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Peixes morrem e agonizam por falta de oxigênio no Pantanal

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Inúmeros peixes e arraias estão morrendo às margens dos rios no Pantanal de Mato Grosso do Sul, em Corumbá. As mortes são em razão do fenômeno natural chamado de decoada, que é quando o nível de oxigênio nos rios diminui. Fotógrafos e moradores da região flagraram inúmeros animais mortos.

Na tentativa de sobreviver a falta de oxigênio, peixes e outros animais buscam a superfície dos rios e se amontam aos milhares próximo às margens dos rios, como o Paraguai. De acordo com especialistas, a decoada neste ano pode ser mais intensa, em razão das queimadas e secas que o Pantanal enfrentou nos últimos anos.

Em uma das idas a campo para fotografar a vida selvagem pantaneira, o fotógrafo e militar da Marinha Guilherme Ambrosio se deparou com a cena real da decoada. A agonia e o impacto foi imediato ao ver os animais aquáticos lutando pela vida, como o fotógrafo relembra.

“Causa um espanto, você vê os animais em uma situação de vulnerabilidade, tentando sobreviver. Os peixes lutam pela sobrevivência, tentando respirar fora da água, já que dentro da água não tem mais oxigênio. Vimos peixes de vários tipos, animais lutando para viver”, relata o fotógrafo.

Durante o percurso, no Porto da Manga, no Pantanal de Mato Grosso do Sul, Guilherme viu peixes de diversas espécies lutando pela vida. “Tinha peixes de todos os tamanhos e espécies. Dourado, Armal, Pintada e muitos outros. Os grandes, alguns vivos, se acumulavam buscando oxigênio. Os peixes pequenos já estavam mortos, todos acumulados. A quantidade de peixe pequeno amontoado é incontável”.

Queimadas podem ter influenciado no processo de decoada deste ano.  — Foto: Guilherme Ambrosio/Arquivo Pessoal
Queimadas podem ter influenciado no processo de decoada deste ano. — Foto: Guilherme Ambrosio/Arquivo Pessoal

“Uma situação impactante, vi animais em agonia. Mexe muito com as pessoas. Apesar de tudo, quando estudamos o fenômeno, começamos a refletir que é um processo natural e necessário. As coisas estão voltando como era. Se temos a decoada, temos a cheia. Um mau, mas menor”, explica o fotógrafo Guilherme Ambrosio.

A decoada

Peixes se acumulam às margens do rio em busca de oxigênio.  — Foto: Guilherme Ambrosio/Arquivo Pessoal
Peixes se acumulam às margens do rio em busca de oxigênio. — Foto: Guilherme Ambrosio/Arquivo Pessoal

A decoada é um fenômeno natural do Pantanal. O momento é marcado pela diminuição do nível de oxigênio na água por conta da decomposição da vegetação nativa durante o período de cheia dos rios e alagamento da planície.

Como o Pantanal vive dois períodos muitos distintos, o de seca e o de cheia, quando os rios encobrem os campos, o número de matéria orgânica aumenta de forma significativa nos rios. Com isso, o nível de oxigênio diminui e os animais aquáticos passam a lutar por ar.

O especialista em ictiologia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Fernando Carvalho, explica que este fenômeno acontece no período de subida das águas dos rios do Pantanal.

Centenas de animais morreram neste processo natural.  — Foto: Guilherme Ambrosio/Arquivo Pessoal
Centenas de animais morreram neste processo natural. — Foto: Guilherme Ambrosio/Arquivo Pessoal

De acordo com Carvalho, a decoada é um fenômeno natural que ocorre quando as águas dos rios do Pantanal extravasam para as áreas da planície que secaram durante a estação seca e agora, na estação chuvosa, estão com muita vegetação e matéria orgânica.

“Quando a água da calha dos rios entra na planície, processos de oxidação nesta matéria orgânica deixam as águas com pouco oxigênio dissolvido (condição de hipóxia) ou mesmo sem oxigênio (condição de anóxia), além de elevar os níveis de concentração de gás carbônico na água”, explicou Carvalho.

Há mais de três anos que o Pantanal não vivia o ciclo de cheia. A superfície de água aumentou no Pantanal, em 2022, de acordo com levantamento do MapBiomas. Mesmo com um pequeno alívio na régua de medição, o atual número segue na parte negativa e a seca ainda preocupa especialistas.

Arraia buscando oxigênio às margens do Rio Paraguai.  — Foto: Guilherme Ambrosio/Arquivo Pessoal
Arraia buscando oxigênio às margens do Rio Paraguai. — Foto: Guilherme Ambrosio/Arquivo Pessoal

Ainda com muito sedimentos das queimadas nos campos, as águas levaram os resquícios para os rios. Alguns especialistas alertam para a quantidade de morte diferenciada neste ano.

“Quando rio vai enchendo, vai lavando a planície, levando muita matéria orgânica para as baias ou para os canais e isso faz com que as bactérias trabalhem em uma decomposição, retirando o oxigênio da água, elevando o dióxido de carbono e mudando o PH daquele rio”, explica a pesquisadora da Embrapa Pantanal, Márcia de Oliveira.

Fiscalização nos rios

Mortes de peixes no Pantanal.  — Foto: Guilherme Ambrosio/Arquivo Pessoal
Mortes de peixes no Pantanal. — Foto: Guilherme Ambrosio/Arquivo Pessoal

Apesar de ser um fenômeno natural, a Polícia Militar Ambiental (PMA) aponta que acompanha de perto a situação para evitar a pesca predatória, já que muitos peixes conseguem sobreviver a esse período, a medida que a correnteza promove uma espécie de autodepuração da água.

Ainda segundo a PMA, os peixes que morrem durante a decoada entram na cadeia alimentar do bioma, servindo de alimento para outros peixes, bem como aves, répteis e mamíferos.

A PMA e a pesquisadora orientam que ribeirinhos e a população não se aproximem das áreas onde os peixes e outros animais se concentram, já que podem ocorrer acidentes. O Corpo de Bombeiros de Corumbá, por exemplo, tem recebido ocorrências de pessoas feridas por arraias, na região do Porto Geral, espaço tradicional para banho e pesca na cidade, em razão da aglomeração de peixes provocada pela decoada.

A régua de medição do nível do rio Paraguai instalada em Ladário, cidade vizinha Corumbá, aponta que o nível da água atingiu a marcação nesta quarta-feira de 3 metros e 23 centímetros.

 

Fonte:G1ms

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