O CRMV-MS (Conselho Regional de Medicina Veterinária de Mato Grosso do Sul) recomendou aos profissionais das clínicas de pequenos animais que evitem cirurgias eletivas durante o período da pandemia do novo coronavírus (covid-19), já que muitos anestésicos são os mesmos ministrados no tratamento da doença em humanos.
As clínicas já relatam escassez dos medicamentos, alta nos preços e suspensão das cirurgias em decorrência da pandemia da covid-19.
A reunião virtual foi realizada na semana passada, segundo a conselheira efetiva do CRMV-MS, Gizelly Gonçalves Bandeira Mello. A intenção foi alinhar procedimentos a serem tomados para evitar prejuízo no trabalho veterinário e no atendimento nos hospitais do Estado. Na lista de anestésicos compartilhados nas duas áreas estão propofol, midazolan, fentanil, quetamina, remifentanil, morfina, alfentanil e sulfentanil.
A preocupação é conseqüência do ocorrido em Canoas (RS), onde a secretaria municipal de Saúde recorreu às clínicas e hospitais veterinários em busca dos sedativos necessários para entubação de pacientes com quadro grave de covid-19. “Temos que orientar aos profissionais que essa situação pode acontecer aqui no Estado”.
A recomendação é que os veterinários não façam estoque desses produtos e adotem protocolos alternativos para as cirurgias. “Desde fim de maio, começo de junho já está difícil comprar”, explica a conselheira.
A medida, além de evitar o desabastecimento das clínicas e gastos maiores, já que muitos sedativos tiveram reajuste nos preços. Gizelly cita como exemplo o preço da ampola de Propofol, que oscilava de R$ 7 a R$ 11 e hoje custa R$ 60.
Antes mesmo da reunião, as clínicas veterinárias já começaram a se adaptar à situação. Na Dog Company, o sócio-proprietário Wagner Alfonso disse que não estão marcando cirurgias eletivas justamente para administrar o estoque geral que deve durar até o fim do ano.
A cirurgia de castração, que se enquadra como eletiva, está sendo realizada excepcionalmente, caso o animal já esteja sendo submetido a algum procedimento emergencial.
Como a clínica terceiriza a anestesia, somente a morfina, listada pelo CRMV, está no estoque da empresa, sendo usado para controle da dor pós-cirurgia ou durante atendimento por traumatismo, por exemplo. “Estamos com esse bem no finalzinho”, diz Wagner, explicando que o preço já sofreu reajuste de 200%.
No Pronto Dog & Cat, a veterinária Janecler Oliveira, disse que ainda tem propofol no estoque, mas já recebeu a negativa da distribuidora para entrega de nova remessa, pois a empresa está priorizando a venda para hospitais para tratamento da covid-19.
Para evitar a suspensão das cirurgias eletivas, que estão sendo feitas normalmente, a veterinária diz que passou a usar também outros anestésicos, considerados eficazes, porém, mais caro do que os usados regularmente. Enquanto costumava comprar a ampola do propofol por R$ 20, a de outro anestésico é encontrado a R$ 500.
A oscilação de preços também foi citada por ela como situação ocorrida pós pandemia.
A proprietária de outra clínica de Campo Grande, que não quis ter nome divulgado, também terceiriza anestesia, mas já está com dificuldades em relação a outros gastos. Há casos de medicamentos que tiveram o preço triplicado, além do aumento do custo com máscara e luvas, também precisam ser usados nos procedimentos. “Por enquanto, estamos levando a situação”, disse a empresária, alegando que o valor do serviço pode ser reajustado por conta do aumento de gastos.
Em nota, a SES (Secretaria Estadual de Saúde) diz que a competência da compra dos medicamentos é dos hospitais, não tendo informação de desabastecimento. Mas, por conta da pandemia, cadastraram intenção de ata de registro de preços no MInistério da Saúde, licitação que ocorrerá esta semana.
A Sesau (Secretaria Municipal de Saúde de Campo Grande) diz que são utilizados midazolan, fentanila, cetamina e morfina nas unidades 24 horas e Samu e que os estoques na rede estão normalizados, e ainda sem previsão para a aquisição de novos.
Fonte: CGN