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Artistas do Reggae realizam sessão do documentário inédito “Marley”

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“Bom diaaa, reggaeiros. Alguém sabe do resultado do Som da Concha??”. Era a cantora LariS, atual vocalista da banda Canaroots, na manhã de ontem, perguntando assim mesmo, com vários A e interrogações de sobra – ela que, sim, usa o S maiúsculo em sua assinatura artística.

Apesar de ter ocorrido adiamento no prazo para as inscrições de projetos de edital do governo do Estado que contrata atrações musicais para ocupar a Concha Acústica Helena Meirelles, não estava prevista mudança na data do resultado (26/4) no novo calendário.

Em outra ponta do front, Diego Manciba, presidente da Associação Reggae de Mato Grosso do Sul (ARMS), aguardava também para o dia de ontem a confirmação da pauta no Armazém Cultural para 11/5, data de falecimento do jamaicano Bob Marley (1945-1981).

É uma tradição na comunidade reggae, dentro e fora do Brasil, marcar tanto o dia de nascimento (6/2) quanto o de morte daquele que permanece como o maior nome do gênero musical fortemente associado à identidade da Jamaica.

A ideia é promover no Armazém Cultural um tributo ao artista com muita música e outras atividades na programação. Mas a ARMS já confirmou uma sessão especial do documentário “Marley” (2012) para o dia 8/5, a partir das 20h, com entrada franca, em parceria com o Museu da Imagem e do Som (MIS).

Inédito nos cinemas brasileiros, o filme do diretor escocês Kevin Macdonald chegou no País e em toda a América do Sul diretamente no formato DVD.

Com o depoimento de mais de 40 personagens, entre familiares, músicos e amigos, “Marley” é considerado por muita gente especializada na trajetória do artista – e pela própria cultura reggae – como a mais importante produção a tratar da vida, da música e da militância do ídolo maior desse estilo, cuja sonoridade mais moderna e mais conhecida pelo público em geral foi forjada na ponte das raízes jamaicanas com a ebulição musical britânica dos anos 1970.

Mais tarde, o vereador Beto Avelar (PP) finalmente divulgava em suas redes sociais, após a assinatura da prefeita Adriane Lopes, a instituição do Dia Municipal do Reggae em Campo Grande, publicada no Diário Oficial ontem, “em homenagem a Lincoln Gouveia [1983-2021], ex-vocalista da banda Canaroots e ícone da cena musical. A data escolhida, 17/6, é um tributo ao legado artístico de Gouveia e sua contribuição para a cultura reggae”.

A proposição foi encaminhada ao plenário por iniciativa da ARMS.

“Nosso mandato apresentou [o projeto de lei] na Câmara Municipal [de Campo Grande] com a finalidade de celebrar a música, a conscientização, a busca pela paz e a união que o reggae representa”, afirmou o vereador ontem, em uma postagem em seu perfil no Instagram.

“A iniciativa homenageia Lincoln Gouveia e também busca fortalecer a produção musical local e promover eventos culturais relacionados ao reggae”, disse.

UMA NOITE PARA LEMBRAR

Em meio ao corre permanente, tão comum nos nichos da produção cultural independente, a celebração da comunidade reggae local vem no fluxo de uma apresentação já considerada histórica da Canaroots no dia 21/4, pela programação do projeto MS ao Vivo.

Na ocasião, um público estimado em 10 mil pessoas ocupou o Parque das Nações Indígenas naquele domingo e fez uma festa que já está na categoria de antológica na memória de muita gente.

Sim, a maioria ali estava para curtir o Falamansa, que não deixou de mandar bem o seu recado, pontuando seu repertório autoral com clássicos de Luiz Gonzaga, Alceu Valença e Fausto Nilo.

Mas o pátio e o gramado do parque já estavam preenchidos com mais da metade do público que acompanhou o grupo paulistano de forró quando a banda de reggae adentrou no palco para o show de abertura – “Canaroots Convida” – poucos minutos após as 18h.

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A apresentação contou com a participação especial do reggaeman Sandim e da banda Louva Dub, que esteve na ativa de 2007 a 2014 e que voltou à cena no ano passado. Aliás, Sandim faz uma performance gratuitamente amanhã, a partir das 18h30min, no Shopping Campo Grande.

