Mãe há 13 anos e fotógrafa há 3, Fabrinny Piell se vê realizada na profissão que complementa seu maternar. Assistente social de formação, Fabrinny traçou um longo caminho até a fotografia. A mudança de carreira se deu pelo desejo de ter mais tempo com família, algo conquistado através da inserção no mercado de marketing digital.
“A maternidade me levou para esse lugar da fotografia. Na pandemia, eu estava trabalhando como assistente social e aí parou tudo, criança em casa. Tomei a decisão de sair para poder ficar em casa e nesse meio tempo eu fui vendo como poder ajudar. Aí eu encontrei no marketing digital e até como social media, uma forma de poder trabalhar estando com eles aqui. Mas aí chegou a época que os meus clientes precisavam de foto para divulgar o serviço. Então eu comprei uma câmera e fui conhecendo esse mundo da fotografia”, conta a fotógrafa.
Se é através do maternar que Fabrinny chegou aonde está, o oposto também é verdadeiro: por meio das lentes da câmera ela revive a própria maternidade. Mãe de Isac, de 13 anos, e Samara, de 10 anos, vive a magia singular de cada parto que fotografa.
“Eu não tive a oportunidade de ter parto normal e eu acho que esse é um momento que eu acabo vivendo aquilo junto com a cliente. Então, assim, eu me entrego ali, eu sempre falo, né, que eu vivo aquilo ali como se fosse pra mim. Então, todos os registros, tudo que eu faço dentro de uma sala de parto, é pensando nas clientes, mas também deixa uma marquinha em mim”, afirma.
Primeiros cliques
O primeiro ensaio de parto feito por Fabrinny aconteceu de forma amadora, antes mesmo da profissional desabrochar em si. Em 2021, propôs a uma amiga da igreja que a deixasse fotografar o parto, com o celular mesmo.
“E ela mais doida que eu deixou”, brinca Fabrinny. “Aí eu conheci esse mundo da fotografia de parto assim, fazendo foto de um parto natural em casa. E depois de um ano passado esse primeiro parto, uma outra colega da igreja ia ter na maternidade. Aí eu fui pesquisar como era para poder fotografar dentro da maternidade. Tinha um cadastro, tinha documentação que eu tinha que mandar, tinha que se adequar em algumas coisas e eu fui atrás. E foi assim que começou”, narra.
Parto premiado
Na última sexta-feira (20), Fabrinny Piell foi contemplada com o prêmio Outstanding Maternity Award, premiação que tem como objetivo reconhecer o trabalho de fotógrafos do mundo todo que retratam a maternidade.
Para Fabrinny, o maior ganho é o reconhecimento do seu trabalho. “Eu fiquei muito feliz mesmo quando eu vi, porque eu me sinto muito nova na fotografia. Eu sempre falo que eu comecei ‘ontem’. E isso é o que eu almejo mesmo, fazer que o meu trabalho seja visto e reconhecido.”
A fotografia de parto é uma caixinha de surpresas. E foi assim, surpreendendo, que o “clique” da fotografia premiada foi feito. A gestante ia ser levada até o centro cirúrgico para receber anestesia, mas não deu tempo. “Existe um padrão de foto que a gente espera dentro da fotografia de parto, mas nunca dá pra prever o que pode acontecer dentro de uma sala de parto.”
“A gente estava se arrumando para ir, tanto que até uma câmera minha eu já tinha posicionado lá no centro cirúrgico. E quando eu voltei pra sala ela já estava ali no expulsivo. Então foi aquela correria com a equipe e nasceu ali. Ela estava levantada porque já estavam indo pra lá [centro cirúrgico] e só deu tempo de segurar no marido, apoiar e foi. Por isso que ficou assim, ela mais no chão, porque foi bem esse momento”, explica a fotógrafa.
Fotografia real
Das críticas que Fabrinny recebe no trabalho a principal é o questionamento sobre a veracidade das cenas que retrata. Mas a fotógrafa esclarece que produz fotografias documentais, ramo da fotografia que conta histórias através de imagens espontâneas.
“No momento do parto, eu não interfiro em nada. A minha fotografia é documental. Eu vou registrar aquele momento como ele é, sem mudar, sem colocar nada. Então, eu não peço poses, eu não interfiro em nada. Eu sou assim, o mais discreta possível. Nas minhas edições não tem Photoshop, eu não altero o que é ali dentro daquele contexto”, explica.
“Tem gente que fala pra mim no direct, ‘Ah, até parece que isso é real’, ou ‘Ah, fica romantizando demais’. Mas assim, eu não tô romantizando nada, É aquilo que está acontecendo. E eu acho legal isso, porque acaba que eu consigo passar como a família realmente é”, complementa a fotógrafa.
No próprio tempo
Entre bebês apressados aqui e bebês calminhos ali, a agenda da fotógrafa de parto é tomada por possibilidades. “Quando é cesárea, é mais fácil a gente conseguir se organizar, porque provavelmente é naquela data prevista que a criança vai nascer. Já parto o normal, a gente nunca sabe quando, a hora, enfim. Então eu sempre fico em alerta, geralmente 10 dias antes e 10 dias depois da data prevista, já em sobreaviso, sabendo que a qualquer hora pode acontecer”, esclarece.
É tão verdade que não há como controlar o tempo dos bebês, que até dois partos ao mesmo tempo a fotógrafa já teve que encarar. “Eu estava com a cliente na maternidade, já no expulsivo, mas tinha uma outra que estava entrando em trabalho de parto na casa de parto. Então eu acionei minha backup, pedi pra ela ir me cobrindo até eu chegar lá. Acho que não deu nem uma hora de diferença. Eu também não trabalho sozinha, assim, justamente porque a gente sabe que pode acontecer imprevistos, então eu sempre preciso garantir que a minha cliente seja atendida.”
Último recurso
Partos são imprevisíveis. Podem ser fáceis ou difíceis, felizes do início ao fim ou preocupantes. E diante de toda essa imprevisibilidade, Fabrinny se agarra ao seu recurso mais forte: a fé.
“Teve três situações em que eu parei de fotografar e eu fui orar. Porque naquele momento era só um milagre de Deus mesmo na vida desses bebezinhos. Então, essa é uma conduta que eu tenho, assim. Enquanto tá tudo bem, tá tudo bem, eu vou fotografando. Mas quando tem alguma intercorrência, eu deixo de ser fotógrafa ali, pra eu poder falar com Deus. É só o Senhor nesse momento.”
Fonte:CE