Com taxa de desemprego inferior a 6% e menos de 7 milhões de habitantes, o Paraguai tem uma economia considerada sólida, com segurança jurídica e segue de olho nas indústrias brasileiras – em especial, nas do Paraná, pela proximidade geográfica.
O novo governo paraguaio de Santiago Peña, que chegou ao poder em agosto, anunciou que vai manter a política de incentivo industrial que ficou conhecida como Lei da Maquila, implantada há 26 anos, que concede benefícios a indústrias estrangeiras que se instalam no país com regime diferenciado de impostos. A legislação prevê que sejam cobrados, no máximo, 2% sobre a exportação dos produtos. Na prática, a cobrança tem sido de apenas 1%. Pelo menos 90% de toda a transformação feita por lá precisa ser obrigatoriamente exportada. E o principal destino é o Brasil. Somente no ano passado, as unidades que se enquadram neste regime tributário exportaram mais de R$ 5 bilhões, fechando quase 10% das vendas externas de todo o país.
Segundo o governo paraguaio, existem cerca de 250 indústrias estrangeiras implantadas em solo paraguaio e mais de 70% são brasileiras. E eles querem mais.
A depender dos anseios da indústria brasileira, isso pode de fato ocorrer, mas em ritmo menos acelerado do que foi no passado. A Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), do estado que, junto com o Mato Grosso do Sul, tem mais de 1,3 mil quilômetros de fronteira com o Paraguai, já realizou inúmeras missões de empresários para aquele país. Parte das empresas estrangeiras no Paraguai são originalmente paranaenses. Agora, o governo de Penã quer, com prolongamento na isenções de impostos, estimular a criação de 100 mil postos de trabalho, o que pode praticamente zerar a fila de desemprego ou ociosidade no país. As indústrias do segmento geram cerca de 22 mil empregos diretos.
Para o economista Marcelo Alves, do Sistema Fiep, as empresas brasileiras seguem de olho no que ocorre no país vizinho, porque as condições são atrativas se comparadas à falta de incentivos proporcionados por políticas públicas brasileiras a novas plantas ou expansão das unidades industriais. “Fica difícil de o industrial não ver o que já existe lá, fora os novos benefícios, a nova roupagem que o governo quer dar com imposto de faturamento de 1%. Isso representa um pacote generoso, fica complicado de não atrair investidores com um sistema muito simples e tributação baixa. Isso faz movimentar a economia e o objetivo do país não é ganhar com a arrecadação de impostos, mas gerar emprego e renda”, destacou o especialista.
Ele não acredita em debandada industriais, mas reforça que a combinação brasileira de baixos incentivos fiscais, custo elevado de linhas de crédito, burocracia e insegurança jurídica tem como resultado que muitos investidores comecem a projetar unidades por lá. “Acho difícil alguém tirar sua indústria de solo brasileiro e levar para lá de uma vez. Acredito que possam levar unidades para fazer testes, principalmente para quem ainda não tem, porque ainda assim existem alguns empecilhos, como a mão de obra, que não sabemos se está preparada para alguns segmentos. Por outro lado, a burocracia infinitamente menor para a contratação, menos problemas trabalhistas e a disponibilidade da mão de obra no país vizinho são fatores importantes com processos a serem avaliados”, completou.
Para o economista, as indústrias mais atraídas ao Paraguai devem ser da região Sul do país, principalmente no Paraná, pela proximidade geográfica e como polo estratégico no Mercosul. Por outro lado, avalia Alves, alguns cenários também podem frear novas plantas de grupos brasileiros no território paraguaio, como o compasso de espera pela aprovação da reforma tributária e a criação de um IVA brasileiro que promete desburocratizar e simplificar esquemas de tributação entre estados, municípios e União, além da própria redução da carga tributária esperada. “Então há um cenário também de avaliações no mercado interno que é considerado pelo empresário”, explicou.
Brasil é o antepenúltimo na lista de piores ambientes para negócios
Segundo levantamento feito pela Confederação Nacional das Indústrias (CNI), somente no ano de 2021 (dados mais recentes disponíveis), as indústrias brasileiras investiram em solo paraguaio US$ 904 milhões, cerca de R$ 4,5 bilhões. “Vamos pensar o quanto isso poderia ter gerado de empregos no Brasil caso os recursos tivessem sido aplicados aqui? Mais importante que isso, é conquistar os investimentos e mantê-los no Brasil”, destacou o economista da Fiep Marcelo Alves.
Entre os fatores que estimularam a ida de unidades industriais ao Paraguai estão fatores considerados essenciais para o segmento empresarial. Ainda segundo a CNI, enquanto o custo trabalhista da mão de obra no Brasil é de 110% sobre o valor do salário, no Paraguai é de 35%. E são problemas ligadas à mão de obra que estão no topo dos desafios da indústria brasileira. Em um ranking composto por 18 países no qual se avalia os melhores ambientes de negócio, o Brasil está em 16º, na frente apenas da Argentina (18º) e do Peru (17º).
Entre os itens que encabeçam a relação avaliada com empresários do segmento de Norte a Sul, junto com a mão de obra, estão as dificuldades de acesso a financiamentos e o custo elevado do crédito no Brasil, com taxas de juros consideradas extremamente altas. “O Brasil é o país com o pior desempenho no ranking do fator financiamento entre os 18 países avaliados. Apesar de se posicionar no terço intermediário em duas das três dimensões avaliadas – disponibilidade de capital e desempenho do sistema financeiro – o custo do capital no Brasil é muito superior ao custo nos demais países, levando-o para o final do ranking nesse fator”, alertou a CNI.
Constam ainda na relação de desafios e problemas a infraestrutura e logística, a tributação elevada, a falta de condições para um ambiente macroeconômico, as dificuldades para estrutura produtiva, os problemas com ambientes de negócio, as dificuldades em educação profissionalizante e problemas de tecnologia e inovação. “Tudo isso pesa, mas outros aspectos também são levados em consideração pelos industriais (ao avaliarem investimentos fora do país), como a mão de obra. Não é só custo, é preciso avaliar a qualidade, como será o produto acabado, como serão as logísticas envolvidas. Tudo isso deve e está sendo considerado”, concluiu o economista.
Fonte:GP