No setlist da Canaroots, “Jah no Comando”, “Há Uma Revolução”, “No Final Todo Mundo É Igual”, “Na Medida Certa”, entre outras canções autorais, além de dois clássicos jamaicanos – “Freedom Sound” (Skatalites) e “Jamming” (Bob Marley & The Wailers) – que marcaram a abertura e o encerramento de um show vigoroso e envolvente. Parafraseando uma das canções apresentadas (“A Natureza Chova”), a performance parece ter contado com as benesses de São Pedro. Quando a banda se despediu, caiu o maior toró.

FLAGMAN

Agora, com a palavra, alguns dos protagonistas da performance, a exemplo do flagman Gustavo Jordão:

“Eu sou o portador da bandeira, tá ligado? É isso o que significa flagman”.

“Ele transmite a mensagem por meio da bandeira. Uma cultura extremamente de resistência, preta, da África, sobre o rasta. Então, mano, a gente tenta transmitir essa essência do reggae. Eu, pelo menos, tenho essa fita e tento conciliar com a dança também, para não ser só uma forma de ficar flutuando ali no ar”, diz o reggaeman.

“E a experiência no show de domingo foi [algo] enérgico, cara. Foi muito lindo, muito forte. Fiquei em transcendência. Foi lindo demais ter a galera dançando no palco e eu lá com a bandeira, sabe? É uma força, assim, que não tem como explicar. É muito forte, mano. É muito massa também. E já quero mais. Muito massa”, afirma Gustavo.

A bandeira em questão repete as faixas cromáticas – verde, dourado e vermelho – da bandeira da Etiópia, reforçando a identificação da causa reggae com o afrocentrismo e com o imperador Hailé Selassié.

LAUREN E LARIS

“Fico muito feliz por esse momento. Lá atrás era só eu na cena. Hoje, ver tantas mulheres envolvidas dá muito orgulho, além de que fortalece todo o movimento”, celebra Lauren Cury, vocalista da Louva Dub.

“Precisamos de mais mulheres na música. Precisamos desse espaço. Além desse poder de fala feminino, que é importante, inspiramos outras mulheres a acreditarem que é possível fazer música aqui. É uma resistência em que o mercado é fortalecido por homens, mas essa é a luta”, diz a cantora.

“Ainda estou tentando entender tudo que vivemos. Reverberando tudo ainda, mas o sentimento é de vitória,
de ver nosso trabalho valorizado, ganhando espaço e visibilidade na nossa própria casa, conseguir manter o legado tão necessário do Lincoln”, assegura LariS, da Canaroots.

“Sensação de que nosso trabalho não é em vão e de ter a oportunidade de mostrar o profissionalismo da cena reggae, que tem trabalhado muito para conquistar esses espaços. Sensação de missão cumprida. Orgulho e gratidão são o que mais define”, afirma.

DANIEL E DIEGO

“Foi incrível ver tantas pessoas, das mais diversas idades e das diversas regiões de Campo Grande, em um único lugar celebrando a música reggae autoral feita aqui. É para isso que a gente trabalha tanto por essa música. Levar a mensagem em um sentimento bom para todas as pessoas”, emenda o baixista da banda, Daniel Jah Rebel.

“Apresentações como essa ajudam a mostrar que o reggae pode sim ocupar os grandes palcos em produções como o MS ao Vivo. Temos músicos e artistas extremamente talentosos. A banda Canaroots e seus convidados aproveitaram bem a chance e fizeram uma ótima apresentação naquele domingo. Esperamos ver cada vez mais artistas locais assumindo um lugar de protagonismo nos eventos produzidos pelo poder público”, reforça Diego Manciba, o qual, além de presidir a ARMS, também atua como DJ.

RASDAIR

“Foi uma verdadeira adoração a Jah, e a multidão marcou presença, dançou e curtiu com as vibrações positivas da música reggae. O show foi em homenagem ao Lincoln Gouveia, compositor, vocalista e fundador da banda Canarrots, um dos idealizadores da Associação Reggae de Mato Grosso do Sul. Com sua passagem prematura para Zion, o reggaeman não pôde estar presente fisicamente para ver a concretização de seu sonho. Foi bonito demais”, pontua o veterano Rasdair Damata, que há 25 anos apresenta programas de reggae na rádio.

Fonte:CE

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