O senador Rodrigo Paz surpreendeu ao contrariar o que previam as principais pesquisas de intenção de voto e ser eleito presidente da Bolívia nas eleições disputadas neste domingo, 19.
Paz, de 58 anos, é filho do ex-presidente Jaime Paz Zamora (1989-1993) e da espanhola Carmen Pereira. Ele nasceu na Espanha, onde a família viveu exilada durante a ditadura militar boliviana (1964-1982). Seu pai foi o único sobrevivente de um trágico acidente aéreo em 1980, ficando com queimaduras no corpo e no rosto.
Ele conta que precisou começar várias vezes do zero porque sua família era obrigada a viajar de um lado para outro, fugindo das ditaduras militares. “Na luta de meus pais pela democracia, vivemos em 10 países diferentes”, disse em uma entrevista à AFP no fim de agosto.
Além da Espanha, passou a infância na Argentina, Chile, Peru, Venezuela e Panamá, entre outros.
A faceta de viajante foi retomada durante a campanha eleitoral. O economista destaca que percorreu centenas de municípios da Bolívia em cinco anos. “Não sou um candidato há apenas seis meses”, afirmou.
Formado em Economia e Relações Internacionais na Espanha, Paz tem mestrado em Gestão Pública pela American University, em Washington (EUA), e não é novato na política. Foi deputado, prefeito e atualmente é senador por Tarija, um departamento rico em gás e petróleo, berço de sua família.Estadão Conectado
Em sua linhagem também aparece seu tio, o guerrilheiro Néstor Paz, que morreu de inanição após um combate, e seu tio-avô Víctor Paz Estenssoro, quatro vezes presidente e idealizador do voto universal e da reforma agrária.
A semelhança com seu pai funciona como um catalisador nostálgico para os antigos esquerdistas. Em alguns vídeos publicados nas redes sociais, onde é muito ativo, ele mostrou o patriarca de 86 anos.
O candidato propõe um “capitalismo para todos”. “Não tenho por que me definir, e sim oferecer ao país uma alternativa”, respondeu em uma entrevista à CNN quando pediram definições ideológicas.
Paz avançou ao segundo turno de forma inesperada, após ser o mais votado no primeiro. As pesquisas o colocavam entre o terceiro e quinto lugares uma semana antes da eleição.
Durante a campanha, ele adotou uma estratégia modesta: caminhou por mercados e feiras populares. A atenção, no entanto, recaiu principalmente sobre seu candidato a vice, o ex-policial Edman Lara, que ganhou notoriedade nas redes sociais ao denunciar casos de corrupção na corporação. Lara foi afastado da polícia em 2024, acusado de “faltas graves”.
Apoiadores de Rodrigo Paz acompanham o comício de encerramento da campanha à presidência em Tarija Foto: Marcelo Gomez/AFP
No primeiro turno, Paz sequer foi incluído nos debates entre os principais candidatos. Para contornar a exclusão, seus apoiadores chegaram a levar cartazes apenas para lembrar que ele também era postulante à presidência.
Ainda assim, sua campanha ganhou força com a promessa de “varrer a corrupção” e a defesa de que não seria necessário recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI) para enfrentar a pior crise econômica do país em quatro décadas.
“Não vou pedir dinheiro ao Fundo Monetário Internacional. Na Bolívia, se não roubarem, o suficiente aparece”, declarou à rádio Erbol. Ele também acusou o governo do presidente Luis Arce de “se render” diante da escassez de combustíveis.
Outra de suas propostas é o que chama de “capitalismo para todos”: um programa de crédito acessível para jovens empreendedores, aliado a incentivos tributários para fortalecer a economia formal em parceria com o setor privado.
“Rodrigo Paz representa um voto de renovação. Ele não se dedicou a brigar com adversários, mas sim a apresentar propostas”, avaliou a analista política Ximena Costa após a definição dos candidatos ao segundo turno.
“Havia um voto popular de descontentamento que não queria o partido governista, o Movimento ao Socialismo, e Rodrigo conseguiu canalizar esse voto”, afirmou o analista Carlos Saavedra após a vitória no primeiro turno. /com AP e AFP
Fonte: Estadão