O turismo de natureza já se consolidou como um dos principais motores da economia de Mato Grosso do Sul. Trilhas, cachoeiras, observação de fauna, grutas e rios cristalinos formam um conjunto de atrações que colocaram o estado no mapa do ecoturismo nacional e internacional. Entre todos os destinos, Bonito segue como referência simbólica e prática, recebe a maior parte dos turistas, concentra a oferta mais diversa de atividades e há décadas sustenta um modelo de visitação baseado em controle, sustentabilidade e experiência ambiental.
Mesmo assim, o setor vive uma fase de contrastes. Os dados mais recentes, referentes ao ano-base 2024, mostram retração no número de visitantes e queda na arrecadação municipal, ao mesmo tempo em que o estado prepara um plano de promoção internacional que deve reposicionar seus destinos nos próximos anos.
Segundo o Anuário Estatístico do Turismo de Bonito Ano Base 2024, o município registrou um recuo de 7,13% no total de turistas em comparação ao ano anterior, chegando a 290.806 visitantes ao longo do ano. A arrecadação de ISSQN caiu 7,49%, passando de R$ 23,7 milhões em 2023 para R$ 21,9 milhões em 2024, e o número de passeios realizados também reduziu, com queda de 5,27%.
A taxa média de ocupação hoteleira ficou em 53%, abaixo do patamar de 60% registrado em 2023. Ao mesmo tempo, o preço médio das atividades aumentou. O ticket das atrações subiu 11,35%, alcançando R$ 205,55. Por outro lado, o Aeroporto de Bonito registrou crescimento expressivo de 16,37% nos desembarques, o que indica que, apesar da redução no volume final de turistas, existe uma procura consistente pelo destino, especialmente por parte de quem chega por via aérea.
Os dados de visitação diária aos atrativos reforçam o peso do turismo de natureza. Balneários como o Bosque das Águas (400 visitantes/dia), o Nascente Azul (220), o Balneário do Sol (1.200) e o Parque das Cachoeiras (150) seguem entre os mais procurados, ao lado de experiências de flutuação e observação, como a Barra do Sucuri (80), a Gruta do Lago Azul (305) e a Gruta de São Miguel (285).
Embora os números indiquem oscilação, as atividades dependem diretamente do ambiente natural e que continuam atraindo perfis muito variados de viajantes.
A Estância Mimosa, um dos passeios mais tradicionais de trilhas e cachoeiras de Bonito, também confirma o avanço na busca por experiências de natureza. De acordo com dados fornecidos pela administração, a procura pelos roteiros cresceu de forma consistente nos últimos anos, acompanhando tanto o fluxo turístico da região quanto uma tendência nacional de viagens voltadas ao bem-estar e à imersão ambiental. A Mimosa relata que os visitantes “buscam cada vez mais momentos de pausa, contemplação e reconexão, atraídos pela mata preservada, pelo som das quedas d’água e pelas paradas de banho ao longo do percurso”.
Segundo a propriedade, a estrutura já foi pensada para suportar esse movimento crescente, sem necessidade de alterações de rota ou novas regras. O reforço ocorre principalmente no atendimento em alta temporada, garantindo conforto e segurança dentro da capacidade de carga do ambiente. Para 2026, a proposta é ampliar a divulgação do birdwatching (contemplação de pássaros) um dos pontos fortes do atrativo, após registros de espécies emblemáticas, como a harpia, que reforçam o valor ambiental da área e a vocação do passeio para a observação da fauna.
Mudança de comportamento e demanda crescente
Para o diretor de Turismo de Bonito, Elias de Oliveira Francisco, o cenário de 2024 não reflete queda de interesse, mas um movimento cíclico de acomodação após anos de retomada pós-pandemia. Ele afirma que a procura por trilhas, cachoeiras e experiências imersivas cresceu de maneira consistente.
“Há um crescimento contínuo na busca por atrações de natureza em Bonito. As pessoas querem vivências mais completas, contato com o ambiente natural e experiências sustentáveis”, disse. Segundo ele, trilhas, flutuações, balneários, visitas às grutas e atividades de aventura permanecem no topo das buscas.
