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Projeção para recuperar Rio Taquari pode custar 370% a mais do que projeto de 2021

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Dentro do território do Pantanal, um dos rios que há décadas gera grande discussão em torno de sua situação é o Taquari. São 800 km de extensão, e uma área de cerca de 5 mil km², conforme estudo da Embrapa Pantanal, vem sendo atingida por danos causados por ações de assoreamento. Problemas que tiveram início na década de 1970 e ainda não foram solucionados.

Agora, um novo capítulo é somado a essa história, pois a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet (MDB), afirmou ontem que projeto com previsão de investimento de R$ 500 milhões vai ser apresentado para se buscar financiamento.

Já existia uma proposta protocolada no governo federal com a mesma temática, e o valor da época era de R$ 105,8 milhões. Como o rio está em Mato Grosso e em Mato Grosso do Sul, o governo federal é responsável por atuar em sua conservação. Ao mesmo tempo, essa condição complica ainda mais as obras de recuperação.

A nova proposta, ainda em fase de elaboração, envolve o engajamento do governo do Estado, conforme Tebet. Ela explicou que o edital de projeto ainda será viabilizado, mas a tramitação sobre as intervenções está em andamento e detalhes serão divulgados futuramente.

De acordo com a ministra, a alta cifra demandada pode ser obtida a partir de recursos existentes em bancos multilaterais, como o Fonplata, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Fundo para a Convergência Estrutural do Mercosul (Focem).

Em apuração do Correio do Estado, foi identificado que, há dois anos, um outro projeto amplo foi apresentado para a Caixa Econômica Federal com previsão de intervenções em 2 mil hectares envolvendo o Rio Taquari.

Isso causaria ações de recuperação de áreas que passam por 5.989 propriedades rurais que ficam nos municípios de Alcinópolis, Camapuã, Costa Rica, Coxim, Figueirão, Pedro Gomes, Rio Verde de Mato Grosso e São Gabriel do Oeste e em duas cidades de Mato Grosso (Alto Taquari e Alto Araguaia).

O valor que foi apresentado neste projeto de 2021 era de R$ 105,8 milhões, montante 370% menor do que o orçamento previsto para um novo projeto de recuperação do Rio Taquari. Ele foi enquadrado no programa Caixa Florestas, do banco estatal. O recurso disponível era do Fundo Socioambiental Caixa (FSA), que naquele ano dispunha de R$ 150 milhões em recursos para liberação.

A ministra sul-mato-grossense indicou, durante visita feita a Campo Grande ontem, que o novo projeto proposto para o Rio Taquari é viável, mas não foi informado o tamanho da área em que haveria a recuperação do rio.

Simone também não mencionou o projeto que chegou a ser protocolado na Caixa Econômica Federal, mas pontuou que há protagonismo do governo estadual nesse tema.

Quando o projeto anterior foi aprovado para concorrer a recurso do Fundo Socioambiental Caixa, o atual governador, Eduardo Riedel, ocupava o cargo de secretário de Governo e Gestão Estratégica.

“Eu gostaria de reforçar um tema que o governador trouxe, ainda não podemos anunciar detalhes, mas todos vão ouvir falar muito disso e vai ter muito empenho”, disse Simone Tebet, com um pouco de suspense em torno de detalhes sobre a proposta de recuperação do Rio Taquari.

“Os estudos vão ser levantados. Vamos reunir todos os projetos que estão sendo discutidos”, completou a ministra.

OUTRO ESTUDO

Pesquisadores da Embrapa Pantanal e do Instituto Alterra, da Holanda, têm um estudo detalhado sobre soluções que precisam ser implementadas para recuperação de áreas com assoreamento do Rio Taquari, bem como para viabilização de propriedades rurais. Esse trabalho levou em consideração que o curso do rio passa por terreno com solo frágil e que facilita o processo erosivo.

“Com a expansão da agropecuária na década de 1970, sem o uso adequado dos solos, processos erosivos graves na porção alta da bacia levaram à perda e ao transporte de sedimentos rio abaixo, provocando assoreamento do rio no Pantanal, resultando em um desastre ecológico e socioeconômico. Uma área em torno de 500 mil hectares encontra-se permanentemente submersa, ocasionando imensos prejuízos para a pecuária e a pesca”, apontaram os pesquisadores Carlos Padovani (Embrapa Pantanal) e Rob Jongman (Alterra).

Os cientistas ainda acrescentaram que há particularidades do Rio Taquari que precisam ser observadas para um projeto de recuperação e, posteriormente, de manutenção de seu equilíbrio.

Ele é o rio que tem o maior leque aluvial do mundo, depósito de sedimentos de rochas com grande importância para a geologia e área de grande biodiversidade, além de ser reservatório de petróleo e de gás natural.

DANOS AMBIENTAIS

Além do uso desordenado de áreas próximas ao Rio Taquari ao longo de décadas, entre 1970 e 1990, houve ação humana para fechamento de canais, causando o que se denomina arrombado. Isso fez o rio mudar o seu curso e alagar áreas antes secas.

O caso mais emblemático nesse sentido ocorreu na década de 1990, no arrombado do Caronal. Além dessas condições, as características do solo arenoso também favorecem assoreamentos.

“Intervenções na parte alta da bacia [planalto] vão prevenir mais efetivamente inundações excessivas no leque aluvial do Taquari. É esperado, no entanto, que reservatórios de água para a retenção de inundações serão rapidamente preenchidos por sedimentos”, afirmaram os pesquisadores Carlos Padovani e Rob Jongman.

“Apesar de, às vezes, serem vistos como uma ameaça para o ecossistema do Pantanal, os efeitos a longo prazo dos arrombados são provavelmente favoráveis para essa área, uma vez que a mesma é considerada como um Sítio de Patrimônio Mundial Natural. Os recorrentes arrombados rejuvenescem a vegetação, criam paisagens diversificadas e, deste modo, contribuem para a biodiversidade”, detalharam Padovani e Jongman.

Nesse estudo apresentado em 2005 há indicação para que ocorra dragagem em 350 km, com profundidade de 3 metros, para viabilizar a navegação, bem como ações para prevenção de novos arrombados e para garantir que haja um novo leito do rio no arrombado do Caronal, o que já existe, mas, com as chuvas deste ano, acabou se formando maior lâmina de água em vários trechos. O reflorestamento de margens também é apontado no estudo. (Colaborou Leo Ribeiro)

 

Fonte:CE

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