Buga usou memórias do Pantanal para criar comitivas em arte de argila


Inspirada nas boiadas que via quando criança, artista de Bonito já fez peças que rodaram o mundo

Quando a boiada passava pelos lugares onde morou na infância, Buga Peralta tinha a imagem dos bois, cavalos e dos peões marcados na mente. Décadas depois, essas lembranças viraram rotina de trabalho e arte em forma de pequenas peças de argila que reconstroem comitivas pantaneiras inteiras, cheias de vaquinhas, peões e cavaleiros. É a “memória afetiva” que ela mesma diz ter transformado em ofício.

“Eu comecei a me dedicar à arte na virada de 1999 para 2000, depois de anos trabalhando com carteira assinada. Meu último trabalho de carteira assinada foi em um sítio de turismo aqui bonito”, conta.

Depois de decidir que não queria mais trabalhar para ninguém, ela deixou a inspiração falar alto e a produção das peças veio pouco a pouco.

Cada comitiva é composta por dezenas de peças reunidas. (Foto: Arquivo Pessoal)

Buga é de Bonito e nasceu na região do Pantanal e foi essa geografia que alimentou sua arte. “Eu aprendi sozinha, nunca fiz nenhum curso”, destaca. Ela começou pela costura — “eu sempre gostei de costurar, passou por trabalhos com reaproveitamento de materiais e madeira, e acabou se encontrando nos laboratórios com argila.

Hoje, ela produz por encomenda e já levou suas comitivas para  diversas exposições. As peças, inclusive, já foram até para fora do País.

O processo das comitivas em miniatura é quase ritual. Cada peça passa por várias etapas até ganhar vida. “O passo a passo é preparar a argila, modelar uma a uma, esperar o tempo de secar porque são macias, e depois queimar. É um processo demorado”, pontua.

Artista já fez diversas exposições e peças já foram para vários países. (Foto: Arquivo Pessoal)

A maior já feita por Buga foi a comitiva levada para a Bienal de Belém, onde ficará exposta até novembro. “Essa que está lá em Belém tem 540 peças. É imensa, 3 metros e meio por 1 metro e meio. Demorei seis meses para fazer. Tive a ajuda dos meus amigos de Corumbá, que fizeram as vaquinhas, e eu finalizei com pintura, orelha, detalhes, cavaleiros e peões”, afirma.

Para a artista, as esculturas despertam lembranças no público que vê. “Principalmente a comitiva, ela toca muito na memória afetiva das pessoas. Muita gente lembra do pai, do avô, de um tio que conduziu boiada. É emocionante, eu fico até emocionada às vezes com as reações do público”, confessa.

Ela define seu trabalho como “arte popular pantaneira”, e afirma que a força vem da identidade regional. “A minha inspiração é na nossa cultura, na nossa paisagem, na nossa natureza”, avalia.

Embora as comitivas sejam sua marca registrada, Buga também transita por outras linguagens. Produz peças em madeira, porcelana, cerâmica, esculturas maiores, costuras e bordados. Tudo feito à mão, sempre com o mesmo cuidado artesanal.

“É muito emocionante ver meu trabalho sendo admirado em lugares que eu mesma nunca fui”, finaliza.

Fonte: Campo Grande News

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