Na vastidão do cosmos, a imaginação humana é frequentemente capturada por cenários de cataclismos. O mais recente protagonista dessas fantasias apocalípticas é o 3I/ATLAS, um cometa interestelar que atravessa nosso Sistema Solar a uma velocidade estonteante. A pergunta, que ecoa em manchetes e conversas, é direta e aterrorizante: “E se o 3I/ATLAS batesse na Terra?”
Como jornalistas, nosso dever é equilibrar o fascínio do mistério com a solidez da ciência. A verdade é que, embora o cenário de impacto seja um exercício sombrio de física e extinção, a realidade do 3I/ATLAS é muito mais segura.
O Mensageiro Interestelar: um gigante que não nos toca
O cometa 3I/ATLAS é um viajante de outro sistema estelar, o terceiro objeto interestelar (daí o prefixo “3I”) já confirmado a visitar nossa vizinhança cósmica. Sua mera existência é um tesouro científico, um fragmento de um mundo distante que nos oferece pistas sobre a formação de outros sistemas planetários.
Ele é um gigante. Observações do Telescópio Espacial Hubble sugerem que seu núcleo gelado pode ter um diâmetro de até 5,6 quilômetros, embora o tamanho mais provável seja inferior a 1 km, similar ao seu antecessor, o 2I/Borisov. Para fins de comparação, um objeto de 5 a 10 km é o tamanho associado ao evento que extinguiu os dinossauros.
Sua velocidade é igualmente impressionante. O 3I/ATLAS viaja a cerca de 58 quilômetros por segundo (mais de 210.000 km/h) em relação ao Sol, uma velocidade que o coloca em uma trajetória hiperbólica . Isso significa que ele não está preso à gravidade solar e, após sua passagem, será ejetado de volta ao espaço interestelar.
A Boa Notícia: O Risco é Zero
Apesar de seu tamanho colossal e velocidade vertiginosa, a ciência é categórica: o cometa 3I/ATLAS não representa ameaça de colisão com a Terra.
Segundo cálculos da NASA e da Agência Espacial Europeia (ESA), o ponto de máxima aproximação do cometa com o Sol (periélio, em 29 de outubro de 2025) o colocará a uma distância segura, entre as órbitas da Terra e de Marte.
“O cometa não se aproximará a menos de 240 milhões de km – o que é mais de 1,5 vezes a distância entre a Terra e o Sol. Durante sua aproximação máxima da Terra, ele estará do outro lado do Sol. Não representa perigo para o nosso planeta ou para qualquer outro do Sistema Solar.”
A trajetória do 3I/ATLAS está bem mapeada e confirmada. O planeta está seguro.
O Cenário Hipotético: O Pesadelo do “Inverno de Impacto”
Mas e se, por um desvio improvável da física, o 3I/ATLAS, com seu limite superior de 5,6 km, estivesse em rota de colisão? O que a ciência nos diz sobre as consequências de um impacto de um objeto interestelar tão rápido?
O fator mais devastador não seria apenas o tamanho, mas a velocidade extrema. Um objeto interestelar atinge o Sistema Solar com uma velocidade de entrada muito maior do que um cometa ou asteroide nativo. Essa velocidade mais alta se traduz em uma energia cinética exponencialmente maior no impacto.
A velocidade do 3I/ATLAS, se direcionada à Terra, tornaria este evento um dos mais energéticos já concebidos. Seria o fim da civilização, como sugerem alguns cientistas ao discutir o cenário de impacto de objetos dessa magnitude.
A Importância da Vigilância
Apesar de o 3I/ATLAS estar em uma trajetória segura, a histeria em torno de um possível impacto serve como um lembrete valioso. A Terra está constantemente sujeita a ameaças cósmicas. É por isso que projetos como o próprio ATLAS (Asteroid Terrestrial-impact Last Alert System), que descobriu o cometa, são cruciais.
O 3I/ATLAS, em vez de ser um arauto do apocalipse, é uma oportunidade de ouro para a ciência. Ele é um laboratório de química cósmica, rico em compostos orgânicos e dióxido de carbono, potencialmente mais velho que nosso próprio Sol [4]. Estudar sua composição e comportamento nos ajuda a entender melhor a diversidade de materiais que vagam pela Via Láctea.
Portanto, durma tranquilo. O cometa 3I/ATLAS passará por nós como um fantasma, um gigante silencioso em sua jornada de volta ao espaço profundo. Seu legado não será a destruição, mas sim a expansão do nosso conhecimento sobre o universo.
Fonte:Correio do Estado