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Prevenção contra incêndios é antecipada após mais da metade do Pantanal queimar

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A incidência do fogo em biomas brasileiros passou a ter um monitoramento mais próximo nesta década. Dados divulgados pelo MapBiomas Fogo no mês de abril apontaram que uma área equivalente a 70,4 mil km² foi consumida pelas chamas entre 1985 e 2022.

O ano de 2020 foi o mais crítico nesse período. Essa área se aproxima do tamanho da Bélgica e da Suíça juntas e corresponde a 51% de todo o território do bioma.

A gravidade da estatística identificada está fazendo com que autoridades públicas e entidades ligadas à preservação do Pantanal atuem com maior antecipação para evitar novas tragédias ligadas ao fogo.

Cerca de dois meses antes do período de maior estiagem no bioma, que começa com o inverno, em 21 de junho (até 23 de setembro), autoridades estaduais e federais reuniram-se em Campo Grande e em Brasília para discutir estratégias de manejo integrado do fogo (MIF) no Pantanal e em outros biomas.

O governo federal acertou, em 20 de abril, que está definida a contratação de 171 brigadistas para a temporada do fogo. Serão 30 brigadistas a mais do que no ano passado, e ainda haverá a instalação de uma nova brigada dentro da Terra Indígena Kadiwéu.

Equipamentos, como caminhões e embarcações do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo), também já foram disponibilizados e estão na sede 3º Grupamento dos Bombeiros em Corumbá.

Em Mato Grosso do Sul, o governo estadual tem à disposição uma aeronave Air Tractor, com capacidade de 3 mil litros de água, para atuar no combate a incêndios em áreas remotas, como acontece no Pantanal.

O equipamento foi disponibilizado em 28 de fevereiro deste ano e está sediado no Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema.

Entidades privadas também estão dotadas de recursos. O Instituto Homem Pantaneiro (IHP), sediado em Corumbá, mantém de forma permanente a Brigada Alto Pantanal, para atuar na região da Serra do Amolar de forma preventiva.

Aceiros e limpeza de áreas são algumas das ações do grupo, formado por nove pessoas, todas brigadistas. Também está ocorrendo o plantio de milhares de mudas em áreas degradadas pelo fogo em 2020.

Está em funcionamento, de forma permanente desde o ano passado, um monitoramento com câmeras e com uso de inteligência artificial em uma área de 70 mil hectares, para identificar fogo poucos minutos depois que as chamas são iniciadas.

Há comunicação direta com o Corpo de Bombeiros e com as autoridades para tomada de medidas urgentes.

Além desses recursos, dados do MapBiomas Fogo e estudos do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), balizaram grande parte dessas discussões, que envolvem Ministério do Meio Ambiente, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama)/Prevfogo, Corpo de Bombeiros Militar de MS e Ministério Público estadual, para agir antecipadamente contra o fogo.

Até 2020, essa decisão estratégica não era tomada regularmente.

“Com essa série histórica de dados de fogo, podemos entender o efeito do clima e da ação humana sobre as queimadas e os incêndios florestais”, explica Ane Alencar, coordenadora do MapBiomas Fogo e diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).

“Por exemplo, percebemos claramente que em anos de El Niño temos mais ocorrência de incêndios, como nos últimos El Niños [2015-2016 e 2019], se comparados aos anos de La Niña, quando chove mais na Amazônia [2018 e 2021]. A exceção a essa regra foi 2022, quando mesmo sendo um ano de La Niña, a Amazônia queimou bastante”, completa Ane.

O Pantanal enfrenta ciclos de água e fogo, como são conhecidos no território, porém, os efeitos de fenômenos citados por Ane Alencar foram mais devastadores nesta década do que nos últimos 30 anos analisados.

“El Niño e La Niña são partes de um mesmo fenômeno atmosférico-oceânico que ocorre no Oceano Pacífico Equatorial [e na atmosfera adjacente], denominado de El Niño Oscilação Sul [Enos]. O Enos refere-se às situações nas quais o Oceano Pacífico Equatorial está mais quente [El Niño] ou mais frio [La Niña] do que a média normal histórica. A mudança na temperatura do Oceano Pacífico Equatorial acarreta efeitos globais na temperatura e na precipitação”, detalha o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

“Os dados do Lasa estão auxiliando os órgãos e têm sido essenciais desde a prevenção, o combate até a formulação de políticas públicas no estado de Mato Grosso do Sul para o manejo de incêndios florestais”, apontam os pesquisadores do Lasa/UFRJ em nota divulgada nas redes sociais.

Prevenção e resposta rápida são duas medidas para controlar o fogo e evitar que os incêndios se alastrem.

O engajamento visto em Mato Grosso do Sul não é, ainda, identificado em outros estados que registram essas ocorrências, como é o caso do vizinho Mato Grosso, além de Pará, Rondônia e Amazonas, onde há floresta amazônica.

“A solução está na governança adequada. Hoje, nós temos aqui em Mato Grosso do Sul instituições e organizações trabalhando justamente com a questão do fogo, no sentido de estudar e minimizar o seu uso. A gente percebe várias instituições envolvidas, com o apoio do governo do Estado nos mais altos níveis, criando legislação, decreto e implementando essas leis, esses decretos. Essa é a governança, e a gente vê que isso está tendo um efeito”, afirma Alberto Setzer, pesquisador do Inpe.

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