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Para seu Ailton, “briga” com Maria do Jacaré se transformou em saudade da irmã que já se foi

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“Luto” define o coração de um homem pantaneiro que perdeu sua parceira de sangue e de profissão: aos 68 anos, Maria do Jacaré se despediu do Pantanal sul-mato-grossense após não resistir a uma parada cardíaca. Entretanto, mesmo com a fatalidade ainda recente, em julho de 2021, não impediu da sua história continuar viva por meio do irmão Ailton Macena de Barros.

Vizinhos um do outro, eles dividiram o cuidado e o respeito com a natureza, a atividade da pescaria e até mesmo alimentavam os jacarés no “quintal” pantaneiro que os turistas tão bem conhecem ou já ouviram falar lá na região do Passo do Lontra, às margens da BR-262, entre Miranda e Corumbá.

Seu Ailton divide com a irmã falecida a coragem de ter jacarés espalhados pelo “quintal” (Foto: Lucas Paiva)

Como “cão e gato”, a “briga” de irmãos durou um tempo, pois seu Ailton não concordava com o fato de Maria cobrar “entrada” das pessoas que queriam ver de perto os jacarés. Segundo ele, a irmã ganhava “comissão” para chamar os animais. Agora que ela se foi, a saudade fala mais forte.

“Ultimamente estávamos em paz. Só lá naquele início tivemos um atrito feio, mas coisa besta de irmãos, nada de mais. É que eu não achava certo ela cobrar por isso, pois os jacarés são do nosso Pantanal, não somos seus donos. Mas já passou, não tem mais porque pensar nisso”, releva o pantaneiro de 79 anos.

Para Ailton, bastava ver os turistas procurarem pela sua casinha de madeira à beira da estrada para conferirem os jacarés. “Isso pra mim era bem gratificante”, confirma o pantaneiro. O mesmo acontecia com a irmã, que também se alegrava com os visitantes e tinha uma vida bem simples, mas tão verdadeira quanto se possa imaginar.

                          
Sem tempo ruim, Maria do Jacaré enfrentava de frente os silvestres, pegando até na cauda (Foto: Arquivo Pessoal)

Filhos de pai pernambucano e mãe gaúcha, os irmãos somam em 8 filhos. Há pelo menos 37 anos o mais velho se encontra no mesmo lugar: “moro com Deus”, diz. “E ela acompanhava junto”.

Porém, não é só seu Ailton que faz a história da irmã permanecer viva. Filha de Eurides de Fátima Macena de Barros – a Maria do Jacaré –, Maurinei assumiu o posto da mãe e hoje é o responsável pelo espaço que abriga os jacarés.

Por mais que sempre esteve presente no local, a filha diz que os “bichinhos” são acostumados com dona Maria, mesmo. “Eles sentem falta dela. Eu sigo tocando aqui, mas o chamamento por meio do berrante é diferente. Antes, reunia dezenas; agora, vem bem menos”, revelou Maurinei ao site Campo Grande News.

Para a filha, tem muito turista que ainda pergunta pela sua mãe. “Presença dela será eterna, não tem como esquecer. Eu continuarei dando comida para os jacarés, quem sabe assim eles se acostumam comigo…”.

Na fala de seu Ailton, esse trabalho não se traduz facinho, não. “Acordo todo dia às 4h30, tomo meu mate pantaneiro, dou uma varrida no meu ranchinho, vou cuidar da bixarada e daí já não paro mais”. Além dos “seus” jacarés, ele também prepara isca-viva para vender e ajudar no orçamento.

Além de receber turistas, seu Ailton também comercializa produtos, entre eles isca-viva (Foto: Lucas Paiva)

Dessa forma, a família Macena de Barros se faz presente. Tradição que um dia passou pela matriarca, agora o irmão e a sobrinha continuam o que há tanto tempo já sabem de cor: preservar o bioma pantaneiro e – de quebra – agradar o turista.

“Ah, e um aviso: quem quiser parar no meu ponto, vai ser recebido com peixe frito, tomar alguma bebida e, claro, admirar os jacarés. Pode tirar foto à vontade. Lembrando que o cafezinho é de graça”.

(Agradecimentos a Lucas Paiva, leitor de O Pantaneiro que ajudou na realização desta reportagem)

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