O esperado show de Geraldo Espíndola e Marcelo Loureiro que vem rodando o País pelo Circuito Sesc chega finalmente a Campo Grande.
É uma chance valiosa de contato com a música de dois artistas sul-mato-grossenses, de diferentes gerações, que fazem das coisas da terra – a paisagem natural, os tipos humanos, as histórias, os trejeitos e o sentimento que constituem o que pode ser chamado de alma de MS – o motivo maior de suas criações.
Geraldo e Marcelo integram a etapa estadual do projeto Sonora Brasil 2025, que ocupa o Sesc Teatro Prosa, com cinco apresentações gratuitas de hoje até sábado.
Também se apresentam: Mãe Beth de Oxum, Surama Ramos e Henrique Albino, de Pernambuco; Seu Risca e Ana Paula da Silva, de Santa Catarina; Mestre Negoativo, de Minas Gerais; e Manoel Cordeiro e Felipe Cordeiro, do Pará.
Trata-se de um ambicioso retrato cultural do País, buscando revelar como cada região expressa e renova suas tradições por meio da música.
Não à toa, o tema do projeto para o biênio 2024/25 é “Encontros, Tempos e Territórios”. As apresentações são gratuitas e têm classificação livre, com início sempre às 19h. Os ingressos estão disponíveis no Sympla, conforme a lotação do espaço (208 lugares).
O Sonora Brasil é um projeto temático que tem como objetivo desenvolver programações identificadas com o desenvolvimento histórico da música no Brasil.
A temática escolhida destaca um aspecto fundamental do Sonora Brasil, que é o olhar, a escuta e a valorização das territorialidades, da diversidade e das memórias por meio da expressão de seus autores e intérpretes, ao entender a música como produto de tempo e território que reflete e dialoga com a sociedade e tempos históricos.
A curadoria partiu de uma representatividade das cinco regiões e do conceito de intergeracionalidade e diálogos entre tradição e contemporaneidade, local e universal, e selecionar 10 duplas de artistas para criarem espetáculos inéditos para o projeto.
Os encontros mostram a relação entre tempos históricos e territórios nas criações artísticas e trazem, em suas músicas, paisagens de territórios e a relação com diferentes movimentos musicais da música popular brasileira nas cinco regiões do País.
PERNAMBUCO
No show de hoje, Mãe Beth de Oxum, Surama Ramos e Henrique Albino mostram algumas das mais fortes tradições do Nordeste. O Coco de Umbigada é uma tradição mantida pela família do percussionista pernambucano Mestre Quinho desde o século passado.
A brincadeira foi revitalizada há 26 anos, depois que Mãe Beth de Oxum, ialorixá, mestra coquista e ativista cultural de Olinda, entrou na vida de Quinho.
Eles se casam e reativam o antigo tambor de macaíba, que promovia o coco no passado. Nos palcos e nas gravações, além de Mãe Beth e Mestre Quinho, participam seus filhos Oxaguian, Ialodê, Mayra Karê e Inayê.
Em 2008, o grupo gravou um disco independente e, em 2017, lançou o álbum “Tá na Hora do Pau Comer”, que resultou em uma turnê pelo Brasil e Europa, com casas lotadas e aclamação do público e da crítica.
Para este show, Mãe Beth recebe Surama Ramos, formada em canto lírico e música, na UFPE, suas experiências abriram as portas de óperas, corais populares, como o grupo Voz Nagô, idealizado por Naná Vasconcelos, e projetos inovadores, como a Orquestra Contemporânea de Olinda.
Entre eles está Henrique Albino – multi-instrumentista, compositor e arranjador, que vem se consolidando como referência experimental pela originalidade da sua obra, em que se destaca o álbum solo “Música Tronxa” (2021).
SANTA CATARINA
A Região Sul chega a esta temporada do Sonora Brasil por meio da música de Santa Catarina, na presença de Seu Risca e de Ana Paula da Silva, que se apresentam amanhã.
Eles fazem um diálogo entre as canções nascidas da vivência de Ana Paula, com manifestações populares de catarinenses e os cânticos entoados por mais de 50 anos pelo Seu Risca.
