mesmo dia o recebeu em casa já que ele iria dormir na estação.
“Era um barraco simples, decoração singela e móveis catados na rua, assim como a tinta que ela pintou em todas as paredes da casa: rosa. Passei duas semanas morando com Raquel na sua casa rosa e prometi à ela que quando tivesse minha casa também seria rosa”, conta.
A decoração da casa é composta por peças doadas por amigos e reaproveitadas pelo artista que as coleta nas ruas e durante trilhas. Ele dá detalhes de outros itens decorativos que são frutos da temporada nas estradas do País. “Tenho conchas, algas e patinhas de caranguejo que estraga na praia e as famosas fitinhas do senhor do Bonfim que são meu amuleto na chave de casa”, cita.
Na área interna da casa, os ambientes são marcados pelo encontro das tintas azul e rosa na parede e o verde vibrante da porta. Próximo a entrada principal se vê o retrato de uma mulher. “É a minha mãe, fiz uma colagem com esse retrato dela aos 15 anos de idade”, diz.
A sala e a cozinha são praticamente uma só, mas em cada cantinho tem ponto de cor. A mesa azul turquesa, a espada de São Jorge, o armário de madeira, a cortina da pia de cozinha com desenho de tucanos, chapéus que viraram lustres, o ‘altar’ para Rita Lee cercado por pedrinhas que simboliza cidades visitadas são detalhes que enriquecem a Casa Boiadeira.
Na sala, próximo a porta de madeira que divide esse ambiente do quarto, Pedro pendurou uma camisa. “A camisa florida na parede é a que usava sempre que chegava em uma nova cidade. Ela sempre me deu boa sorte e agora virou uma lembrança da minha viagem”, destaca.
Saindo de casa, a natureza mostra toda sua potência na fauna e na flora. Na área externa, o artista colocou mesa para receber os amigos, balanço de macramê e estofados. Apesar da sombra natural formada pelas árvores, como a grandiosa seriguela, Pedro improvisou com tecidos uma espécie de tenda.
A Casa Boiadeira está sempre aberta para amigos e visitantes do bonitense. Ele comenta que o espaço tem possibilitado momentos únicos para muita gente. “Recebi em outubro um holandês que veio diretamente do Japão me visitar. Ele avistou pela primeira vez uma anta e um tamanduá. Em dezembro recebi um amigo da Bahia que ficou acampando no meu quintal”, relata.
Se depender dele, a Casa Boiadeira seguirá sendo espaços de encontros. “Onde hoje é minha casa, estou trabalhando pra que vire, em breve, o Espaço Cultural Casa Boiadeira. Quero trazer o movimento da estrada pra dentro da minha casa, cultura, cores, músicas, gingado e muito axé pro MS”, frisa.
Vivendo no paraíso – Pedro tem uma relação especial com a cidade onde se sente em contato direto com o divino. A casa, que fica a 1km do centro de Bonito, é um pedaço de paraíso que ele desfruta dia a dia como o banho no Rio Formoso que é sagrado.
Apesar de estar em sintonia com o lugar que escolheu viver, o artista vê que o cenário que o cerca pode mudar em breve. “Toda essa área de fauna e flora atrás da minha casa está sendo desmatada para virar um condomínio. Os animais que passam ali diariamente estão sendo expulsos de onde sempre viveram e isso me deixou bem pra baixo. Mostrar essa área e toda essa vida existente antes que isso acabe de vez é muito importante”, pontua.
No fim, o bonitense aproveita para falar sobre a força que a Casa Boiadeira tem e que isso ele não troca por requinte nenhum nessa vida.
“Minha essência é a natureza e preciso dela pra viver. Não me deslumbro com cidades grandes e luxos, mas sim com a imensidão e força do universo e tudo de natural que existe nele. O privilégio de morar aqui me faz querer que todos que me querem bem tenham a possibilidade de conhecer essa terra”, finaliza.
Fonte:CGN