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Artista sul-mato-grossense participa de exposição de onças-pintadas em Nova York

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Em 1998, por iniciativa do artista Pascal Knapp, 450 esculturas em forma de vaca foram espalhadas a céu aberto em Zurique, uma das mais importantes cidades da Suíça, país de nascimento do escultor.

Magnetizado pelo impacto da grande e inusitada exposição de rua que pôde presenciar in loco, o norte-americano Jerry Elbaum comprou a ideia e os direitos legais das esculturas do colega europeu, levando a Cow Parade, desde então, para mais de uma centena de países, que, em conjunto, mobilizaram um público de meio bilhão de pessoas para apreciar, sempre ao ar livre, o rebanho colorido.

Foi no rastro do sucesso alcançado pelo desfile das vacas artísticas ao redor do globo que surgiu em São Paulo, em 2019, um evento similar dedicado à onça-pintada, o maior felino das Américas.

Trata-se da Jaguar Parade, que, desde a primeira edição, quando foi vista por 10 milhões de pessoas na capital paulista, também cresceu bastante e, em 2022, chega a Nova York. E vai ter onça pantaneira na parada internacional da pintada.

RISCO DE EXTINÇÃO

Quem assina a customização da escultura sul-mato-grossense da Jaguar Parade 2022 é Buga Peralta, nome pelo qual é mais conhecida a artista plástica Celair Ramos, de Bonito.

Selecionada para o evento sob a indicação do Instituto Homem Pantaneiro (IHP) e da ISA CTEEP, uma das empresas que patrocinam a iniciativa, Peralta customizou uma das onças que estarão expostas, de amanhã até 15 de julho, em diversos pontos da cidade de São Paulo e que seguem depois para os Estados Unidos.

No dia 7 de setembro, um coquetel para convidados no Tavern On The Green, um dos mais bombados de Nova York, marca o lançamento da parada na cidade e a abertura de um leilão eletrônico cuja renda dos arremates vai para projetos que batalham para preservar, vivas e sem ameaças, as onças-pintadas de carne e osso.

Esses animais já são considerados oficialmente extintos nos EUA, raros no México e sob forte risco de extinção nos vários habitats que ocupavam no Brasil – Amazônia, Mata Atlântica, Pantanal, Cerrado e Caatinga.

O felino está presente em 18 países da América, mas, nos últimos 100 anos, sua população foi reduzida quase pela metade. Estima-se que, na Amazônia, existem 4,5 onças-pintadas a cada 100 quilômetros quadrados, em unidades de conservação, e 2,5 animais na mesma extensão territorial de áreas desprotegidas.

Nos Pampas da Região Sul, a onça-pintada já foi extinta. No Pantanal, território de maior densidade da onça-pintada em todo o mundo, estima-se que havia pelo menos 20 mil animais da espécie – Panthera onca – até a avassaladora onda de incêndios que varreu o bioma nos últimos dois anos, além do desmatamento intenso.

FLORESTAS

É uma realidade que cala fundo na consciência ecológica e também na sensibilidade da artista de Bonito. Com sua obra, Buga Peralta pretende chamar atenção para o exasperante problema que tem sido vivenciado não somente no Pantanal, mas em todo o País e em várias regiões do planeta.

“A pintura que fiz na onça apresenta fragmentos de verde, simbolizando o que resta das florestas. No corpo também inseri troncos queimados e cortados”, descreve a artista.

“A ideia foi chamar atenção para o desmatamento e outras atividades de enorme impacto ambiental que ocorrem no País, especialmente no Pantanal, impactando diretamente no habitat de felinos e de todos os demais seres vivos, animais e plantas”, diz Peralta, que não descarta o desejo de conferir à peça uma dimensão decorativa, mas sem deixar de “aproveitar a oportunidade para fazer uma denúncia, um alerta”.

AUTODIDATA

Autodidata, a artista de 54 anos nasceu na Aldeia Tomásia, reserva indígena Kadiwéu, localizada na Serra da Bodoquena. Sua arte, já bastante conhecida e celebrada em Bonito, teve alcance ampliado em 2007, quando Buga Peralta foi convidada para expor no Marco, o Museu de Arte Contemporânea do Estado, em Campo Grande.

Das costuras, bordados, estamparias, apliques e toda a sorte de patchworks que criava até abrir o primeiro ateliê fora de casa, em 2001, as peças produzidas tinham uma feição mais naif e destinavam-se, em muitos casos, ao uso doméstico ou para a clientela de hotéis – capas de travesseiros e almofadas, cortinas, etc.

A partir do ateliê, ela diversificou a produção, criando figurinos e cenários para espetáculos teatrais. Depois veio o barro, em seguida outros materiais e uma estrada de reconhecimento que, nas pegadas de uma onça em tamanho natural, agora levará sua arte para Nova York e, quem sabe, para os quatro cantos do mundo.

MÍDIA

O estafe da Jaguar Parade – seguindo a experiência da pioneira Cow Parade e de eventos similares, como a Elephant Parade, a Art of Love e a Ear Parade – sabe bem da importância que a projeção midiática confere a essas megaexposições de arte pública. E o aporte de mídia é fundamental para qualquer iniciativa que busca renda em leilões beneficentes.

Peralta assina um dos trabalhos que estão em exposição permanente na Casa Vasquez, a sede do Memorial do Homem Pantaneiro, em Corumbá. É a obra “Comitiva Pantaneira”, de 2014, um grande tabuleiro com mais de 100 peças feitas em argila.

“A Buga Peralta é uma artista que engrandece a arte, a cultura. Pelas mãos dela, temos ‘Comitiva’, uma obra impactante e extremamente representativa para o Pantanal. Agora, ela nos deu a honra de estilizar uma das onças-pintadas, com uma mensagem tão urgente e necessária nestes dias que vivemos”, afirma Angelo Rabelo, presidente do IHP. A nova obra de Peralta ficará exposta na área externa do Shopping Cidade São Paulo.

A Jaguar Parade, que chegou a ter 90 onças em 2019, partirá do Brasil na segunda quinzena de agosto com 40 animais. Nos EUA, outro grupo de artistas vai preparar novas peças para a versão internacional do evento.

A exposição ocupará praças e ruas de Nova York de 8 de setembro a 6 de outubro, período que coincide com a realização, na cidade, da 77ª Assembleia Geral das Nações Unidas (Unga 77).

Entre os brasileiros, além de Buga Peralta, participam Vinícius Zoia, Cecil Chique, Cintia Abravanel, Luiz Escañuela, Isabela Ferreira Juliano, Leila Mackenzie e outros nomes. O projeto conta com recursos da Lei de Incentivo à Cultura do governo federal.

Fonte:CE

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