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Dia do Meio Ambiente: Imasul roda 10 mil km por mês para avaliar rios do MS

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Com rede de monitoramento em 75 rios, o Imasul (Instituto de Meio Ambiente) tem equipes que rodam dez mil quilômetros por mês para buscar amostras por todo Mato Grosso do Sul.  O destino final da viagem é o prédio do instituto, no Parque dos Poderes, em Campo Grande. Nos laboratórios, o pé na estrada se converte em olhar atento para o controle das amostras, que neste reino das águas, revelam um retrato da qualidade dos corpos hídricos.

“Nós temos logística para atender a 198 pontos. Por mês, em média, a gente percorre 10 mil quilômetros nas rodovias. E ainda tem a parte que vai embarcado, por água. Tem uma viagem que desloca de Campo Grande até Sonora [trecho de 362 km]. De lá, desce uma equipe por água percorrendo os rios Correntes, Piquiri, Itiquira, o São Lourenço e o Paraguai. São 12 pontos visitados. Dá uma distância de 760 quilômetros só de água”, afirma Francisco Gilvanci dos Santos, chefe da Unidade de Laboratório do Imasul.

Por ano, são quatro visitas a cada ponto de coleta. A periodicidade é para analisar como a água se comporta a cada estação, incluindo períodos de cheia e de estiagem. O princípio do monitoramento é fazer coletas na nascente, meio e foz do curso de água.

Em 29 de maio, dia em que a reportagem esteve no complexo de laboratórios do Imasul, os profissionais analisavam amostras vindas das UPGs (Unidades de Planejamento e Gerenciamento) de Iguatemi e Rio Verde, que pertencem à Bacia do Rio Paraná.

Jornada da água – Mas a primeira parada nessa jornada da água é a preparação do material. É preciso saber com antecedência que matriz será coletada (água superficial, efluente) e quais os parâmetros que serão analisados nos laboratórios físico-químico e de bacteriologia. Na bagagem, os baldes da coleta são levados esterilizados para evitar contaminação. Enquanto que a amostra é retirada de profundidade que varia de 20 centímetros a 30 centímetros.

Na coleta, ainda é preciso seguir a cadeia de custódia, com preenchimento de ficha com informações sobre o ponto visitado. É preciso registrar, por exemplo, se as margens são preservadas ou não, ou se choveu durante a capação da amostra. Nesta etapa, chamada de ensaio de campo, o controle ainda inclui anotar, imediatamente, os resultados dos exames feitos no local. As informações também ficam gravadas no equipamento.

No caso, a sonda multiparâmetros, dispositivo portátil de última geração. Ela fornece dados como pH da água, condutividade, oxigênio dissolvido, turbidez e temperatura. Os primeiros resultados já  são capazes de revelar poluição.

O raio-x da água inclui medição da vazão, com equipamento que atravessa o corpo hídrico de uma margem a outra. “Teoricamente, o rio pulsa. E a cada 12 minutos  pode ter essa variação. O aparelho faz a medição da velocidade da água, profundidade e largura do rio”, diz Francisco. Com a profundidade,  largura e velocidade, determina-se a vazão.

Técnicos usam equipamento para medir a vazão da água no Rio Dourados. (Foto: Divulgação/Imasul)

E nessa etapa, o Imasul fez inovação que teve reconhecimento nacional. O aparelho de medição de vazão, importado dos Estados Unidos, utilizava 32 pilhas, que foram substituídas por bateria desenvolvida pelo instituto.

“Hoje, a bateria é utilizada a nível nacional. A Agência Nacional de Águas ‘comprou’ nossa ideia e desenvolveu para atender os outros aparelhos”, destaca o chefe do laboratório. Há quase duas décadas no Imasul, Francisco é técnico em Química e engenheiro de controle e automação. “Busquei a engenharia para ver se contribuía também com a questão tecnológica para o meio ambiente”.

Em rio pequeno, com porte de até 1m20 de profundidade, o técnico entra para fazer a medição. Nos grandes, como o Miranda e o Paraguai, a medição é com o equipamento e o profissional vai embarcado.

Ácido e gelo – Coletada as amostras da bateria de exames, elas são preparadas para viajar até Campo Grande. Os ácidos fixam os elementos, enquanto o gelo mantém a temperatura. Todos os procedimentos seguem referências nacionais e internacionais para serem validados.

