Há 20 anos, Fernanda Revertido decidiu transformar espaços de sua casa em um museu aberto ao público em Bonito. Tataraneta do fundador da cidade, a guia de turismo se encantou pelas histórias desde pequena e, hoje, faz questão de mostrar que além da natureza exuberante, a região também é rica em história e cultura.
“A Casa da Memória Raída é um projeto meu de resgatar essa história de Bonito e trazer para o bonitense para que ele conheça e se reconheça através da sua própria história. Também para que os turistas saibam dela, que aqui não é só natureza. A natureza é importante, maravilhosa, mas e as pessoas que fizeram parte dessa história?”, introduz Fernanda.
Se apresentando como mãe e uma mulher sonhadora, a guia explica que sempre esteve imersa nas veias de Bonito. Descendente de Luiz da Costa Leite Falcão, fundador da cidade, ela narra que a história se expande ainda mais.
Isso porque além de ter como familiar o homem que possui busto na praça central e deu nome a uma escola e rua, suas ligações se conectam a Raída e Silvino Jacques. “Sou neta da Raída, que foi companheira do bandoleiro Silvino Jacques. Os dois são uma versão muito parecida com Lampião e Maria Bonita dessa região”.
Explicando sobre as relações familiares, Fernanda comenta que a avó foi a última companheira de Silvino. Com ele, eve três filhos e, após sua morte, casou-se novamente, gerando Ramona Vieira de Souza, a mãe da guia, e outros filhos.
“Minha avó declamava poesia, meus tios também escreviam e desde menina me interesso por isso. Me tornei guia de turismo, então me envolvi com esses conhecimentos pessoais, com os povos indígenas da região e agroflorestas”, pontua Fernanda.
Retornando à transformação da casa em museu, a guia comenta que o projeto nasceu e continua sobrevivendo graças aos esforços conjuntos com sua mãe e de apoios para divulgação. E, há 20 anos, logo no início, a ideia veio após a realização de um documentário com os moradores mais velhos da cidade.
Na época, a família produziu um documentário com pessoas acima de 60 anos. “Pessoas que fizeram parte da história e, dentro da memória coletiva de todos eles, fomos até as casas, curandeiros, chefes de comitivas, benzedeiras, para contarmos”.
Vendo a necessidade de repassar as histórias contadas, indo desde a fundação até as narrativas sobre o Sinhozinho, uma figura mítica que curava as pessoas com cinza, água e plantas medicinais, Fernanda abriu a casa.
“Senti que Bonito precisava ter essa história, que a gente precisava contar. Montei um pequeno museu com peças da minha família e de outras famílias que doaram, dentro da sala da minha casa. A gente recebia as pessoas dentro de uma pequena lojinha e depois íamos para a sala contar as histórias”, narra Fernanda.
Com o tempo, a sala foi perdendo a capacidade e, para melhorar o espaço, a varanda recebeu as transformações. “Hoje, temos o acervo dessas peças, uma pequena biblioteca com livros de literatura indígena, literatura brasileira, geografia e história do Pantanal e também de outras regiões”.
De forma geral, a guia comenta que o museu é uma homenagem à sua avó, Raída, trazendo a memória dos primeiros habitantes indígenas e das famílias que chegaram por aqui.
Por isso, no acervo há um conjunto de ferro de brasa, telefone antigo, malas, lampião e panela de ferro que pertenciam à família de Fernanda e dos antigos moradores que resolveram doar ao museu da memória. Mas, mais do que os materiais, o espaço foi concebido como um museu de memória oral.
“Através das memórias vividas pelos antigos e das minhas memórias de infância, relato a história de Bonito”, explica a responsável pelo local.
Para conhecer mais sobre o espaço, o perfil no Instagram é @casadamemoriaraida. O local é aberto de quarta-feira até domingo, das 16h às 21h, sendo necessário o agendamento pelo número (67) 99353-5353.
Fonte:CGN