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No ano do Desenrola, MS ganhou mais de 48,5 mil inadimplentes

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No ano em que foram implantados novos programas de renegociação de débitos, como o Desenrola Brasil, Mato Grosso do Sul encerrou 2023 com 48.519 pessoas integrando
a lista de negativados.

De acordo com os dados de 2022 do Mapa da Inadimplência no Brasil, da Serasa, naquele ano foram contabilizadas 991.092 pessoas com nome sujo, enquanto em 2023 o total de 1,039 milhão estavam negativadas, uma alta de 4,83%.

Para analistas da área econômica, o Estado acompanha a variável nacional de alta, tendo como principal fator a taxa básica de juros, a qual, mesmo em tendência de queda no ano passado, segue com patamares elevados.

O doutor em Administração Leandro Tortosa explica que, embora tenha havido contenção na taxa básica de juros do País, a Selic, a redução dessa taxa cooperou para o declínio do custo do crédito.

Porém, conforme ele, o crédito ainda é caro – e só aumenta o valor da dívida. Dívidas altas superam o aumento da renda das pessoas, fazendo com que parte delas deixe de quitar seus passivos.

“No radar das causas relativas à inadimplência em Mato Grosso do Sul, ainda estão as despesas inesperadas, a falta de planejamento financeiro e as situações de desemprego, ainda que esse último seja bastante baixo no Estado”, pondera Tortosa.

Já na avaliação do mestre em Economia Eugênio Pavão, a economia não alcançou o crescimento esperado.

“Para o Estado, um dos fatores que contribui para o cenário foi muito provavelmente a desaceleração do agronegócio, ligado também ao câmbio, o que reduziu o comércio e a cadeia produtiva ligada ao setor”, analisa.

O mestre em Economia Lucas Mikael corrobora, apontando também a alta dos juros: “A justificativa para o aumento da inadimplência em praticamente todos os estados reside na conjuntura econômica.

Isso se deve, em grande parte, às altas taxas de juros e ao crescimento econômico, que ainda se mostra em um ritmo considerado lento”.

Nos últimos cinco anos, MS passou por uma escalada na inadimplência, registrando ano a ano aumentos significativos, conforme mostra o levantamento da Serasa.

Em 2019, o total de nomes negativados pelo órgão de proteção ao crédito somou 792.751 pessoas economicamente ativas em Mato Grosso do Sul, passando para 816.191 no ano seguinte.

Em 2021, a lista tornou a ganhar integrantes, totalizando 909.639. No primeiro ano pós-pandemia, 991.092 pessoas estavam com o nome sujo. Já em dezembro de 2023, o número passou para 1.039.611 de pessoas.

RECUO

Ainda de acordo com dados do relatório da Serasa referentes a dezembro do ano passado, 16.473 pessoas deixaram a lista de negativados no Estado em relação ao mês anterior: em novembro de 2023, o total de 1,056 milhão de pessoas integravam a lista com nome restrito, enquanto no mês seguinte o número recuou 1,60%, ficando em 1,039 milhão.

Tortosa explica que a queda se deve ao incremento financeiro do fim de ano, como é o caso do 13º, que tem um peso importante, já que boa parte das pessoas o utiliza para quitar ou renegociar dívidas.

“Os programas de renegociação, como o Desenrola Brasil, o próprio Serasa Limpa Nome e outros oferecidos por empresas e pelo poder público, também estimulam as pessoas a renegociarem suas dívidas e a limpar o nome”, afirma.

Entre os componentes do relatório, o cartão de crédito permanece como o grande vilão da inadimplência, sendo responsável por 31,01% das negativações ocorridas em dezembro.

Na segunda posição do ranking estão as pendências com financeiras (17,63%), seguido por serviços (16,46%); varejo (15,06%) e utilities (11,65), que são dívidas com despesas básicas como água, energia elétrica e gás de cozinha.

O montante total das dívidas em Mato Grosso do Sul é de R$ 5,653 bilhões, e o valor médio devido por inadimplente é de R$ 5,4 mil. As dívidas têm valor médio de R$ 1,45 mil, conforme indica o relatório de dezembro da Serasa.

No quesito gênero, os homens se destacam ocupando o primeiro lugar como maiores inadimplentes do Estado, representando 52,1% do total. Já as mulheres correspondem a 47,9% da população economicamente ativa de MS.

2023

O panorama da inadimplência em MS no ano passado reflete o resultado final. Entre os 12 meses de 2023, nove contaram com acréscimo no número de inadimplentes.

E isso, na opinião de especialistas, já apontava para um crescimento econômico lento e que afeta diretamente a possibilidade das pessoas cumprirem suas obrigações financeiras.

Segundo o Mapa da Inadimplência, em janeiro de 2023, Mato Grosso do Sul atingiu a marca histórica de mais de 1 milhão de inadimplentes, momento em que foram identificados 1,005 milhão de Cadastros de Pessoas Físicas (CPFs) com pendências.

No mês seguinte, o número subiu para 1,011 milhão. Em março, 1,016 milhão de pessoas estavam inadimplentes no Estado. Em abril, um novo acréscimo elevou a lista para um total de 1,034 milhão de nomes, enquanto no mês subsequente o total chegou a 1,036 milhão de negativados.

Junho marcou o primeiro recuo da inadimplência em MS, quando o mapa registrou 1,033 milhão de negativados. Contudo, em julho, o montante voltou a subir para 1,045 milhão. Agosto encerrou com pequena queda, sendo um total de 1,044 milhão de CPFs inadimplentes.

Setembro (1,046 milhão), outubro (1,053 milhão) e novembro (1,056 milhão) permaneceram alcançando níveis ainda mais elevados.

O ano passado terminou registrando o recuo em seu último mês, chegando ao total de 1,039 milhão, como citado anteriormente.

EXPECTATIVA

Considerando o cenário macroeconômico, analistas ressaltam que para este ano há
a expectativa de que melhore a fragilidade financeira das famílias.

“Isso porque houve aumento real [acima da inflação] no salário mínimo, há programas de renegociação de dívidas, os empregos formais estão em trajetória de alta e há expectativas de redução da taxa Selic durante este ano, tornando os juros mais baratos”, pontua Tortosa.

Por outro lado, Mikael aponta para uma economia mais estagnada, tendo em vista que, conforme o último boletim Focus, é estimado que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2023 seja próximo de 3%, enquanto a previsão para este ano é de uma expansão menor, em torno
de 1,59%.

“A desaceleração econômica é atribuída tanto a questões fiscais quanto a um ambiente político mais desafiador, além do impacto menos expressivo do setor agropecuário, que tende a crescer de forma mais moderada”, explana.

Com isso, Mikael avalia que, com a perspectiva de uma economia mais estagnada neste ano, existe a possibilidade de que esses fatores impactem os níveis de inadimplência.

“Acredito que o cenário para 2024 em relação ao nível de inadimplência não seja animador”, conclui.

 

Fonte:CE

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