Precisamente 3,3 megatoneladas de carbono foram liberadas na atmosfera durante os incêndios que atingiram, entre maio e junho deste ano, as áreas florestais de Mato Grosso do Sul, com destaque ao Pantanal. O dado é do Serviço de Monitoramento Atmosférico do observatório Copernicus, da União Europeia.
Todo esse volume representa um recorde no Estado para os dois meses analisados. Os valores monitorados pelo observatório no mesmo período dos últimos 20 anos não chegaram à metade disso, como mostra o gráfico abaixo.
O aumento sem precedentes ocorreu num período atípico para o fogo se alastrar e em plena transição do outono para o inverno. A época com mais condições favoráveis tem seu auge em setembro.
Emitida mais cedo do que o esperado, a enorme massa com gases de efeito estufa é resultado de uma soma de fatores relacionados aos incêndios. A engenheira ambiental e diretora-executiva do IHP (Insituto Homem Pantaneiro), Yanna Fernanda cita alguns.
O número de focos no Pantanal disparou a partir de maio e se multiplicou atrelado à seca severa e altas temperaturas, cenário hídrico e, num contexto global, às mudanças climáticas”, diz.
Os dados sobre a quantidade de calor emitida pelo fogo, também no gráfico acima, mostram que a intensidade e extensão dos incêndios foram impressionantes e houve grande queima de biomassa, explica a especialista. Inclusive, confirmam o que vídeos e fotos divulgados à época mostraram: combatentes se desdobrando para apagar grandes muralhas feitas de chamas, que se espalhavam rapidamente pela vegetação e eram difíceis de apagar.
As emissões de carbono são calculadas combinando informações como a dimensão do incêndio, área afetada e intensidade do calor, explica a especialista. A publicação do Copernicus detalha que observações de satélite quase em tempo real de focos de calor e de instrumentos da NASA incorporados a satélites Terra e Aqua, compõem a análise.
Dos fatores que explicam o recorde, Yanna acrescenta que colabora o uso cultural do fogo nos biomas. Utilizá-lo para limpeza de terrenos, por exemplo, ainda é uma prática comum, embora isso possa fugir do controle e se tornar desastroso.
Os gases do efeito estufa não são respiráveis. Vão parar num nível mais elevado da atmosfera, formando uma densa camada responsável por elevar as temperaturas e derreter as geleiras, além dos impactos negativos em cadeia causados ao planeta.
Fumaça – Respirável com suas partículas poluentes chamadas de PM2.5, a fumaça dos incêndios começou a envolver Corumbá, no Pantanal sul-mato-grossense, também a partir de maio.
Professor e pesquisador do Laboratório de Ciências Atmosféricas da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Widinei Alves destaca que mapa presente no mesmo relatório sobre gases do efeito estufa do observatório Copernicus, mostra as principais origens da fumaça emitida até novembro. Bolívia e a Amazônia Legal são as regiões mais emissoras.
O monitoramento da qualidade do ar atualmente é feito somente em Campo Grande pela UFMS, desde 2021.
Este ano, o número de dias com qualidade do ar “ruim” e “muito ruim” foram maiores que os anteriores. Além disso, pela primeira vez, a Capital teve o registro de nível “péssimo”.
“Embora não tenha monitoramento em Corumbá, é possível inferir através do monitoramento da qualidade do ar na capital juntamente a essa imagens obtidas por satélite e modelos matemáticos, que a situação na região oeste do Mato Grosso do Sul foi pior do que em Campo Grande”, comenta Widinei.
O ano – O relatório do observatório Copernicus aponta que 18,8 megatoneladas de carbono foram emitidas ao longo do ano por Mato Grosso do Sul, a mais alta na comparação das duas últimas décadas.
Entre todas as regiões brasileiras, a Amazônia Legal fez o maior lançamento. Foram 176,6 megatoneladas de carbono emitidas, a taxa maior desde 2010.
“A América do Norte e a América do Sul foram as regiões que mais se destacaram nas emissões globais de incêndios em 2024. A escala de alguns desses incêndios atingiu níveis históricos, especialmente na Bolívia, no pantanal e em partes da amazônia”, pontua Mark Parrington, cientista sênior do serviço de monitoramento da atmosfera do Copernicus.
Fonte:Campo Grande News