Sem privatização, escolha de Lula para os Correios é a falência

Os Correios – estatal que já foi sinônimo de qualidade e eficiência no passado – estão sangrando, mas o governo continua acreditando que pode estancar a hemorragia com um punhadinho de gaze. A empresa tem acumulado prejuízo atrás de prejuízo, e tem tudo para bater um novo recorde em 2025; o rombo, só no primeiro semestre, foi de R$ 4,25 bilhões, mais que o déficit de todo o ano passado. Mas o ministro Fernando Haddad, da Fazenda, afirmou em entrevista que a privatização da companhia não está nos planos. “Não vejo debate dentro do governo sobre privatizar os Correios. Não vejo nenhum ministro propondo isso”, afirmou.

Em se tratando de um governo bastante estatizante, o surpreendente seria o contrário, que a privatização estivesse sendo seriamente considerada. É verdade que, muito às vezes, a realidade acaba se impondo ao petismo, como quando Dilma Rousseff iniciou um ciclo de concessões de aeroportos após perceber que a infraestrutura aeroportuária nacional não teria a menor condição de absorver a demanda que viria com os megaeventos esportivos de 2014 e 2016 – mesmo assim, o cacoete estatista falou forte, com regras pouco razoáveis que mantinham um papel importante para a Infraero. Desta vez, no entanto, Lula parece disposto a repetir apenas o que deu errado nos governos passados do PT, ignorando as poucas medidas sensatas, mesmo que tomadas a contragosto.

Os Correios – ou ao menos os Correios sob administração estatal – podem ter se tornado inviáveis, sendo superados pela concorrência privada nas atividades onde há competição, e exercendo monopólio apenas sobre atividades cada vez menos relevantes em um mundo digital

É por isso que as primeiras cartadas para reanimar o paciente moribundo são o fechamento de agências deficitárias e um plano de demissão voluntária cuja meta é chegar a 10 mil desligamentos, pouco mais de 10% do efetivo atual da empresa, que no ano passado realizou concurso para a contratação de 3,5 mil pessoas. Mas a grande aposta do governo continua a ser o empréstimo de R$ 20 bilhões que ninguém parece disposto a conceder – nem mesmo os bancos estatais –, apesar das garantias oferecidas pela União por meio do Tesouro Nacional.

A hesitação dos agentes do mercado financeiro em botar dinheiro nos Correios é plenamente justificada. Para que servirão esses R$ 20 bilhões? Para que a estatal continue competindo com um setor privado que está bem à frente dos Correios em termos de tecnologia, eficiência e custo? Não demoraria muito para a empresa ficar para trás novamente, e voltar a acumular prejuízos. Seria dinheiro jogado fora em uma tentativa de negar o óbvio: que os Correios – ou ao menos os Correios sob administração estatal – podem ter se tornado inviáveis, sendo superados pela concorrência privada nas atividades onde há competição, e exercendo monopólio apenas sobre atividades cada vez menos relevantes em um mundo digital.

Por mais que o petismo tenha se empenhado em estragar os Correios a ponto de reduzir drasticamente seu atrativo para possíveis compradores privados, a empresa ainda tem vantagens interessantes, como uma capilaridade que nenhuma outra companhia de logística no Brasil consegue reproduzir. Se Lula tivesse um mínimo de responsabilidade e aceitasse um valor reduzido – pois nenhum operador privado aceitaria pagar muito por uma empresa na situação atual dos Correios –, a empresa poderia ter um futuro longe das mãos do Estado, aproveitando-se as boas experiências de outras nações que privatizaram seus serviços postais sem comprometer a universalização do atendimento.

Mas, a julgar pelo que diz Fernando Haddad, isso não acontecerá. A conclusão é simples: enquanto um governo responsável venderia ou fecharia uma empresa com uma performance tão ruim, um governo ideologicamente jurássico como o de Lula manterá os Correios em estado terminal, e os R$ 20 bilhões, se vierem, servirão apenas para adiar um desfecho praticamente inevitável, a quebra da empresa.

Fonte:Gazeta do Povo

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