Araxá (MG) já não chama mais atenção somente pela suntuosidade do Grande Hotel e pelas águas. Desde 2012, a cidade recebe o Festival Literário de Araxá (Fliaraxá), cuja 11ª edição começa nesta quarta-feira (5) e vai até o próximo domingo, no Estádio Municipal Fausto Alvim, com entrada gratuita. Ao mesmo tempo, Bonito também busca aproveitar seu potencial turístico para promover os livros e a leitura. Na Praça da Liberdade, no Centro da cidade, também entre os dias 5 e 9, acontecerá a 7ª Feira Literária de Bonito (Flib). É de graça.
Tanto o Fliaraxá quanto a FLIB prometem aliar o debate literário a discussões atuais. Este ano, o festival araxaense vai discutir “Educação, Literatura e Patrimônio” e homenagear três autores: a carioca Eliane Alves Cruz, a mineira Líria Porto e o paulista Mário de Andrade (celebra-se 130 anos de seu nascimento em outubro). Segundo o criador do festival, o escritor e jornalista Afonso Borges, o objetivo é mostrar como a literatura brasileira tem recontado a história do país da perspectiva negra, como fez Eliana em romances como “Água de barrela” e “O crime do Cais do Valongo”.
— O Brasil não conhece a sua história, que é uma história preta que foi invisibilizada — afirma Borges, que assina a curadoria juntamente com Tom Farias, biógrafo de Carolina Maria de Jesus, e o cientista político Sérgio Abranches.
A programação inclui mais de 100 autores, como Paulo Lins e Jeferson Tenório, os best-sellers Carla Madeira e Itamar Vieira Junior, e duas atrações internacionais: o angolano Kalaf Epalanga e a italiana Lisa Ginzburg (neta da escritora Natalia Ginzburg e filha do historiador Carlo Ginzburg). Além da intensa programação presencial, o Fliaraxá apresenta dois ciclos de debates virtuais realizados em parceria com o Sesc-SP: “Educação e Patrimônio: as vivências culturais como herança formativa” e “Mário de Andrade, negro, 130”, cujo tema é a negritude do modernista, sobre a qual estudiosos não estão em acordo. Entre os debatedores está o poeta Oswaldo de Camargo, que reacendeu a discussão nos anos 2000. Os ciclos de debates serão disponibilizados no canal do Fliaraxá no YouTube, que preserva todo ao acervo do festival, inclusive gravações de mesas com autores como Mia Couto, Nélida Piñon e Lya Luft.
Bom para os alunos
Já o tema da festa sul-mato-grossense é “Literatura e natureza: uma história para contar”. Além de nomes vindos de fora, como Daniel Galera, Joca Reiners Terron e Micheliny Verunschk, estão confirmados cerca de 30 autores da região, como Lucilene Machado e André Luiz Alvez. A Flib, diz a curadora Maria Adélia Menegazzo, quer lembrar que a produção literária do estado não se limita ao que se convencionou chamar de regionalismo.
Ambos os eventos apostam no diálogo da literatura com outras artes. Em Bonito, haverá uma palestra-show da escritora, cantora e atriz Elisa Lucinda e uma roda de conversa com o ator Antônio Pitanga. Também estão programadas a exibição de filmes, batalhas de slam e uma apresentação do cantor Toni Garrido. Em Araxá, haverá shows todos os dias, com destaque para atrações locais, como as bandas Vinith e Moura Blues. No dia 20, foi inaugurada a exposição “Muros invisíveis: educação”, com retratos de 43 professores negros da cidade. Na última sexta (30), o painel da mostra foi vandalizado, mas a polícia já identificou os suspeitos.
Os curadores destacam a importância dos eventos literários para a formação de leitores. Borges conta que a população de Araxá abraçou o festival. Tanto que a programação com autores regionais é toda feita pela Academia Araxaense de Letras. E Menegazzo afirma que os professores sempre comentam que o desempenho escolar das crianças de Bonito melhorou desde a criação da feira.
— Nesta época do ano, muita gente se programa para vir ao Festival de Inverno de Bonito. Espero que agora comecem a se programar para a feira literária — torce a curadora.
Fonte:OGlobo