Com mais de seis décadas de carreira e papéis de destaque no cinema, na televisão e no teatro, Antônio Pitanga será uma das atrações da programação deste sábado na 8ª Feira Literária de Bonito (Flib).
O ator baiano de 85 anos, pai de Camila e Rocco Pitanga, fará uma palestra na data, às 9h, no lounge do evento, sobre “A Literatura e o Cinema Novo Brasileiro”, tema que certamente conhece muito bem, seja como leitor, seja como profissional da cena.
Nascido em Salvador (BA), em 1939, Pitanga pertence à geração de artistas brasileiros que teve no chamado romance regional uma das principais fontes de aprendizado sobre a cultura do País.
Alguns anos adiante, ele mesmo, com seu trabalho de ator, estampou na tela em clássicos do cinema novo que transpuseram de maneira inovadora e exitosa as páginas de autores como José Lins do Rego (1901-1957), autor de “Menino de Engenho” (1932), romance que virou o seminal longa de estreia de Walter Lima Júnior, lançado em 1965.
Pitanga, que nasceu no dia do santo que lhe deu nome, em 13 de junho, foi desde batismo e cartório Antônio Luiz Sampaio. O sobrenome artístico com o nome do fruto da pitangueira veio com a participação em “Bahia de Todos os Santos” (1960), filme do paulista Trigueirinho Neto (1931-2018) que bebe na obra de Jorge Amado (1912-2001). E ficou para sempre.
Foi chamando-se assim que atuou na grande maioria dos 60 filmes e mais de 30 novelas e séries na TV – “O Clone” (2001), “Celebridade” (2003), “A Próxima Vítima” (1995), etc. – que lhe dão camisa. No teatro, a montagem mais conhecida da qual participou foi a versão brasileira de “Hair”, com texto de Renata Pallottini (1931-2021), que causou sensação em plena ditadura militar, entre 1969 e 1972.
Casado com a deputada federal Benedita da Silva (PT), o ator teve a sua trajetória vertida em samba-enredo em 2019 – “Antônio Pitanga, Um Negro em Movimento” –, pela escola de samba Unidos do Porto da Pedra, a qual, naquele ano, ficou com o terceiro lugar pelo desfile na Marquês de Sapucaí.
“A minha paixão e o que me nutre é gente. Gente é meu alimento. Não existe maior riqueza. Não é o dinheiro, não é o ouro, não é o petróleo, não é o minério, são as pessoas que te recebem bem”, declarou Pitanga durante uma entrevista no ano passado.
Na mesma ocasião, revelou o segredo de seu jeitão sempre bem-disposto e jovial.
“É olhar essa juventude sem ficar preso no retrovisor dizendo ‘minha época era assim’. Minha época é conversando com meus netos, bisnetos, bebendo nessa fonte. Meu tempo é hoje. Segundo Paulinho da Viola, meu tempo é agora. É isso o que faz que a vida te vitamine”, disse o ator.
PROGRAMAÇÃO
A Flib toma conta das ruas de Bonito a partir desta quarta-feira e seguirá até este sábado, versando com a sua extensa programação 100% gratuita sobre o tema “Literatura: Fronteiras e Travessias”. Além da literatura e do cinema, o teatro e outras formas de expressão preenchem os eventos com nomes locais e de outros estados.
Nesta edição, a Flib explorará as “diversas fronteiras que permeiam as letras e a vida”, abordando aspectos como gênero, cultura, política, limites geográficos e divisões de raça e etnia. A literatura, destacada como um espaço de transbordamento e imaginação, será utilizada como um meio para provocar debates sobre trocas de saberes e vivências, especialmente relevantes para a comunidade de Bonito e Mato Grosso do Sul.
Dezenas de atrações já estão confirmadas. Na literatura, além de escritores regionais como Douglas Diegues, Vini Willyan, Eva Wilma, Nycolas Verli, Diana Pilatti, Tânia Souza, Josiane Francisco, Adriana Alberti, Marlene Mourão, André Ramalho, Isloany Machado e dos quadrinistas Marina Duarte, Dudu Azevedo, Fábio Quill, Fred Hildebrand, grandes nomes de renome nacional também marcarão presença, como Socorro Acioli, Jeferson Tenório, Geovani Martins, Janaina Tokitaka, Kaka Werá, Susana Ventura e Jô Freitas.
A programação traz ainda oficinas literárias, rodas de conversa e palestras. Os homenageados deste ano são Hélio Serejo (1912-2007), reconhecido escritor e poeta de Nioaque; Graciliano Ramos (1892-1953), famoso romancista e cronista alagoano; e Aglay Trindade (1934-1998), escritora aquidauanense que dedicou suas obras à vida pantaneira e suas histórias.
No palco principal, as atrações serão Guga Borba e Érica Espíndola & Flávio Bernardo (quarta-feira), Slam Camélias e VozMecê (quinta-feira), a banda Tukum (RJ) e Corvo e os Malditos do Cerrado (sexta-feira) e Maria Alice & Pedro Ortale e Jerry Espíndola (sábado).
A Tukum intercala suas canções com performances de dança contemporânea e poesia falada e tem como inspiração os mestres e diretores teatrais Zé Celso (1937-2023) e Amir Haddad. Já a Slam Camélias faz batalha de poesias “das minas e da comunidade LGBTQIAPN+”.
Haverá ainda oficinas de cinema (com a cineasta Marinete Pinheiro) e de teatro (com a atriz e diretora Ligia Tristão Prieto).
FLIBINHA
As crianças também terão espaços exclusivos, como a Tenda Flibinha, e uma programação pensada especialmente para elas. Além de um circuito cultural infantil, haverá contação de histórias com Badaiá e a oficina “Palavras Poéticas”, com Vini Willyam. Ramona Rodrigues preparou um varal de brinquedos, seguido de oficina.
Voltado para crianças na idade e no coração, a atriz Amarilis Irani apresentará o espetáculo “Emaranhada”, que conta a história de Mavi, uma menina muito comunicativa e inventora de palavras. Dona de uma cabeleira enorme, ela faz dos cabelos o caminho para encontrar a aceitação, trazendo a força, a beleza e a poesia da representatividade negra.
A meninada também se divertirá com a Cia Apoema e seu espetáculo “Requebra Torto”, o qual, entre cantigas e cambalhotas, provoca o imaginário comum em torno do circo e das brincadeiras de infância, da rua, do interior, “mexendo com o velho-novo” em cada pessoa.
A Feira Literária de Bonito é realizada pelo Instituto Imole, organizada pela Bolt Realizações e tem o apoio do Sistema Fecomércio, do Sesc-MS, do deputado federal Vander Loubet (por meio de emenda parlamentar), da prefeitura de Bonito e da Secretaria Municipal de Turismo, Indústria e Comércio de Bonito.
Ainda, conta com o investimento da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, da Secretaria de Estado de Turismo, Esporte e Cultura (Setesc), do governo de Mato Grosso do Sul e do Ministério da Cultura. Saiba mais sobre a Flib em @flibonito (Instagram).
Fonte:CE