Principal parceiro comercial de Mato Grosso do Sul, a China encara uma desaceleração em sua economia. Com o cenário de consumo negativo no país asiático, o Estado já começa a sentir o reflexo sobre suas commodities, com a queda de 22,12% no envio de carnes no 1º semestre do ano, segundo dados da Carta de Conjuntura da Atividade Externa, da Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc).
Conforme dados divulgados pelo governo, a economia da China cresceu a um ritmo anual de 6,3% no segundo trimestre, de abril a junho. O resultado, no entanto, está abaixo dos 7% (ou mais) que os analistas haviam previsto.
A expectativa é de que a segunda maior economia do mundo desacelere ainda mais nos próximos meses, por causa da fraca demanda do consumidor e de uma frágil demanda por exportações chinesas.
Ainda assim, o crescimento de 6,3% no Produto Interno Bruto (PIB) da China superou a taxa de 4,5% registrada no trimestre anterior. Em termos trimestrais, a economia cresceu 0,8% em relação aos três primeiros meses do ano.
O impacto já foi percebido em Mato Grosso do Sul, com a queda das exportações de carne para o país asiático. O último relatório da Semadesc aponta que o envio de carne bovina apresentou porcentual negativo, com um total de 92,66 milhões de toneladas exportadas, ante as 102,65 milhões de toneladas do ano passado.
Em valores, a atividade somou, até junho deste ano, US$ 443,13 milhões, queda de 22,12% no comparativo com o mesmo intervalo de 2022, quando foram negociados US$ 568,99 milhões, deixando a proteína na terceira posição na pauta de exportações.
O presidente do Sindicato das Indústrias de Frios, Carnes e Derivados do Estado de Mato Grosso do Sul (Sicadems), Sérgio Capuci, pontua que, ao contrário do que os empresários aguardavam, a demanda pela proteína não aumentou.
“Por parte da China, tínhamos a expectativa de crescimento. Com os indicadores ruins, não podemos dizer que houve uma retração, mas sim uma estagnação, já que ela não está comprando mais do que já comprou anteriormente”, explica.
O empresário ressalta que a situação causou uma frustração no segmento, uma vez que, mesmo com a manutenção do volume de produto enviado ao país asiático, os preços estão longe do que era esperado.
IMPORTÂNCIA
Na análise do economista do Sindicato Rural de Campo Grande, Rochedo e Corguinho (SRCG), Staney Barbosa Melo, desde o início da pandemia, a China passa por momentos de restrição econômica, cujos resquícios persistem até os dias atuais.
“Fato é que os chineses hoje são a principal parceira comercial da grande maioria dos países na Ásia, na África, na Oceania e na América Latina. Até pouco tempo atrás, até mesmo os Estados Unidos tinham a China como principal parceiro comercial, fato que foi se desconfigurando com o avançar dos conflitos entre as duas potências. Nesse sentido, é notória a importância que a China tem hoje para o Estado e para todo o mundo”, avalia.
O economista explica que, quando a economia do país asiático retrai, os números das exportações de seus parceiros comerciais caem. Tendo como referência os anos de 2018 a 2022, é possível observar que a China teve participação muito significativa no agronegócio nacional, com uma média de 34,79% de participação nas exportações do País.
O representante do SRCG destaca que a expectativa é de que haja uma recuperação que continue estimulando as exportações, levando em conta que o mercado interno de MS será insuficiente para absorver o excedente da produção.
EXPORTAÇÕES
Na análise geral, Mato Grosso do Sul encerrou o primeiro semestre com superavit na balança comercial do comércio exterior, alcançando cerca de US$ 3,759 bilhões, valor 51,62% superior ao verificado entre janeiro e junho de 2022 (US$ 2,479 bilhões).
O levantamento semestral mostra ainda que o primeiro lugar no ranking dos principais produtos exportados ficou com a soja, com 44,01% do total exportado em termos de valor, apresentando crescimento de 48,94% em relação ao mesmo período do ano passado. Em termos de volume, houve crescimento de 58,84%.
O segundo lugar da pauta de exportação foi a celulose, obtendo 14,47% de participação e crescimento em termos de valor de 2,35%. Já em termos de volume, fechou com queda de -0,57% no semestre.
Quanto ao envio de produtos sul-mato-grossenses ao exterior, a China continua sendo o principal destino, com 42,63% do valor total das exportações (US$ 2,27 bilhões), montante que resultou na elevação porcentual de 23,71% na comparação com o ano anterior (US$1,83 bilhão).
O analista de comércio exterior Aldo Barrigosse salienta a importância da parceria com o país asiático. “Temos aumentado ano a ano nossos investimentos no campo, que se traduzem em mais produtividade e maior competitividade dos nossos produtos no mercado internacional. Esses produtos são muito demandados pela China, para alimentação humana e animal. Eles têm uma população enorme, que precisa se alimentar”, completa.
CHINA
Em escala nacional, produtores dizem já sentir impacto sobre a exportação brasileira, apontando perdas com a diminuição das vendas e a defasagem do preço de comercialização, bem como com o desinteresse por parte dos compradores chineses.
Com uma série de marcadores negativos nos últimos meses, a China registrou Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre abaixo das projeções, porém ainda com crescimento na comparação com o primeiro trimestre, de apenas 0,8%. O resultado foi atribuído ao consumo por bancos e consultorias, que pressionaram por mais estímulo governamental.
No contexto de recuperação, Staney Melo utiliza como referência o mês de junho, no qual a média de participação da China nas exportações brasileiras foi de 40,81% de 2018 a 2023.
“Em 2022, as exportações do mês de junho representaram apenas 36,25% de participação, a menor dos últimos cinco anos. Já em 2023, essa participação subiu para 39,39%, se aproximando da média dos cinco anos anteriores”, indica o economista.
O país asiático aos poucos está retomando seus níveis de atividade econômica, mas ainda enfrentando internamente muitos desafios. “Um dos grandes desafios para a retomada do crescimento chinês é conseguir estimular a demanda sem aumentar a dívida”, conclui Melo. (Colaborou Súzan Benites)
Fonte:CE