Um encontro de vozes e batidas de tambores destes dois artistas, acompanhado da sonoridade de instrumentistas experientes em manifestações culturais. Bateria e percussão, baixo elétrico, sax e flauta, viola, violões e coro caminham pelo Catumbi, pela Dança do Vilão, por rezas de caboclas e caboclos.
As canções buscam proporcionar reflexões, surpresas e curiosidades ao que pulsa pela Baía da Babitonga e pela região do planalto serrano catarinense.
MINAS GERAIS
Minas Gerais e o Sudeste chegam com o Mestre Negoativo, persona artística de Ramon Lopes, que se apresenta na quinta-feira. Ele é um ativista cultural e capoeirista, pesquisador das tradições afro-mineiras de origem bantu, principalmente o vissungo. É fundador do Centro Cultural Lamparina, autor do livro “Capoeiragem no País das Gerais” e diretor dos documentários “Lamparina – Bantus nas Minas Gerais” e “O Reencontro das Cordas Ancestrais”, gravado na África, no Senegal.
Originário da comunidade do Maria Goretti, situada na região nordeste da capital mineira, Negoativo cresceu rodeado pela cultura afro-brasileira, na capoeira e na celebração ancestral dos terreiros, além dos bailes blacks da capital mineira.
Estas influências foram fundamentais para que Mestre Negoativo fundasse a banda Berimbrown, trabalho que ganhou projeção nacional com seu congopop, uma mistura de funk, reggae, samba, congada, folia de reis e soul music, promovendo a mescla da sonoridade do berimbau e os tambores afro-mineiros ao funk de James Brown, dividindo palcos e estúdios com artistas como Gerson King Combo, Sandra de Sá e Milton Nascimento.
Mestre Negoativo desenvolve atualmente pesquisas sobre o Arco Musical, o Berimbau de Barriga, seus processos históricos e as transformações da musicalidade de matriz africana na transição para o século 21.
MATO GROSSO DO SUL
Dois dos maiores ícones da música do Centro-Oeste, Geraldo Espíndola e Marcelo Loureiro apresentam o show “Saudações Pantaneiras” na sexta-feira.
O repertório traz arranjos inéditos de Marcelo Loureiro para sucessos de Geraldo Espíndola, como “Vida Cigana”, “Kikiô” e “Cunhataí Porã”.
Marcelo Loureiro também apresentará suas versões instrumentais sofisticadas para músicas como “Pantanal”, de Marcus Viana, “Mi Dicha Lejana”, de Emígdio Ayala Baez, “Cascada”, de Dino Garcia, assim como para outros clássicos dos ritmos fronteiriços, com as rearmonizações inigualáveis desse multi-instrumentista.
PARÁ
Manoel Cordeiro e Felipe Cordeiro, do Pará, representando a Região Norte, encerram a etapa estadual do projeto no sábado.
Manoel Cordeiro é multi-instrumentista e produtor musical com reconhecimento nacional e internacional. Nasceu em Ponta de Pedras, na Ilha do Marajó (PA), em 1955. Entre 1979 e 1996, atuou em centenas de discos, consolidando a música popular paraense no Norte e no Nordeste.
Pioneiro em ritmos como lambada e brega, gravou com artistas como Banda Carrapicho, Beto Barbosa e Banda Warilou.
Em 2015, lançou o primeiro álbum solo “Manoel Cordeiro & Sonora Amazônia”, seguido por “Combo Cordeiro”, em 2016, ao lado do filho Felipe, e “Guitar Hero Brasil”, em 2019. Manoel segue compondo, realizando shows, reinventando-se e influenciando gerações.
Felipe Cordeiro é músico, compositor e guitarrista que se destaca pela fusão de ritmos amazônicos tradicionais, como carimbó e lambada, misturados ao pop, rock e à música eletrônica.
Filho do guitarrista e produtor Manoel Cordeiro, ele iniciou seus estudos musicais aos 11 anos. Com álbuns como “Kitsch Pop Cult” (2011) e “Transpyra” (2019), o artista nos embala com seu pop tropical, inovando a cena musical paraense e brasileira com uma abordagem contemporânea e experimental.
O Sesc Teatro Prosa fica na Rua Anhanduí, nº 200.
Fonte:Correio do Estado