O cocar imponente, os potes que representam a fertilidade e o sorriso da mulher indígena à espera do primeiro filho, Joaquim. O Morro do Paxixi foi o cenário escolhido pela engenheira Mari Ruthe Ferreira França, de 30 anos, para o ensaio de fotos da gestação.
Nascida e criada na comunidade indígena Aldeinha, em Anastácio (MS), Mari Ruthe queria homenagear os avós já falecidos no ensaio de fotos e ensinar ao filho, desde a barriga, a ter orgulho de ser terena. Sentimento que é passado de geração em geração pela família.
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“Sempre gostei de fotos e essa foi a oportunidade de demonstrar a ligação com o sangue indígena que está na veia e o poder da mulher indígena, sua beleza e importância na nossa cultura, principalmente no momento único que é a gestação”, descreve.
Moradora da Aldeinha, Mari Ruthe é bisneta dos fundadores da comunidade, seu Gregório Delgado, conhecido como índio Neco e dona Josefina da Silva. Os ancestrais que, inclusive, iam visitar parentes no alto do Morro, quando à época nem estrada existia ali.
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Os registros foram feitos pela fotógrafa Arumi Figueiredo que viu no tradicional ponto turístico da região um cenário à altura da homenagem. “Cheguei até a comentar para ela levar um vaso de barro que eu já tinha imaginado uma foto, mas eu nem sabia do significado”, lembra Arumi.
Apesar de não usar no dia a dia o cocar, Mari Ruthe explica que toda família na aldeia tem o seu. “Escolhi usar o cocar e os acessórios primeiro porque acho que meus avós ficariam muito orgulhosos e admirados por eu manter nossa cultura”, completa.
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Significados
Na cultura terena, o pote significa mulher guerreira, forte e fértil, o que encaixou perfeitamente em Mari Ruthe. “Bateu muito forte em mim, porque é o que realmente a mulher terena significa, já o cocar é a força, o poder para os terenas, tanto homens quanto mulheres”, explica a mãe de Joaquim.
Foram quatro anos tentando engravidar, um deles acompanhado de um médico especialista em fertilidade. Houve também uma inseminação, até que Joaquim escolhesse vir naturalmente. “Tive de ser muito forte, porque eu achava que não fosse conseguir, mas graças a Deus veio de uma forma natural”, comemora Mari Ruthe.
Representatividade
O ensaio gerou repercussão nas aldeias de Anastácio e também entre quem não tem no sangue a veia indígena. “Todo mundo ficou encantando e eu fiquei muito admirada, porque não sabia da repercussão que teria”, comenta.
O registro trouxe consigo um sentimento de representatividade e orgulho para todo um povo. “Muitos conhecidos da aldeia me dizendo que ali estava representado verdadeiramente a mulher terena e o quanto foi lindo de ver o resgate da nossa cultura”, exemplifica a gestante.
Joaquim está previsto para chegar no dia 4 de fevereiro e vai nascer já sabendo dos valores e da luta dos terena. “Quero que ele aprenda a respeitar todas as culturas, independentemente de qualquer coisa. Sempre mantendo nossas raízes firmes para continuar a luta e o direito que todos os povos indígenas querem: serem vistos e respeitados”, enfatiza Mari.
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Fonte:G1MS