Na última reunião extraordinária do COMDEMA de Bonito, um claro esforço de desqualificação dos dados apresentados pela ONG Neotrópica foi evidente. Essa tentativa de negar as informações, que envolvem a contaminação das Bacias Cênicas de Bonito e Jardim, incluindo afluentes dos Rios Formoso da Prata e do Peixe, gerou debates intensos e questionamentos sobre a validade dos dados e a metodologia usada. No entanto, é fundamental considerar a seriedade das informações apresentadas e a relevância de adotar medidas eficazes para a proteção ambiental.
Primeiramente, as críticas se concentraram na metodologia da Neotrópica, alegando não haver repetições temporais, entretanto, o estudo se refere a uma análise qualitativa, com o objetivo de identificar as substâncias presentes. O caráter exploratório das análises não deve diminuir a importância dos dados coletados, e sim direcionar os esforços da sociedade em direção a uma análise mais aprofundada, especialmente quando complementados por outras fontes confiáveis. O professor Drº Felipe Martins, especialista em Ciências Ambientais e Sustentabilidade Agrícola, reforçou, durante a reunião do COMDEMA a confiabilidade do laboratório onde as análises foram realizadas, destacando sua certificação pelo INMETRO, o reconhecimento internacional e extensos currículos dos responsáveis pelo laboratório Drª Martha Bohrer Adaime, Drº Renato Zanella e Drº Ormar Damian Prestesresponsável técnica pelo laboratório. Esses pontos são cruciais para validar a qualidade das análises, em contraponto às alegações de desqualificação.
Além disso, a confusão conceitual sobre o “Rio Formoso” e sua bacia hidrográfica não deve desviar o foco da questão central: a contaminação das bacias hidrográficas, especialmente de afluentes que alimentam o Rio Formoso. A importância da contaminação identificada nos afluentes, especialmente no Rio Anhumas, não pode ser ignorada. Classificado como “especial”, o Anhumas deve manter um estado de pureza para preservar as comunidades aquáticas. A presença de oito tipos de agrotóxicos, incluindo o proibido Carbendazim, aponta para uma séria ameaça à saúde ambiental e humana.
Outro ponto de crítica foi a tentativa de desqualificar o trabalho da Neotrópica utilizando com argumento o impacto da notícia sobre o turismo local. Argumentar pela falta de transparência, alegando um suposto prejuízo à imagem do ecoturismo é uma abordagem falha e desvia o foco da verdadeira ameaça a esta atividade, a alteração da paisagem e perda da qualidade da água dos rios da Serra da Bodoquena. O turismo de Bonito depende de um ecossistema saudável, e estudos como o da Neotrópica são essenciais para garantir a sustentabilidade a longo prazo. Desconsiderar as evidências científicas em nome de interesses econômicos imediatos pode resultar em danos irreparáveis para a região.
A questão também está longe de ser uma novidade. O Portal “Conexão Água”, criado pelo Ministério Público Federal, já possui dados desde 2014 que indicam a presença de agrotóxicos na água de consumo dos moradores, em Bonito e muitos outros municípios do estado de Mato Grosso do Sul. Essa realidade
confirma que a contaminação da água e do solo é um problema que permeia nossa relação com o meio ambiente. Ignorar estes dados e a sabedoria popular dos moradores locais, que observam a expansão da monocultura industrial e seus impactos negativos, é uma abordagem irresponsável e contraproducente.
A falta de ação efetiva, como demonstrado pelo Grupo de Trabalho do Rio Formoso, que focou em fiscalizar ranchos e decks turísticos, abordando de forma incipiente as questões relacionadas ao desmatamento, conversão do uso do solo e contaminação, reflete a necessidade urgente de uma reavaliação das prioridades. Somente a mobilização da comunidade e uma abordagem integrada para a proteção ambiental podem garantir que o ecossistema de Bonito seja preservado.
Portanto, é imperativo que as autoridades e os envolvidos na gestão ambiental priorizem a saúde ecológica da região. A priorização de uma abordagem verdadeiramente sustentável da produção agrícola e a atualização das leis de proteção ambiental são medidas essenciais para assegurar um equilíbrio sustentável. O verdadeiro compromisso com o meio ambiente deve ser refletido em ações concretas e não em discursos vazios. Preservar a integridade dos recursos hídricos e o ecossistema local é vital não apenas para o turismo, mas para a saúde e bem-estar de todos os habitantes de Bonito.
Fonte: Unidos Serra da Bodoquena