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Cada anta deve valer milhares de reais para a economia por seus serviços ecossistêmicos

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Tinha entrado na onda de pedalar na pandemia e, animado com o conserto da bicicleta velha, fui fazer trilha mesmo com o céu nublado. Claro que choveu muito. Talvez pela descida íngreme, eu me aproximei rápido demais para ela me ouvir. E talvez pelo toró ela, noturna, estava se deslocando ali no meio da tarde mesmo. Uma das maluquices do urbanismo de Brasília: uma anta enorme perto do centro da cidade (um parque nacional de 40 mil hectares começa logo ao fim do Eixo Monumental). Aí começou meu contato com o universo das antas.

Quem se interessa por economia há de se interessar pela anta. Ela é ótima para entender o que são “serviços ecossistêmicos”, que acontecem quando o trabalho da natureza traz ganhos diretos para a sociedade – como ganhos econômicos.

A anta é rotineiramente listada como um dos animais mais importantes, no mundo, para a luta contra a mudança climática. Ocorre que a anta mantém seu shape de até 300 quilos com uma dieta vegana. Come muitos frutos e sementes e anda longas distâncias. É por isso conhecida como “jardineira da floresta”. São dezenas de espécies com que a anta trabalha, colaborando com a biodiversidade vegetal. Mas não é só: dentuça, a anta consegue lidar com frutos e sementes das grandes árvores – justamente as mais importantes para o sequestro de carbono.

Cada anta deve valer, assim, milhares de reais para a economia – ainda que não cheguem perto dos quase R$ 10 milhões que valem cada elefante (pelo cálculo de cientistas, de acordo com a importância das árvores que plantam). Economistas têm estimado o preço do carbono em dezenas de dólares por tonelada, com base no seu custo para a sociedade – ponto de partida dessa avaliação.

Se a emissão do carbono contribui para destruição de parte da atividade econômica amanhã via mudança climática, sua captura tem um valor – e é por isso que o trabalho de animais como as antas é considerado tão valioso. Podemos conjecturar ainda sobre o seu papel no regime de chuvas de que depende o agro e a geração de energia. Embora gere estranheza inicial, a valoração dos serviços ecossistêmicos evidencia que a conservação do meio ambiente, ao fim e ao cabo, vale dinheiro.

A anta é boa para o PIB. O animal é hoje classificado como vulnerável, ameaçado de extinção. Vejo nas notícias do jornal um nome melhor para quando você quiser chamar alguém de estúpido, sem estigmatizar nosso simpático animal. Da próxima vez não xingue de anta, xingue de… deixa pra lá!

Amanhã é o Dia Mundial da Anta.

Fonte: Pedro Fernando Nery, O Estado de S.Paulo 

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