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Meses após ser solto, maníaco sexual voltou a cometer crimes

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No mesmo ano em que retornou às ruas, José Carlos Santana, conhecido como Maníaco do Parque, voltou a praticar crimes de estupro e importunação sexual em Campo Grande. Ele conseguiu a liberdade novamente em 2021, com a progressão da pena. Uma das atuais vítimas, que reconheceu o homem na tarde de ontem, relata que foi abusada em 16 de junho de 2021.

Na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), a vítima, de 41 anos, e outras mulheres reconheceram Santana como autor de crimes sexuais e tentativa praticada contra elas em 2021. De acordo com a Deam, pelo menos cinco mulheres foram vítimas do Maníaco do Parque desde o momento de sua soltura.

Santana teve a sua primeira prisão efetuada em 2007, quando foi acusado de estuprar mais de 10 mulheres em Campo Grande, no Parque das Nações Indígenas. Ele foi condenado a 34 anos de prisão em regime fechado pela série de abusos cometidos.

O cumprimento da pena foi feito no Instituto Penal de Campo Grande (IPCG) e, após cumprir menos da metade da punição, conseguiu a progressão da pena e foi solto, em 2021.

Durante o período preso, ele foi o segundo detento a conseguir se formar no Ensino Superior no Estado, concluindo o curso de Processos Gerenciais em uma faculdade particular.

Além da graduação, o preso também concluiu uma pós-graduação em Coaching e Liderança. Santana também é acusado de praticar crimes sexuais contra duas meninas na Espanha, antes de vir a Campo Grande, para não ser preso em outro país.

Dois anos após a sua soltura, o Maníaco do Parque retorna à prisão após a deflagração da Operação Incubus, da Deam, que cumpriu quatro mandados de prisão, entre eles o de Santana, na tarde de segunda-feira, em Terenos. A informação repassada para a polícia é de que ele trabalhava como motorista de aplicativo e usava cadastro próprio.

NOVOS CRIMES

Em 16 de junho de 2021, a vítima, então com 40 anos, relata ao Correio do Estado que estava na região do Bairro Tijuca, quando foi abordada violentamente pelo homem. Santana a teria arrastado para um local de mata e, mesmo com apelos da mulher pela sua vida e de seu filho, já que estava grávida, o homem seguiu com o abuso.

Momentos após iniciar atos libidinosos contra a vontade da mulher, a vítima relata que Santana pegou um preservativo para concluir o abuso sexual e nesse momento a vítima o confrontou e ele desistiu de seguir o ato adiante.

A mulher relata que após o ocorrido foi à Deam para prestar queixa e desde então esperava que o abusador fosse encontrado. A vítima passou por atendimento psicológico e informa que o seu filho nasceu saudável.

“[O meu filho] É a razão da minha vida, mas antes de ele nascer eu sofri bastante, não queria ficar no escuro, quando ia tomar banho, só saía chorando do banheiro, não queria beber água, não queria ficar sozinha, eu tinha medo de tudo, até hoje eu tenho”, relata.

Entre os casos mais recentes, uma adolescente de 17 anos informa que conseguiu fugir da abordagem após notar que estava sendo perseguida pelo homem e parar na casa do tio, que abrigou a jovem.

Uma das delegadas responsáveis pelo caso, Analu Lacerda Ferraz aponta que as imagens dessa tentativa de estupro foram cruciais para o esclarecimento do caso, pois mostravam nitidamente o rosto do acusado.

“Ele fingia que estava falando no celular, abordava as vítimas fazendo menção que estava armado e cometia o crime”, esclarece a delegada a respeito do modo de ação do acusado, que também costumava agir nos primeiros horários da manhã, escolhendo suas vítimas aleatoriamente.

Um dos casos que colaborou para as investigações aconteceu no dia 22 de setembro, em uma das avenidas mais movimentadas da Capital, a Afonso Pena.

A vítima, de 20 anos, relata ao Correio do Estado que estava andando com fone de ouvido e só percebeu que o homem estava a perseguindo quando ele a abordou e a ameaçou.

A vítima relata que o homem obrigou-a entrar no carro, local em que praticou o crime sexual e agrediu a jovem.

“Depois, ele disse que não era para eu denunciar para a polícia, porque ele ia saber e sabia onde eu morava e ia atrás da minha família, depois abriu a porta do carro e mandou eu sair de olho fechado, então eu saí andando em choque, sem olhar para trás”, aponta.

A tia da vítima teme que ele consiga liberdade novamente, por já ter praticado o mesmo tipo de crime anos atrás.

“Ele acabou com a vida da minha sobrinha de 20 anos, começando a vida agora, uma menina muito pacata, fechada, tímida, e não feriu só ela, eu, como tia, a minha irmã, ele feriu a nossa família. A gente pede que a justiça seja feita e que faça valer, e não que vá lá, pague advogado e coloque ele na rua”.

A jovem fez o boletim de ocorrência mesmo após a ameaça e a equipe da Deam conseguiu as imagens de monitoramento urbano, que ajudaram a identificar o autor, sendo possível constatar o momento em que Santana coloca a mulher no carro.

ESPECIALISTA

A psicóloga especialista em Avaliação e Diagnóstico Psicológico e pesquisadora de gênero e crimes violentos Giovanna Loubet Ávila informa que, apesar do primeiro intuito de classificar as pessoas que cometem esse tipo de crime como psicologicamente doentes, não há relação direta de psicopatologia.

“Se fosse uma questão psicopatológica, se qualquer psicopatologia pudesse causar isso, nós teríamos um número próximo de mulheres e homens na autoria de crimes desse tipo”, questiona a profissional.

Giovanna aponta que, de uma perspectiva acadêmica, nem todo caso de um autor de crime em série estará ligado a uma psicopatologia, mas, na maioria dos casos, está relacionado à forma como a sociedade se organiza, que favorece com que esses homens se sintam à vontade para cometer esses tipos de crimes.

“Não só crimes sexuais, mas crimes contra a pessoa. Temos homens liderando, com mais de 95% das estatísticas desse tipo de violência. É uma questão de gênero, não de psicopatologia”, informa.

Para que esse tipo de crime deixe de ser tão comum e reincidente na nossa sociedade, a pesquisadora sugere que é mais eficaz prevenir, combatendo a cultura do estupro, que coloca o poder irracional e centralizado em uma masculinidade abusiva.

 

Fonte:CE

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