Território da pesquisa “Bonito para quem?”, que contabilizou 463 animais mortos atropelados em 40 dias, as rodovias MS-178, MS-345 e MS-382 até têm pontos para facilitar a travessia da fauna, mas não insuficientes para poupar a vida dos bichos. O levantamento mostra que os animais morrem a 11 metros da área segura.
Portanto, de acordo com a pesquisadora Amanda Messias, a fauna não está sendo corretamente direcionada às passagens subterrâneas.
“É preciso direcionar o animal para a travessia. É muito pedir que ele, sozinho, atravesse de forma correta. Nem as pessoas passam na faixa de pedestre”, diz a bióloga.
Ferramenta para agregar dados aponta que muitos atropelamentos acontecem perto dos pontos de travessia para a fauna, sendo os 11 metros a menor distância identificada.
A pesquisa mapeou 40 passagens inferiores nas três vias: 19 pontes, 11 caixas secas e 10 bueiros simples. Desse total, são 21 estruturas na MS-345 (pavimentada em 2024 e conhecida como Estrada do 21), 13 na MS-178 (sete no sentido a Jardim e seis na saída para Bodoquena) e seis na MS-382 (sentido a Guia Lopes da Laguna).
“A grande maioria das passagens de caixa seca é ladeada por cercas rurais e impede a passagem da fauna. O cercamento que os ecologistas de estrada defendem é o amplo, não esse que restringe. O cercamento feito da forma correta indica ao animal como acessar a passagem”, afirma a bióloga.
Cerca rente a passagem subterrânea na MS-345, nova estrada para Bonito. (Foto: Amanda Messias)
Imagem mostra modelo de cercamento adequado, mais distante do túnel. (Foto: Via Fauna)
Ou seja, em vez de passar pelo túnel e, caso se vire para os lados, dar como focinho na cerca, o modelo sugerido é o que permite a locomoção dos animais pelas laterais, com o cercamento mais distante.
As recomendações da pesquisa para reduzir os atropelamentos dos animais são remoção das cercas inadequadas, limpeza dos túneis, ondulações transversais (lombadas) para redução de velocidade dos veículos e instalação de nove passagens superiores de fauna.
A chamada ponte de dossel garante a travessia segura para bugio, gambá, preguiça e macaco-prego. “Não está pedindo algo impossível de fazer, já tem as passagens mapeadas. A segurança dos usuários da rodovia está prevista na Constituição Federal. Lutamos por rodovias seguras para animais e seres humanos”, afirma a pesquisadora.
Mortes na “Estrada Viva” – Nos dois trechos da MS-178, foram 144 mortes de animais por atropelamento (142 no sentido a Bodoquena e 102 no sentido a Jardim). A MS-382 registrou 130 animais mortos em acidentes. Na MS-345, a estatística foi de 89.
Inaugurada em julho do ano passado, a MS 345 faz parte do projeto Estrada Viva, mas registrou aumento gradual de animais vítimas de atropelamento. Na nova rodovia, nos 100 quilômetros entre a BR-419 e Bonito, há até foto dos bichinhos. Como a que mostra o tatu e uma legenda: “com licença, vou passar, minha toca é do lado de lá”.
O limite de velocidade é de 80 km/h e a via estadual foi projetada para redução de colisões entre veículos e animais silvestres.
Contudo, o número de atropelamento foi aumentando aos poucos na MS-345. Em dezembro de 2023, foram nove. Em julho de 2024, o registro foi de 16 animais mortos.
A Agesul (Agência Estadual de Gestão de Empreendimentos) informou que está “no processo de contratação do cercamento para os principais pontos de travessia de fauna”.
Ainda conforme o órgão estadual, o lançamento da licitação está previsto para os próximos meses.
Espécies mais avistadas durante pesquisa. (Foto: Reprodução)
Fauna avistada – Durante o monitoramento, numa área que fica a 40 quilômetros do núcleo urbano de Bonito, foram avistados 210 animais, sendo 179 silvestres e 31 domésticos.
“Não são todas as pesquisas de ecologia de estrada que levantam o número de avistamentos. É muito importante esse registro, que dá dimensão de como os animais estão utilizando a área, o habitat. O macaco-prego foi a principal espécie avistada”.
Fonte: Campo Grande News