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Serra do Amolar é modelo de ações contra o fogo e uso da tecnologia

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Enquanto há dois anos o Pantanal ocupava a atenção nacional e internacional principalmente por conta dos incêndios que consumiram em torno de 26% do bioma, o ano de 2022 está servindo para apontar como houve a recuperação e o que está sendo feito para evitar novas tragédias, e um dos exemplos é a Serra do Amolar.

A exposição grande do bioma tem, em partes, contribuição do remake da novela Pantanal, que agora está sendo exibido pela Globo e que, na última semana de junho, mostrou cenas reais dos incêndios de 2022.

Além da novela, existem medidas técnicas modernas de prevenção e combate ao fogo, que também estão em implantação ou já foram promovidas, e que representam avanços alcançados em dois anos e que não tinham sido obtidos antes, ao longo de décadas, talvez pela falta de um impacto tão grande que a estiagem severa e o fogo têm causado desde 2019.

A seca prolongada que o Pantanal vivenciou anteriormente ocorreu na década de 1970, mas sem os mesmos danos ambientais atualmente presenciados.

Esse assunto tratado aqui é parte integrante de uma série que o Correio do Estado começa a publicar sobre o Pantanal. Este trabalho jornalístico corresponde a uma composição única que vai concentrar e contextualizar outras reportagens que o jornal vem publicando desde 2020 para mostrar qual é a realidade que se encontra o bioma e perspectivas de futuro.

Como o Pantanal é formado por 11 sub-regiões (Mato Grosso 35% e Mato Grosso do Sul 65%), afetadas de formas diferentes pelos danos ambientais que o fogo gera, onde tem ocorrido um empenho maior de medidas de proteção nos dois últimos anos é na região da Serra do Amolar.

Essa área, que divide espaço com o Parque Nacional do Pantanal (em MT), tem recebido diferentes investimentos e atenções por se tratar ainda de local selvagem dentro do bioma, além de ter uma função fundamental para a continuidade da produção de água que vai abastecer o restante do Rio Paraguai e desdobrar em alagamentos em várias partes da planície até Porto Murtinho, Miranda, Aquidauana e Coxim.

Além disso, a cadeia de montanhas de 80 km de extensão que compõe a Serra do Amolar até tem propriedades particulares, mas praticamente estão inseridas em sistema de gestão para proteção ambiental.

Além do vizinho Parque Nacional do Pantanal, sob gestão do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), onde não é permitida a criação de gado, bem como a pesca não está liberada, as áreas que formam a serra hoje compreendem reservas particulares do patrimônio natural (RPPNs).

Nessa área, são quatro RPPNs: Penha, Acurizal, Dorochê e Rumo Oeste.

Atualmente, é o Instituto Homem Pantaneiro (IHP), que tem sede em Corumbá, que realiza a gestão de 77.696 hectares e direciona suas ações para preservação ambiental.

São as áreas de São Gonçalo, Santa Rosa e Serra Negra sob essa administração, além da copropriedade da RPPN Engenheiro Eliezer Batista e as fazendas Vale do Paraíso e Morro Alegre e quatro RPPNs (Penha, Acurizal, Dorochê e Rumo Oeste).

Parte desses locais, que fazem vizinhança com comunidades ribeirinhas e propriedades rurais particulares de grande extensão, foram atingidos pelo fogo de 2020. Áreas tradicionalmente alagadas ficaram secas na época, e vasto material orgânico contribuiu para o avanço do fogo.

O acesso nessa região é difícil, são cerca de 5 horas de viagem em barcos chamados voadoras ou cerca de 1 hora de viagem em aviões de pequeno porte – não existe pista de pouso para grandes estruturas. Essa condição dificultou, e muito, que houvesse combate às chamas. E sequer havia monitoramento, porque sinal de internet e outras tecnologias não haviam chegado por lá.

Com o fogo de 2020, houve uma mudança profunda de visão para monitorar esse patrimônio.

INOVAÇÃO

Enquanto nenhuma tecnologia existia até ano retrasado, a partir de 2021, com um investimento de R$ 8,5 milhões feito pela JBS e que envolveu parceiros, houve a instalação de câmeras e sistema de inteligência artificial que pode identificar focos de calor e acionar a qualquer momento, 24 horas por dia, brigadas e autoridades, como os Bombeiros.

A empresa responsável por implantar as cinco câmeras já em operação – com previsão de ampliar o serviço para dezenas nos próximos anos – apontou que houve uma “revolução” em termos de tecnologia de monitoramento ambiental, e o projeto piloto foi com a Serra do Amolar.

“Foi algo diferente, foi um desafio, mas foi possível. Essas áreas precisam ser protegidas. Em propriedades particulares, há brigadas e outras estruturas. Em áreas de reserva e mais remotas, normalmente só as brigadas voluntárias que atendem. Quanto mais rápido a informação for repassada de um fogo, melhor o tempo de resposta. Outros parques vão poder receber essa mesma estrutura com base no que reproduzimos aqui”, explicou Osmar Bambini, CEO da empresa.

O diretor-presidente do IHP, Ângelo Rabelo, coronel reformado da Polícia Militar Ambiental, que atuou na década de 1980 contra os traficantes de couro de jacaré no Pantanal, sitou que haverá mais avanços e a prevenção de catástrofes será efetiva a partir de agora.

“Este momento é revolucionário no bioma. Sem tecnologias como essa, o combate [ao fogo] é quase sem sucesso. O compromisso de preservação da reserva vai ser garantido”, indicou Rabelo.

TURISMO DE PROTEÇÃO

Tornar a região Serra do Amolar mais conhecida, principalmente por meio do turismo, é uma outra estratégia que está sendo implantada. Por meio do ecoturismo, a possibilidade de pessoas do Brasil descobrirem como é essa localidade e o Pantanal é uma medida também de proteção.

“Acreditando no ecoturismo como ferramenta de sustentabilidade. Em 2016, o

Instituto Homem Pantaneiro iniciou um projeto de visitas às áreas protegidas sob sua gestão na Serra do Amolar. Os núcleos dão acesso a trilhas, morros, mirantes, baías, corixos e toda biodiversidade contida em suas áreas protegidas e plenamente conservadas”, detalhou o IHP, em nota.

“Entre as atividades oferecidas estão caminhadas, visitas às comunidades ribeirinhas, expedições de barcos no Rio Paraguai e em baías próximas e a visita ao Parque Nacional do Pantanal”, completou.

Nesse projeto, a Fundação de Turismo de Mato Grosso do Sul e o Sebrae/MS estão também envolvidos.

A Serra do Amolar tem belezas próprias que ainda são pouco exploradas de forma econômica. A cadeia de montanhas, distante cerca de 900 km da Cordilheira dos Andes, tem sua formação ligada à localidade no Chile, conforme estudo de Shimelles Fisseha Woldemichael, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP.

A região é cercada de animais, como onças-pintadas. Também existe a icónica Baía da Gaíva, que representa muito o nome que o Pantanal recebeu em mapas de séculos passados feitos por holandeses, italianos, espanhóis e alemães, como Mar de Xaraés – os xaraés foram povos indígenas que habitaram o bioma e a baía –, que marca o fim da Serra do Amolar e tem registro de ondas de mais de dois metros, além de permitir que o visitante não veja o fim da água, justamente dando a impressão de que não se trata de um rio, mas, sim, de um mar de água doce.

 

Fonte:CE

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