Nova morte faz de 2025 o segundo ano com mais feminicídios em Mato Grosso do Sul

Pela 32ª vez no ano, uma sul-mato-grossense é vítima de feminicídio no Estado. Analisando somente o período entre os meses de janeiro a outubro, 2025 já é o segundo pior ano em número de mortes de mulheres por companheiros e familiares, tendo o gênero como motivação, conforme dados da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp).

A vítima mais recente é Luana Cristina Ferreira Alves, de 32 anos, mãe de cinco filhos menores de idade, que foi assassinada com 11 facadas, por Gilson Castelan de Souza, de 48 anos.

Segundo consta no boletim de ocorrência, Luana estava sentada na varanda da empresa AP Máquinas, localizada no Bairro Jardim Colúmbia, onde Gilson trabalhava, quando o rapaz desferiu golpes com faca na região da nuca, das costas e do crânio.

Mesmo diante dos graves ferimentos, Luana conseguiu andar por cerca de 100 metros até uma casa e pedir socorro. Agostinho Dias, morador de uma residência, viu a mulher agonizando de dor, conseguiu colocá-la sentada em uma cadeira com a ajuda de outros vizinhos e notificou à polícia sobre a situação.

Ao chegar no local, a polícia se deparou com Luana gravemente ferida no chão da entrada da casa, já que não conseguiu ter forças para continuar sentada na cadeira. Fugitivo, o assassino foi flagrado por câmeras de segurança, correndo no sentido do Centro. 

Porém, horas depois, Camilo André Alvim, proprietário da empresa em que Gilson trabalhava, disse que entrou em contato com ele, que confirmou a autoria do crime e disse estar na Avenida Cônsul Assaf Trad.

Ao se dirigir até o endereço citado, Gilson foi localizado portando um celular e uma faca, a qual foi utilizada no crime. Mesmo com a confissão, ele se mostrou resistente e foi preciso contê-lo usando spray de pimenta, por causa de luta contra os policiais. 

Enquanto isso, Luana foi atendida pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que iniciou manobras de reanimação na vítima, que se encontrava em choque hipovolêmico, com extensa perda de sangue, o que ajudou a manter uma breve estabilização. Porém, minutos depois, ela voltou a apresentar complicações e morreu às 21h41min desta terça-feira.

Em conversa com o proprietário de um ferro-velho que fica ao lado da empresa onde o crime aconteceu, ele afirmou que viu Gilson outras vezes naquela região, mas que o rapaz mudou recentemente e que morava dentro da empresa, junto com outros funcionários.

Com este caso, este ano se tornou o segundo pior em feminicídios no Estado, com 32 vítimas. Comparando com o mesmo período (de janeiro a outubro) em outros anos, apenas 2022 apresentou dados piores, com 36 mortes, que ainda acumulou mais oito mortes em novembro e dezembro, finalizando com 44. 

Os dados são do portal de estatística da Sejusp, que ainda não adicionou ao sistema as mortes de Luana e da 31ª vítima, Solene Aparecida Ferreira Corrêa, de 46 anos, que foi morta no dia 21, em Três Lagoas, pela companheira. A última atualização aconteceu no dia 14, às 23h59min.

DE NOVO
Natural de Cuiabá (MT), Gilson tinha um mandado de prisão em aberto por um caso muito parecido em Várzea Grande (MT), cometido em 2022. Segundo divulgação de jornais locais à época, sua então esposa Sibelne Duroure da Guia, de 40 anos, foi encontrada morta com vários sinais de facadas na cabeça e pescoço.

O corpo foi descoberto pelo irmão de Gilson, que estava preocupado com o sumiço do casal, indo até a residência dos dois para tentar contato. Contudo, ao chegar no endereço, deparou-se com a porta fechada, mas conseguiu ver o corpo de Sibelne.

A Polícia Militar arrombou a porta para entrar na casa e encontrou sinais de briga, evidenciados pelas marcas de sangue nos móveis. Morta com 13 facadas, Sibelne deixou quatro filhos e estudava para ser técnica de enfermagem.

Desde então, Gilson estava foragido. De acordo com a Polícia Civil de Mato Grosso do Sul, ele não tinha antecedentes criminais no Estado.

MISOGINIA
Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2025, no ano passado, Mato Grosso do Sul foi o segundo estado do País com a maior taxa de assassinatos de mulheres pelos seus companheiros, com taxa de 2,4 por 100 mil habitantes, atrás apenas de Mato Grosso.

“Os números mostram uma situação grave, e o que eles não mostram compõe um cenário mais amplo que é ainda mais cruel e duro do que dizem os registros oficiais. Isso porque, quando falamos de violência de gênero, falamos de um fenômeno que continua sendo marcado por subnotificação, silêncio e naturalização social”, informa trecho do Anuário Brasileiro da Violência.

“Enquanto sociedade, por mais que estejamos gradualmente rompendo com a normalização dessas violências, ainda enfrentamos uma cultura que muitas vezes trata a violência contra a mulher como natural […]. Como algo que decorre da ordem regular das coisas”, completou.

*Saiba
A reportagem entrou em contato com a Sejusp para apurar os motivos do aumento no número de feminicídios este ano e quais políticas públicas estão sendo feitas em combate ao crime. Em resposta, a Pasta evitou explicar as causas do aumento nas ocorrências, mas citou alguns programas de ações de combate, como o Programa Estadual de Prevenção e Enfrentamento à Violência contra as Mulheres (Protege), instituído pelo Decreto nº 16.636/2025.

Fonte:Correio do Estado

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