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De Campo Grande à Inglaterra, blues rock de MS promove shows para arrecadar doações em prol do RS

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Quase quatro décadas depois do Live Aid, em 1985, a maior mobilização de roqueiros já vista em prol de uma causa social (combater a fome na Etiópia), o blues rock de Mato Grosso do Sul está fazendo barulho para tentar ajudar o povo gaúcho, que sofre com grandes volumes de chuva desde o dia 27 de abril. E a coisa já começou a dar resultado.

A noite de rock solidário, pilotada pela frontwoman Leca Harper, no pub O Irlandês, na segunda-feira, reuniu seis atrações e um tanto de doações que “a gente vai contabilizar melhor”, mas que deu para encher “uma Doblô e uma Fiat Strada de doações que serão entregues para envio ao RS”.

Do outro lado do Atlântico, em Londres, capital da Inglaterra, o guitarrista Luis Ávila está à frente de um festival, a ser realizado neste sábado, a partir das 16h (11h no horário MS).

“Vivemos em um mundo onde existe injustiça, desbalanço. Algumas pessoas ignoram isso, algumas pessoas decidem trabalhar por um mundo mais igual, e eu sou uma pessoa que decidiu não cruzar os braços porque, enquanto tiver gente passando fome e não tendo as mesmas oportunidades, a gente precisa lutar contra isso”, afirma o guitarrista, que começou a colocar a mão na massa para concretizar o London to Porto Alegre Music Festival uma semana antes do evento, no dia 11, assim que conseguiu um espaço para a iniciativa.

MIGUELITO PRESENTE

As seis atrações que tocaram de graça, na segunda-feira, no pub O Irlandês, que fica na Avenida Afonso Pena, quase em frente à Morada dos Baís, foram Gio Resquin, Prepotentes, Leca Harper & A Cozinha Cabeluda, Lua e Os Cometas, Coquetel Blue e o DJ Diego DS.

“Fora a casa, que cedeu o espaço e o time”, diz Leca Harper, incluindo a importância do pub na viabilização do Rock Solidário.

À frente da banda A Cozinha Cabeluda, em formação de trio, com Guilherme Napa fazendo a bateria e dividindo os vocais e Gabriel Curumim no baixo, a cantora e guitarrista apresentou canções de seu repertório autoral e versões de clássicos do rock brasileiro, como “Bete Balanço” (Barão Vermelho), e de movimentos como o Clube da Esquina.

Para registro: além dos integrantes do grupo Os Alquimistas, que estavam lá a serviço da Coquetel Blue, projeto paralelo que mantêm em parceria com Pedro Espíndola, marcou presença o celebrado multi-instrumentista Jaime Miguel Barrera, conhecido como Miguelito, um veterano de bastante prestígio e influência na cena local, que foi homenageado pelo Campo Grande Jazz Festival em março e marcou presença no pub como batera do Prepotentes.

A contagem de público de Leca bate com a estimativa do repórter.

“De plateia, tivemos mais de 120 pessoas na casa, fora os que só vieram para deixar as doações”, celebra.

“A gente fica muito feliz com o ocorrido, de poder ajudar o próximo, e isso com a nossa arte. O melhor de tudo é sentir uma positividade, alimentando nossa crença de que o nosso melhor reside no bem, na empatia, no se preocupar e se mobilizar pelo outro. O que está acontecendo lá [RS] toca o mundo e a gente está tentando dar uma força”, diz a artista.

DO RS E DE MS

Radicado em Londres desde 2018, fora outros períodos em que viveu na cidade, o paulistano – de coração e alma campo-grandense – Luis Ávila mora na Fulham Road, próximo do Stamford Bridge, o estádio do Chelsea, e a menos de 10 quilômetros do Temple of Art and Music (TAM) do Mercato Metropolitano, na Newington Causeway, onde será o festival de música London to Porto Alegre.

“Maior zoeira aqui em dia de jogo”, diverte-se Ávila, renomado instrumentista na Capital Morena, com serviços prestados a grupos como Bêbados Habilidosos e Blues Band, que ajudaram a diminuir a distância entre o Mississippi e o Rio Paraguai.

