Poucas vezes a imagem do grande produtor rural brasileiro foi tão avacalhada na televisão quanto em Terra e Paixão, novela das 21h da Rede Globo. Ele é apresentado pelos autores do folhetim, Walcyr Carrasco e Thelma Guedes, como mandante de assassinato, grileiro, ganancioso, adúltero, machista, misógino, trapaceiro.
Em síntese, no enredo de Carrasco e Thelma, o grande produtor rural é um sujeito desumano e violento que tenta impor suas vontades na base da truculência, ignorando as leis e o Estado Democrático de Direito.
Se de um lado Terra e Paixão mostra um encantamento com o emprego crescente da tecnologia nas lavouras brasileiras, num desavergonhado merchandising destinado a impulsionar a venda de máquinas e implementos agrícolas de última geração, de outro desanca a figura do grande produtor rural, justamente o principal comprador do maquinário promovido pelo folhetim.
Que a ficção de Carrasco e Thelma exagere nas tintas na descrição do grande produtor rural, não chega a surpreender. Afinal, o folhetim visa principalmente ampliar a audiência para atrair mais e mais anunciantes para a Globo. Para tanto, vale tudo, inclusive enxovalhar a imagem do grande produtor de alimentos e um dos principais responsáveis pela trajetória exitosa da agropecuária brasileira nas últimas décadas.
O que surpreende mesmo é a passividade das instituições representativas dos produtores rurais diante do ataque à imagem do grande produtor rural promovido pela novela das 21h da Rede Globo.
Dias atrás, a FPA (Frente Parlamentar da Agropecuária), a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) e a Abag (Associação Brasileira do Agronegócio), entre outras entidades representativas do setor, reagiram à prova do ENEM deste ano, alegando que algumas questões tinham “cunho ideológico” e traziam “desinformação” sobre a atividade agropecuária.
No ar desde 8 de maio deste ano, Terra e Paixão parece ter salvo-conduto das representações do setor rural para esculhambar a imagem do grande produtor rural. Não há qualquer questionamento ou contestação ao folhetim da rede de TV que em outros momentos da sua programação diz que o agro é tech, o agro é pop, o agro é tudo.
No entanto, há um enorme incômodo entre muitos produtores com o enredo da novela da Globo e com o silêncio de suas representações. Entre eles, o clima não está pra plim, plim.
Fonte: Agroemdia