A impressão que se tem ao percorrer algumas rodovias de Mato Grosso do Sul é que alguém passou, deliberadamente, atropelando os animais e transformou as vias em um verdadeiro cemitério a céu aberto.
A reportagem teve a oportunidade de passar por três trechos da região oeste e registrar uma quantidade significativa de animais, de várias espécies, mortos por atropelamento.
Antas, bezerros, tamanduás, quatis e outros pequenos mamíferos. O rolo compressor em que se tornaram a BR-262, MS-339 e MS-178, não distingue a próxima vítima. O comportamento banal de viajar olhando a estrada vira um exercício, até certo ponto, angustiante de quando e qual será o próximo bicho morto a ser encontrado e o pensamento de qual o contexto daquele acidente.
Em uma das cenas mais impactantes, na BR-262, na tarde deste domingo (9), um tamanduá adulto parecia ter sido atropelado poucas horas antes, pois ainda havia sangue não coagulado escorrendo pela rodovia. Na margem oposta, outro tamanduá, mas filhote, também estava morto. Aquela altura já não era mais possível saber a dinâmica das duas mortes.
Segundo Arnaud Desbiez, fundador e coordenador do projeto Bandeiras e Rodovia, do Icas (Instituto de Conservação de Animais Silvestres), o tamanduá é uma das espécies que mais sofre com atropelamentos. Conforme levantamento do projeto, é registrado 20% a mais de mortalidade em animais dessa espécie que vive num raio de 2 km da rodovia 262.
“É aterrorizante andar pelas rodovias de Mato Grosso do Sul. Essa é uma tragédia anunciada, nós sabemos tudo, os locais e períodos com mais incidência”.
Outro ponto levantando por Arnaud é que, para além dos animais, nós temos que olhar para o impacto disso nos humanos. “Temos que ver quem são as pessoas que eventualmente bateram nesses animais, o que aconteceu com elas, quais os traumas essa batida deixou. Morreu alguém? Alguém ficou gravemente ferido? Temos que olhar pra tudo isso”, afirma.
Ainda na BR-262, uma anta já está em estado avançado de decomposição. O que chama atenção, além do tamanho do animal, é que em uma das patas traseiras, há um pedaço de arame enrolado, como se tivesse enroscado em algum momento da travessia.
Conforme dados do ICAS, no trecho da 262 entre Campo Grande e o a ponte Rio Paraguai, são encontradas 150 novas carcaças de animais mortos a cada 15 dias.
Ao todo a reportagem fez mais de 20 registros de animais mortos no trecho entre Campo Grande e Bonito, percorrendo as rodovias BR-262, MS-339 e MS-178.
Esforço do poder público – Para mitigar as mortes no trânsito e a questão ambiental, a Agesul (Agência Estadual de Gestão de Empreendimentos de Mato Grosso do Sul) desenvolveu o programa “Estrada Viva – a fauna pede passagem”, um programa permanente de monitoramento e ações de redução de atropelamento de animais silvestres nas rodovias estaduais do MS.
O programa monitora os atropelamentos ocorridos nas rodovias estaduais, identifica os principais pontos de passagem dos animais para propor medidas preventivas e de mitigação dos incidentes.
Porém, segundo Arnaud, as medidas tomadas até o momento não parecem ser suficientes. Ele propõe que, conforme diversos estudos do ICAS a medida mais efetiva é o cercamento dessas rodovias.
“O que impede de fato a passagem do animal na via é a obstrução dessa passagem. Já foi provado que radar e sinalização não resolvem o problema da morte do animais.
Polícia Militar Ambiental – Autoridade de fiscalização ambiental, a PMA (Polícia Militar Ambeintal) acaba desempenhando um papel posterior na questão dos atropelamentos. A Lei 9605/98 estabelece que matar, perseguir, caçar, apanhar ou utilizar espécimes da fauna silvestre é considerado crime ambiental, o que significa que a PMA atua em qualquer situação prejudicial aos animais silvestres. Isso inclui atropelamentos, mas só onde o condutor pode ser punido se o atropelamento for intencional.
“No caso do atropelamento não intencional, se o animal estiver vivo após o atropelamento, a população pode acionar a unidade mais próxima da PMA ou outra autoridade ambiental para fazer o resgate. Se o animal vir a óbito, é recomendável que, se possível e seguro, o condutor remova o animal da pista ou informe o órgão competente mais próximo”, como explica a tenente, Eveny Crisitiane Lino Parrela.
Dicas – Segundo Eveny, exisitem algumas dicas para evitar atropelamentos de animais em rodovias. Umas delas é manter a velocidade permitida na via. “Durante o amanhecer ou o final da tarde, quando os animais estão mais ativos. Observe a sinalização da estrada, especialmente aquelas que indicam a presença de animais silvestres na região. Ao se aproximar de cursos d’água, áreas de reserva, matas ou lavouras, reduza a velocidade, pois são locais onde os animais buscam água ou alimento”.
Se você avistar um animal silvestre atropelado na pista, entre em contato com a Polícia Militar Ambiental (PMA) mais próxima.
Fonte:CGN