“Quando você tira líquido em quantidade pequena de um ambiente que quer representar, tem que ter todo cuidado para não degradar essa amostra. Por isso, preserva com ácido e gelo, numa temperatura igual ou menor a 6ºC”, explica Francisco.

Quando chega na amostragem, em Campo Grande, o material passa por medição de temperatura para atestar que seguiu o parâmetro de referência.

Material no laboratório do Imasul, em Campo Grande. (Foto: Henrique Kawaminami) –

Todos os rios – Pelos laboratórios do Imasul passam as águas dos 75 corpos hídricos monitorados. Nas pequenas amostras, murmúrios dos rios vão contar como anda a saúde desse líquido, que atende a consumo, turismo, economia ou beleza cênica.

Na análise físico-química, são realizadas as séries de sólidos, nitrogenados, orgânicos. O exame mais demorado é o de DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio). A amostra fica cinco dias na incubadora para medir o aumento ou diminuição do oxigênio. O aparelho apresenta as leituras inicial e final.

Noutra sala, surge o cromatógrafo iônico, que separa as partículas de águas para análise. O equipamento é capaz de fazer em 35 minutos o exame que no modo manual demandaria todo o dia.

No laboratório físico-químico a busca também é pela redução dos próprios resíduos. Desenvolvimento de nova metodologia vai permitir que três litros de resíduos se tornem 10 ml (mililitros).

No laboratóro de bacteriologia, tubos serão substituídos por placa com cápsula. (Foto: Henrique Kawaminami)

A última parada das amostras dos corpos hídricos é o laboratório para detectar presença de bactérias. Se a água coletada ficar amarela é sinal da presença de coliformes fecais. A metodologia, chamada de substrato cromogênico, também passa por inovação.

Dezenas de tubos serão substituídos por uma placa com cápsula. O formato é vantajoso por ter menor manipulação e menos risco de contaminação. Na sequência, a placa vai para um aparelho com lâmpada ultravioleta. A imagem do azul fluorescente é bonita, mas comprova a presença de bactéria.

A amostra que tiver a fluorescência azul indica o crescimento da Escherichia coli, a E. coli, bactéria exclusiva do trato intestinal de animais de sangue quente, incluído o ser humano.

Contudo, só as amostras coletadas mais próximas a Campo Grande passam por essa etapa, posto que a validade é de 24 horas. O plano é obter um equipamento para a análise já no rio, local da coleta.

A bióloga Rosângela Queiroz mostra placa usada em nova metodologia. (Foto: Henrique Kawaminami)

Os resultados das baterias de exames abastecem o estudo “Monitoramento da Qualidade das Águas Superficiais de Mato Grosso do Sul”, que tem publicação anual.

O levantamento utiliza o IQA (Índice de Qualidade da Água), resultante da análise de parâmetros físicos, químicos e biológicos, selecionados de acordo com os usos do solo e dos recursos hídricos. A escala vai de 0 a 100. Quanto maior a pontuação, maior a qualidade.

 A água e as leis – O monitoramento dos corpos hídricos é instituído pela Lei 6.938 (Política Nacional do Meio Ambiente), que estabelece o acompanhamento do estado da qualidade ambiental.

Outros instrumentos são a Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei 9.433), a Lei Estadual 2.406 (Institui a Política Estadual dos Recursos Hídricos) e a Resolução 357 do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente), que dispõe sobre a “classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes”.

Amostra que tiver a fluorescência azul indica o crescimento da bactéria Escherichia coli. (Foto: Henrique Kawaminami)

Além da Deliberação 36 da Ceca (Conselho Estadual do Controle Ambiental), que veio assegurar a qualidade da água, adequada para o uso atual e gerações futuras. Em Mato Grosso do Sul, a responsabilidade pelo monitoramento dos corpos hídricos é do Imasul. O instituto também é acionado em casos de acidentes ambientais.

Nesta semana, os técnicos participam de três dias de treinamento sobre sistema de gestão da qualidade e boas práticas no laboratório. “Não é só investir em tecnologia, mas a capacitação das pessoas também é importante. Assim como a biossegurança”, destaca Francisco.

Solange Moraes de Paula é líder técnica de laboratório do Imasul. (Foto: Henrique Kawaminami)
Solange Moraes de Paula é líder técnica de laboratório do Imasul. (Foto: Henrique Kawaminami) Fonte:CGN

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