Elias explica que o perfil do turista também está mudando, pois cresce o interesse por atividades interpretativas, experiências guiadas e produtos que envolvem aprendizado, conservação e imersão. “Esse comportamento confirma que Bonito segue alinhado à demanda crescente por turismo de natureza no Brasil e no mundo”, afirmou.
O diretor destaca que o município tem estratégias estruturadas para fortalecer o setor: Qualificação profissional, campanhas de promoção, presença em feiras nacionais e internacionais, aprimoramento de serviços e decisões baseadas em dados do Observatório de Turismo. Bonito também está em processo de consolidação como Destino Turístico Inteligente, o que envolve tecnologia, sustentabilidade e gestão integrada.
Destino que une natureza e conhecimento em Jardim
A tendência de crescimento das atividades de natureza também aparece no Buraco das Araras, em Jardim, que é um dos atrativos mais tradicionais e consolidados da região. O destino é formado por uma dolina natural que abriga araras-vermelhas e outras espécies de aves, o que faz do local um dos principais pontos de birdwatching do estado.
A equipe do atrativo afirma que a visitação aumentou nos últimos anos e que o público é cada vez mais diversificado. Há moradores da região, turistas brasileiros e estrangeiros que buscam natureza, contemplação e fotografia. Um dos diferenciais é a caminhada de cerca de 970 metros dentro da mata, conduzida por guias especializados.
“Somos um destino consolidado em observação de aves. Nosso público é variado e cresce de forma constante, sempre buscando contato com a natureza e registros fotográficos”, informou a administração. O atrativo também adiantou que, para 2026, seguirá investindo em divulgação e parceria com agências de Bonito, além de fortalecer a oferta do balneário Jardim Ecopark, que funciona às margens do Rio da Prata.
Plano internacional mira 2027 e reposicionamento do Mato Grosso do Sul
Embora os dados de 2024 indiquem retração, o estado projeta um avanço significativo para os próximos anos. Na apresentação do Plano Brasis 20252027, elaborado pela Embratur, Governo do Estado e Sebrae, Mato Grosso do Sul foi destacado como destino prioritário dentro da estratégia nacional de promoção internacional.
O plano traz uma diretriz para reposicionar o estado no mercado global com foco em três pilares: Imerção na natureza, bem-estar e aventura de baixo impacto. A orientação é associar as experiências do Pantanal ao conceito de “safári brasileiro”, valorizando hospedagens em fazendas, safáris fotográficos, cavalgadas e cruzeiros fluviais.
Bonito, eleito 18 vezes o melhor destino de ecoturismo do Brasil, aparece como outra peça-chave. A estratégia recomenda vincular a região à tendência internacional de turismo de autocuidado, rios cristalinos, flutuações, grutas e ambientes preservados. A combinação de contemplação e aventura leve é vista como uma oportunidade de ampliar mercados na Europa e na América do Norte.
O plano também destaca Campo Grande como polo de eventos e observação de aves (por causa do Bioparque Pantanal e das Várzeas do Rio Ivinhema), reforçando a ideia de regionalização integrada.
Sustentabilidade como eixo de longo prazo
Ao mesmo tempo, Bonito segue investindo em políticas locais de gestão ambiental. Entre as ações em andamento estão:
– Certificação Lixo Zero em parceria com start-up local
– Recertificação como destino Carbono Neutro
– Plano Diretor desenvolvido com a UFRJ para orientar o ordenamento urbano
– Grupo de Trabalho para proteção do Rio Formoso
– Programas de qualificação e controle de carga de visitação
Essas medidas reforçam o modelo que tornou Bonito referência nacional por controle rigoroso, monitoramento de impacto e tomada de decisão baseada em pesquisa.
A queda registrada em 2024 acendeu alertas, mas não altera o papel central do turismo de natureza na economia de Mato Grosso do Sul. No fim, o que move o setor continua sendo aquilo que atrai turistas há décadas, rios transparentes, trilhas, aves, cavernas, quedas d’água e a sensação de estar em um dos biomas mais diversos e preservados do país.