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Mesmo com chuva recorde, Pantanal não deve ter super cheia

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O que não chovia em regiões do Pantanal, tanto em Mato Grosso como em Mato Grosso do Sul, desde 2021 voltou a ser registrado nos dois primeiros meses deste ano. Um indicativo de que o período alarmante de seca pode estar sendo superado.

Contudo, especialistas apontam que vai ser necessária uma continuidade de chuvas intensas para que as planícies pantaneiras voltem a registrar supercheias.

O último registro foi em 2018, depois de cinco anos de chuvas intensas, com o nível do rio registrado no patamar de 5,35 metros.

As afirmações sobre fim da estiagem e sobre alagamentos extensos para o bioma não são certezas, pois o clima tem se mostrado alterado e nem todas as tendências do passado acabam sendo confirmadas.

O que é possível garantir, por enquanto, é que os registros de chuva vêm aumentando.

A Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) mantém estações espalhadas pelo Pantanal para conseguir medir o índice pluviométrico e subsidiar pesquisadores de diferentes instituições para monitorar a condição não só do Rio Paraguai, mas de afluentes desde Mato Grosso até Porto Murtinho.

Entre janeiro e fevereiro, a medição em sete estações indicou acumulado de mais de 1,9 mil milímetros de chuva. Índice semelhante só ocorreu em 2019, no mesmo período.

No ano passado, o volume pluviométrico acumulado nas estações de Poconé (MT), Corumbá (MS), Ladário (MS), Porto Esperança (Corumbá), Miranda (MS), Aquidauana (MS) e Porto Murtinho (MS) representou o menor registrado em 10 anos, 893 mm – cerca de 121% menor do que o registrado até agora neste ano.

O que especialistas apontam que é necessário salientar na análise de dados referente ao ciclo de cheia do Pantanal é que o bioma tem características muito particulares em cada uma de suas 11 sub-regiões (Cáceres, Poconé, Barão de Melgaço, Paraguai, Paiaguás, Nhecolândia, Abobral, Aquidauana, Miranda, Nabileque e Porto Murtinho).

O curso da principal veia do bioma é o Rio Paraguai, que depende de seus afluentes para ser alimentado e ter o nível elevado.

BOLETIM

Na última semana, por exemplo, o boletim de monitoramento hidrológico da bacia do Rio Paraguai, elaborado pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM), destacou como a região de Cáceres deve se comportar. Como ela está na nascente, seu volume vai influenciar diretamente na planície.

“Com as precipitações previstas para as próximas semanas, os modelos indicam tendência de elevação do nível d’água nas estações monitoradas (Cáceres, Ladário, Forte Coimbra e Porto Murtinho). Em Cáceres, a previsão indica uma descida nos próximos sete dias, seguida de novas elevações após o início de março, enquanto nas outras estações a previsão é de continuidade de uma subida contínua e gradual”, indicaram os pesquisadores Marcus Suassuna Santos, Marcelo Parente Henriques e Artur José Soares Matos, do SGB-

CPRM.

Outro critério levado em consideração é o nível do Rio Paraguai. Até ontem, no 6º Comando do Distrito Naval, em Ladário, o nível estava em 1,91 m.

Essa medida é tomada como referência porque tem peso econômico na movimentação da hidrovia, pois é a partir de Corumbá e Ladário que ocorre o transporte de minério de ferro, além de movimentação de cargas com a Bolívia. No ano passado, esse nível só foi alcançado no dia 7 de abril.

Mesmo com esses indicativos, os dados sinalizam que para ocorrer uma supercheia é necessário um volume de água muito grande durante alguns anos.

Isso ocorreu, por exemplo, entre 2014 e 2018. Nesse intervalo, caiu mais de 11,7 mil mm de chuva em sete estações mantidas pela ANA. Na sequência, os picos não foram menores do que 1,2 mil mm entre janeiro e fevereiro.

Analisando a situação do Rio Paraguai a partir de um contexto mais amplo, o diretor-executivo do Instituto SOS Pantanal, Felipe Augusto Dias, disse anteriormente ao Correio do Estado que a continuidade da chuva ao longo de anos é o que garante a cheia.

“Penso que, se as chuvas ocorrerem em volumes normais, a inundação acontecerá. Isso considerando que o volume do Rio Paraguai fique próximo da normalidade no início das chuvas [o que ocorre em janeiro de cada ano]”, observou.

O Instituto SOS Pantanal integra o Observatório Pantanal, rede com mais de 40 organizações socioambientais que atuam na Bacia do Alto Pantanal no Brasil, na Bolívia e no Paraguai.

CICLO RETOMADO

O pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Carlos Roberto Padovani indicou que as cheias dependiam de o volume de chuva voltar a patamares anteriores a 2020. Neste ano, esse ciclo começou a ser retomado.

“A relação do nível dos rios com o volume de chuvas nas terras é bem conhecida. Seria necessário que os volumes de chuva na porção de planalto da bacia, ao norte, voltassem aos valores observados antes do período de estiagem, que começou em 2020”.

Neste ano, o fenômeno La Niña, que causava uma maior estiagem no período do verão, está perdendo força.

O fenômeno El Niño costuma trazer maiores volumes de chuva. A Zona de Convergência do Atlântico Sul registrada em janeiro foi responsável por trazer maior índice pluviométrico.

Fonte:CE

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