O incêndio florestal que consome a vegetação e as morrarias da Serra do Amolar desde sábado (27) já queimou mais de 1.598 hectares. Com a falta de chuvas neste mês de janeiro, que atipicamente registrou apenas 102 mm de precipitações, o fogo se alastrou rapidamente. Mudanças climáticas, calor excessivo, escassez de chuvas e baixa umidade relativa do ar são fatores que favorecem a ocorrência de queimadas no Estado.
No ano passado, em janeiro, choveu mais de 120 mm em 20 dias na região de Corumbá. Já o acumulado de chuvas deste ano foi de 102 mm.
Até terça-feira (30), havia 11 focos de incêndio e mais de 1.598 hectares queimados na Serra do Amolar. Após as chuvas registradas no fim da tarde ontem, o número de focos caiu para seis, mas o incêndio continua na região.
A Serra do Amolar está localizada no extremo noroeste de Mato Grosso do Sul, na divisa com o estado de Mato Grosso e na fronteira com a Bolívia. É uma das regiões mais inóspitas e de mais difícil acesso, mas também entre as mais belas do Pantanal.
Para reportagem, a diretora de Proteção Ambiental do Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso do Sul (CBMS), tenente-coronel Tatiane Inoue, explica que, quando aumenta a temperatura e diminui a umidade relativa do ar, esse incêndio que estava em queima lenta aumenta de modo expansivo.
“A gente controla o incêndio, mas como ele fica em queima lenta no subsolo, quando aumenta a temperatura, que é a característica desses dias que a gente tem passado aqui em Mato Grosso do Sul, e diminui a umidade relativa do ar, esse incêndio retorna e nossas guarnições iniciam novamente o combate”, detalha.
“O Amolar ainda tem a característica de serra, com vários morros, onde o acesso requer várias horas de caminhadas, com equipamentos, isso tudo para progredir poucos quilômetros. É uma dificuldade que encontramos nos combates aos incêndios aqui no Pantanal sul mato-grossense”, complementa Tatiane.
Conforme noticiado anteriormente pelo Correio do Estado, o incêndio na Serra do Amolar começou após um pequeno proprietário rural da região ter ateado fogo na tentativa de limpar um baceiro que estava no acesso de sua propriedade.
O Instituto Homem Pantaneiro (IHP) constatou o início do fogo por meio de sua central de monitoramento, com câmeras instaladas na serra. O presidente do instituto, Angelo Rabelo, emitiu uma nota dizendo que não houve queima controlada, e por isso as chamas saíram do controle.
“Lamentavelmente, nós fomos surpreendidos pelo fogo a partir de uma ação isolada, e esse fogo subiu a serra sem controle. Tivemos poucas chuvas, e no Pantanal há indicativo de que não vai encher esse ano. Estamos pedindo apoio de reforço aéreo, já que as condições são muito adversas”, ponderou o presidente do IHP.
SECA NO AMOLAR
Por sua vez, o biólogo Geraldo Alves Damasceno Júnior informa que no Pantanal existe um deficit de chuvas na região oeste, que é justamente onde está a Serra do Amolar, sendo difícil atribuir esse incêndio ao fenômeno El Niño.
“Mesmo no meio do período chuvoso, é possível ter fogo. Basta uma semana sem chuva no meio do período chuvoso, que normalmente tem grande produção de biomassa, para que haja condições de propagação para o fogo. É difícil atribuir isso ao El Niño, que normalmente causa aumento de chuvas no Sul e diminuição de chuvas no Norte e Nordeste do Brasil. Já o Pantanal fica no meio do caminho, e fica difícil individualizar esses efeitos para um evento de incêndio específico”, finaliza o biólogo.
Ações integradas estão sendo realizadas na região para conter o fogo, com o apoio do Corpo de Bombeiros Militar, da Polícia Militar Ambiental (PMA), do Sistema Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e de outras brigadas voluntárias.
Ao todo, 14 brigadistas da Brigada Alto Pantanal, do IHP, atuam na realização de ações de prevenção em áreas onde o fogo pode alcançar comunidades.
Com uso de helicóptero, a Marinha do Brasil realiza a manutenção e cria a proteção com aceiro em equipamentos de comunicação em uma área que potencialmente pode ser atingida pelo fogo, a mil metros de altitude.
SERRA DO AMOLAR
A Serra do Amolar está localizada nas imediações de Corumbá, próxima à divisa com a Bolívia e com o Mato Grosso, na região noroeste de Mato Grosso do Sul.
Está situada a 700 quilômetros de Campo Grande e é uma formação rochosa (morros) entre Cáceres (MT) e Corumbá (MS). São 80 quilômetros de serras e morros que chegam a mil metros de altitude, distribuídos em 300 mil hectares.
A única maneira de chegar até o local é por meio de barco, pelo Rio Paraguai, ou de avião.
A serra é classificada pelo Ministério do Meio Ambiente como uma área de conservação de biodiversidade de prioridade extremamente alta.
A Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) denomina essa região como Reserva da Biosfera Mundial e desde 2000 considera o Complexo de Áreas Protegidas do Pantanal Patrimônio Natural da Humanidade. O local abriga diversas espécies, como onças-pintadas, ariranhas e antas.
CRIME
De acordo com o Artigo 250 do Decreto Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940, do Código Penal Brasileiro, causar incêndio que cause perigo à vida ou ao patrimônio público é crime, com pena de três a seis anos de reclusão e multa, que diminui para seis meses a dois anos caso o incêndio seja culposo.
Prevenção
As formas de evitar a propagação de incêndios florestais no Pantanal são:
– Implementar aceiros, faixas desprovidas de vegetação que servem para barrar o fogo e impedir que ele continue seu rumo;
– Manter terrenos limpos e capinados;
– Evitar jogar pontas de cigarro acesas na vegetação
à beira de rodovias;
– Realizar queimadas na época, na frequência e nos locais corretos, chamadas popularmente de queimadas preventivas ou controladas;
– Evitar o uso de fogo em julho, agosto e setembro, pois as condições climáticas são desfavoráveis para a época.
Fonte:CE