Novamente em solo sul-mato-grossense, o fotojornalista e referência nacional em fotografia de natureza, Araquém Alcântara, chegou a Corumbá na última quarta-feira (26) e passou quatro dias documentando o fogo que assola a região pantaneira.
Em entrevista com a reportagem, o fotógrafo comentou sobre a importância da fotografia como ferramenta de divulgação das emergências climáticas. Ele conta que fez a viagem até a cidade de carro, com o objetivo de fotografar os incêndios na região do Rio Paraguai.
Ao chegar lá, deparou-se com um cenário de vasta destruição, com parte do bioma em chamas e centenas de animais mortos. A cena foi bastante parecida com a que ocorreu em 2020, ano em que foram registradas uma das piores queimadas no Pantanal, também registradas por Araquém.
O rastro de destruição deixado pelo fogo impacta, mas também gera revolta, e nestes momentos, sua única arma para lutar a favor do bioma é sua câmera.
“[Visto] de cima é impressionante, a destruição. Agora, os eventos climáticos, como catástrofes climáticas, fogo e água, serão constantes. Então, às vezes, tenho uma sensação de déjà vu, aquela sensação de tudo se repetindo. E meu trabalho é gritar, denunciar, mas sempre focando na beleza e na resistência”, diz.
Por lá, ele acompanhou de perto a ação das autoridades no combate aos incêndios e afirma que, quando chegou, havia apenas um helicóptero jogando água. Araquém critica a falta de resposta rápida nas ações de combate, diante da grandeza da tragédia.
“Essa seca era previsível há muito tempo. O governo federal chegou tarde em Corumbá, depois que grande parte do fogo já estava controlado. Chegaram praticamente sem informação da grandeza dos danos. É preciso reagir, é preciso se indignar, é preciso denunciar. Fernando Gabeira falou que nós vamos ser conhecidos como uma civilização que matou árvores e bichos. É horrível, mas é por aí”, afirma Araquém.
Por meio de seu trabalho, Araquém busca traduzir em imagens a beleza da biodiversidade dos biomas brasileiros, e também denunciar os impactos que as mudanças climáticas, desmatamento e queimadas desenfreadas causam no meio ambiente, sobretudo na qualidade de vida de futuras gerações.
Em cinco décadas percorrendo o Brasil, ele declara que se fosse ranquear as cenas mais impactantes que já viu, as queimadas no Pantanal estaria em terceiro lugar, pedindo apenas para a Amazônia e a mata atlântica.
“O meu trabalho virou uma crônica do extermínio. Mas continuo pensando como o Vinícius de Moraes: a beleza é fundamental. Busco o que está vivo, e o Brasil ainda tem a condição de manter seus biomas e sua biodiversidade, que é sua maior riqueza, principalmente salvando a Amazônia. Eu estou fazendo a minha parte como intérprete do Brasil, como um fotógrafo andarilho. Por isso agora estou ensinando isso tudo para as novas gerações”, declara o fotógrafo.
Passagem por Mato Grosso do Sul
Araquém tem 54 anos de carreira dedicados a documentar as alterações climáticas, crimes cometidos contra a natureza e comunidades espalhadas pelo país. Em sua trajetória, também já publicou 61 livros, sendo três destes sobre o Pantanal.
Formado em jornalismo, ele já trabalhou para diversas emissoras nacionais, e agora foca em seus projetos pessoais. No momento, trabalha no lançamento de seu próximo livro, que será uma retrospectiva de seus 50 anos de trabalho registrando a natureza, com previsão de publicação para 2025.
Araquém visitou o Pantanal pela primeira vez em 1986, e também já documentou as regiões do Rio Taquari e Serra do Amolar. O momento mais marcante do fotografo em Mato Grosso do Sul, foi quando teve a oportunidade de fotografar duas onças namorando, no Corixo Mata do Cachorro, na Serra do Amolar. “Eu nunca tinha fotografado, em 50 anos, duas onças namorando. E duas onças namorando a gente nunca esquece”, relembra.
Em sua passagem pelo Estado, também fez amizade com o poeta Manoel de Barros, que escreveu o poema “Meu Pantanal Lateja Infantil”, em homenagem a ele. O poema consta, inclusive, em seu livro sobre a Serra do Amolar.
Futuramente, o fotógrafo declara que gostaria de voltar a Mato Grosso do Sul, por uma razão que não seja motivada por um cenário de destruição e emergência. “O Mato Grosso do Sul é, como diria o Manuel de Barros, uma sinfonia de belezas. Não queria vir só para fotografar onça morta e queimadas. Quero fotografar a cultura também. Você já imaginou a riqueza da cultura pantaneira? Vale fazer um livro”.
Fonte:CGN