O coletivo “Unidos da Serra da Bodoquena”, grupo que atua para conservação ambiental, divulgou nota sobre a reunião do Comdema (Conselho Municipal de Meio Ambiente), realizada na última sexta-feira (dia 26), em Bonito.
Os defensivos foram encontrados na Bacia Hidrográfica do Rio Formoso e não no próprio rio cênico, como chegou a ser informado pela Fundação Neotrópica do Brasil. Para o grupo, a situação não muda a preocupação central: o risco dos agrotóxicos para a natureza e a saúde das pessoas.
“A confusão conceitual sobre o ‘Rio Formoso’ e sua bacia hidrográfica não deve desviar o foco da questão central: a contaminação das bacias hidrográficas, especialmente de afluentes que alimentam o Rio Formoso. A importância da contaminação identificada nos afluentes, especialmente no Anhumas, não pode ser ignorada. Classificado como ‘especial’, o Anhumas deve manter um estado de pureza para preservar as comunidades aquáticas. A presença de oito tipos de agrotóxicos, incluindo o proibido carbendazim, aponta para uma séria ameaça à saúde ambiental e humana”.
Conforme o coletivo, é imperativo que as autoridades e os envolvidos na gestão ambiental priorizem a saúde ecológica da região, com ações concretas e sem discursos vazio. “A priorização de uma abordagem verdadeiramente sustentável da produção agrícola e a atualização das leis de proteção ambiental são medidas essenciais para assegurar um equilíbrio sustentável’.
Na reunião, foi apresentado levantamento da Fundação Neotrópica do Brasil. Na Bacia Hidrográfica do Formoso, há agrotóxico em três corpos hídricos. No Córrego Anhumas, foram detectados oito tipos de defensivos: simazina, atrazina, carbendazim, fipronil, imidacloprido, propoxur, quincloraque e tiametoxam. O carbendazim foi proibido pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em 2022. O fungicida é classificado como altamente tóxico para organismos aquáticos (microcrustáceos e peixes) e altamente persistente no meio ambiente.
De acordo com o biólogo Guilherme Dalponti, esse afluente do Formoso é enquadrado como classe especial. “Resolução do Conama [Conselho Nacional do Meio Ambiente] não permite que se tenha nenhum tipo dessas substâncias. A classificação de um rio leva em conta vários fatores, como a principal forma de uso, características naturais”, afirma.
Já os outros dois afluentes do Formoso com agrotóxicos – Mimoso e Córrego Bonito – são enquadrados como classe 2, ou seja, é permitido agrotóxico, mas com limite para as substâncias. Em ambos os casos, os defensivos estavam dentro do limite de 2 microgramas por litro.
“Outro ponto de crítica foi a tentativa de desqualificar o trabalho da Neotrópica utilizando com argumento o impacto da notícia sobre o turismo local. Argumentar pela falta de transparência, alegando um suposto prejuízo à imagem do ecoturismo é uma abordagem falha e desvia o foco da verdadeira ameaça a esta atividade, a alteração da paisagem e perda da qualidade da água dos rios da Serra da Bodoquena”, informa a nota.
Presente – Na Bacia do Rio do Peixe, o levantamento da Neotrópica detectou quatro substâncias no Córrego Pitangueiras, que é classe especial e não tem nenhum limite de quantidade de agrotóxico aceitável. Os achados foram tiametoxam, atrazina, fipronil e imidacloprido.
Na Bacia do Rio da Prata, as substâncias estavam no Rio Verde, que também é classe dois. A simazina e a atrazina estavam dentro do aceitável, enquanto que para imidacloprido e tiametoxam não há “nível previsto”.
De acordo com a presidente do Comdema, Marla Diniz Brandão Dias, o conselho deliberou pela criação de um programa de monitoramento de agrotóxicos nas águas da bacia hidrográfica do Rio Formoso.
O serviço será mediante contratação de empresa ou entidade parceira, com metodologia científica, considerando os diferentes usos e ocupações do solo e impactos climatológicos. Também terá a participação dos conselheiros no acompanhamento de coletas e análises, para nortear as políticas públicas de meio ambiente na região.
Cárstico – A Serra da Bodoquena tem o chamado ambiente cárstico: cavernas, dolinas (depressão no terreno) e abismos. Desta forma, o solo se mostra frágil do que em outras regiões de Mato Grosso do Sul. A região engloba Bonito, Jardim, Bodoquena e Miranda.
Fonte:CGN