“Fregueses do meu Curintcha [Corinthians]”, segue, com o humor, o slowhand, como se chama no meio bluesy os grandes guitarristas, graças à genialidade de Eric Clapton.

É com entusiasmo que ele fala sobre os parceiros de lineup deste sábado no TAM. O “templo” tem capacidade para “umas” 300 pessoas. A entrada é franca e as doações serão somente em dinheiro.

“Uma das bandas confirmadas é a Crazy Rooster, ‘galo doido’, em português [risos]. É uma banda de blues da qual eu sou baixista e em que todos os integrantes são brasileiros”, afirma.

“Na sequência, tem a Charlie Rock, que é uma banda de rock e hard rock, toca essas coisas, assim, [dos] anos 1980, 1990, Guns N’ Roses, essas paradas. E que também tem vários integrantes brasileiros, inclusive o vocalista [Carlão], que é de Porto Alegre, e o [guitarrista] Zé Rodolfo Ortale [sobrinho do músico Pedro Ortale]. Vai rolar o Zepp, que é um amigo meu de longa data”, prossegue Ávila.

“Ele faz música brasileira nos bares aqui, nos cafés brasileiros. Existe o circuito de música brasileira, e o Zepp é meu amigo da comunidade católica. Tocávamos juntos na igreja aqui em Londres. Não sou músico que toca com ele costumeiramente, mas, como somos amigos e não nos vemos há muitos anos, provavelmente vou dividir o palco com ele em alguma música. O Zepp vai fazer um pouco de samba também porque [para] os gringos, se falar que vai ter música brasileira e não rolar um samba, vai ter problema também”, diz o músico.

BLUES E DJAVAN

“Tem vários artistas da cena do blues de Londres também que vão se apresentar na jam session. Tem o projeto Musicalia, que é um projeto de música brasileira do qual eu também faço parte [risos], em duo, eu e o baterista Rodrigo Braga, que é de Minas Gerais”, conta Ávila, arriscando o repertório do que pode virar um power trio.

“Talvez vamos fazer um trio e o nosso foco é o rock dos anos 1980 e 1990. Paralamas do Sucesso, Titãs, Barão Vermelho, Legião Urbana, Jota Quest, Cidade Negra, Skank, até Charlie Brown Jr. rola também, quase anos 2000 já. Então vai rolar pop rock brasileiro. Provavelmente vou tocar alguma coisa do Djavan, que eu amo de paixão”, adianta.

DESDE A FACULDADE

As doações mediadas pelo London to Porto Alegre serão feitas diretamente para uma conta bancária da Associação de Bombeiros do Estado do Rio Grande do Sul (Abergs) ou, visando estimular os depósitos de quem estiver presente na jam session, em uma conta londrina.

No fim da noite, um telão no TAM mostrará ao público o valor arrecadado e os comprovantes. Por exemplo, na cotação de ontem da libra esterlina (R$ 6,45), poderá ser arrecadado R$ 1.935 se cada pessoa do público doar 1 libra, caso o local estiver lotado.

“A galera acha que o trabalho que eu tive com o Zé Pretim não deixou de ser causa social também. É uma forma de retribuir para o universo ou para a sociedade essa bênção que eu recebi, que é poder tocar um instrumento. Quando estive no Brasil, durante a pandemia, eu estava trabalhando na Cufa [Central Única das Favelas]. Faz parte da minha vida”, relembra o guitarrista, que se tornou ativista social quando cursava a faculdade de Educação Física.

“Aqui em Londres, fazia tempo que eu não me envolvia com uma causa dessas, e estava sentindo um buraco dentro do peito. Gostaria muito de que essa catástrofe não estivesse acontecendo, mas, já que aconteceu e que me vi em condição de ajudar, não pensei duas vezes em me colocar a serviço disso”, diz o músico, estendendo seus agradecimentos a mais um parceiro, o guitarrista italiano Mazza.

Fonte:CE

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