A visita do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ontem a Mato Grosso do Sul expõe um racha no DEM que começou em Mato Grosso do Sul e tende a ganhar a executiva nacional do partido.
Em Corumbá e em Nioaque, o presidente da República não economizou elogios à ministra da Agricultura, Tereza Cristina, uma das integrantes da comitiva.
“Querida ministra Tereza Cristina. Orgulho do agronegócio e orgulho para o nosso Brasil”, disse o presidente em sua primeira fala, logo após desembarcar no Aeroporto Internacional de Corumbá.
A exaltação da ministra veio acompanhada de muitos aplausos da multidão de apoiadores que acompanhava a cerimônia de inauguração de um novo radar na cidade pantaneira.
Parlamentares de Mato Grosso do Sul que estavam no evento, como os senadores Nelsinho Trad (PSD) e Soraya Thronicke (PSL) e os deputados Luiz Ovando (PSL), Bia Cavassa (PSDB) e Beto Pereira (PSDB), não foram lembrados de forma tão efusiva pelo presidente, tampouco pelo público.
Tereza Cristina vive um dos seus melhores momentos no Ministério da Agricultura desde que assumiu o cargo, em 2019.
O que a aproxima do presidente é justamente a pandemia de coronavírus, o mesmo fenômeno que resultou na demissão de outro sul-mato-grossense do DEM que também integrava o governo de Bolsonaro: o médico Luiz Henrique Mandetta, demitido do cargo em abril.
Enquanto as recomendações de isolamento social para evitar a propagação do vírus feitas por Mandetta foram motivo de atrito entre ele e o presidente, a recuperação econômica da crise gerada pela desaceleração decorrente das medidas de isolamento vem justamente da pasta coordenada por Tereza Cristina, a de Agricultura.
“As exportações foram recorde neste ano”, celebrou o presidente em solo sul-mato-grossense.
Tereza Cristina não discursou nos eventos, e a avaliação de quem esteve junto é que ela nem precisou.
Quem esteve próximo dos dois garante que as palavras do presidente, foram suficientes para mostrar que ela vem ganhando força no DEM.
Eleições
A boa relação de Tereza Cristina com o presidente da República empurra parte do partido em Mato Grosso do Sul (e também em outros) estados para perto do governo federal.
Do outro lado, Mandetta demonstra afinidade com outro ex-ministro do governo, Sergio Moro, e também com a ala que tenta ser mais independente e que tem como líder o presidente da Câmara, Rodrigo Maia.
O distanciamento entre Tereza Cristina e Luiz Henrique Mandetta começou ainda quando ele era ministro, na formação da estratégia do DEM para as eleições municipais.
“Houve um certo desconforto. Ela queria uma participação maior na composição das alianças em Campo Grande. Não foi que ela falou comigo, mas eu percebi”, relata o deputado estadual Zé Teixeira (DEM), que está no partido desde a sua fundação, na década de 1980, e quando era chamado de PFL.
“Acho que ela não seria contrária a coligar com o Marquinhos Trad, mas ela não participou desta composição”, afirma o deputado.
Teixeira disse que a delimitação de territórios ficou muito clara. Tereza Cristina participa ativamente da articulação do DEM no interior do Estado, enquanto Campo Grande percebeu como um reduto de Mandetta, intocável.
Por causa deste desconforto, Zé Teixeira afirma que se o ex-ministro decidir candidatar-se em 2022 “terá de migrar para outra sigla”.
Teixeira finaliza dizendo que falta unidade no DEM em nível nacional. “Tem muitas lideranças, Onyx Lorenzoni [ministro da Cidadania], Rodrigo Maia [presidente da Câmara], Antônio Carlos Magalhães Neto [prefeito de Salvador] e a própria Tereza Cristina, além de Mandetta”.
Fonte: CE