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Arnaldo Antunes abre festival e fala do uso da palavra com consciência

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[…] A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta!
Você vai carregar água na peneira a vida toda.
Você vai encher os vazios
com as suas peraltagens,
e algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos!”

A declamação do poema “O menino que carregava água na peneira”, de Manoel de Barros, deu início a abertura oficial do Festival da Juventude na noite desta quinta-feira (25), realizado na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul). O festival, que reúne literatura, música, teatro e dança, além de palestras e oficinas, teve início trazendo para o palco uma das grandes potências da música e poesia, para o bate papo “Como Nascem as Canções”, intermediado pela artista Isabê.

O evento segue até domingo (28), com atrações nacionais e regionais. Alguns dos destaques são Raphael Montes, o criador de “Bom Dia, Verônica”, Ana Cañas, Johnny Massaro, Tino Freitas e PJ Maia. Confira a programação completa clicando aqui.

Seja quem está começando no ramo artístico, já no meio do caminho, ou no caminho há muitos anos, o teatro Glauce Rocha reuniu pessoas de várias gerações, que receberam Arnaldo com muitos aplausos.

Ele começou falando sobre suas composições, que tem raízes na poesia concreta e Tropicália. Em sua fala, o artista destacou que cresceu em uma época onde o trânsito entre a música popular e a poesia era muito vivo, fatores que o influenciaram no início de sua trajetória.

A noite também foi marcada por apresentações musicais no intervalo entre uma pergunta e outra. A primeira canção a ser interpretada foi “A Casa é Sua”, como um trocadilho bem humorado para a plateia, que estava recebendo Arnaldo em “sua casa”.

O que chama atenção em Arnaldo é a forma como ele é expressivo, interativo, e faz representações visuais das letras das músicas através de gestos, seja chutando o ar no verso “só falta o seu pé descalço pra pisar”, de “A Casa é Sua”, ou ficando na ponta dos pés para simular o movimento de um disco voador, na interpretação da música “Contato Imediato”.

Arnaldo Antunes na primeira noite do Festival da Juventude. (Foto: Juliano Almeida)

Ao afirmar para o público que tudo que produz acaba envolvendo o uso da palavra, destacou o gosto pela expressividade e consciência do uso delas, além de explicar que cada linguagem tem sua especificidade. Sejam elas cantadas, faladas ou declamadas, nas palavras do artista, é parecido, mas diferente.

Para ajudar a ilustrar essa diferença, logo após cantar a primeira música, Arnaldo declamou a letra de “Pensamento”, demonstrando a nitidez entre a mudança na interpretação e na entonação da voz entre a palavra cantada e a palavra declamada.

Ainda sobre brincar com palavras, Arnaldo explica que em seus discos gosta de explorar e experimentar. O exemplo citado foi com a música “Escuríssimo”, em que o artista explica que brincou com a palavra “escuro”, de forma que a palavra fosse articulada até causar seu estranhamento.

“Começou com essa brincadeira, a letra diz, apareço no escuro, apareço no escuro, apareço no escuro por ser escuríssimo. E aí eu fico brincando, o que pode vir mais depois disso? E aí tem essa ideia de subverter as mesmas formas da linguagem, juntar palavras ou juntar sintaticamente, que é uma coisa que, de certa forma, é minha poesia, e algumas canções brincam com isso. E aí a gente fica brincando de escuríssimo, escuricíssimo, escuricicíssimo, escuricicicíssimo”.

O artistas fechou o evento com a performance “Envelhecer”, embalado pelas palmas do público. (Foto: Juliano Almeida)

Seguindo carreira solo após fazer parte de dois grupos nostálgicos – Tribalistas e Titãs – Arnaldo ressaltou que todo o repertório que carrega em anos de carreira está presente e, mesmo em carreira solo,  a música popular é uma linguagem coletiva, desenvolvida em parceria. Exemplo disso é seu lançamento mais recente, “Lágrimas no Mar”, que contato inclusive com a colaboração da esposa de Arnaldo, Márcia Xavier.

“A música pede ao povo essa coisa de colaboração. A banda acaba participando da criação dos arranjos, atuando junto, E muitos integrantes das bandas em que eu trabalho acabam se tornando parceiros de composição. A gente acaba fazendo música no camarim, no ônibus, é espontâneo”, relata Arnaldo sobre sua produção mais recente.

Arnaldo encerrou o bate papo compartilhando sobre o que está lendo, ouvindo e assistindo atualmente. Declarando ser o tipo de leitor que lê de tudo e várias coisas ao mesmo tempo, revelou que sua última leitura foi “O Rugido da Onça”, o último filme assistido foi “Dias Perfeitos”, e tem ouvido os últimos lançamentos dos artistas Tulipa Ruiz e Fernando Catatau. O artistas fechou o evento com a performance “Envelhecer”, embalado pelas palmas do público.

Campo Grande News

 

Fonte:CGN

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