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Lançado em dezembro de 2021, Programa Estrada Viva é chamado de ‘Estrada Morta’

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Todos os dias dezenas de animais morrem atropelados nas rodovias de Mato Grosso do Sul. “As pessoas passam do lado de um tamanduá-bandeira, que está ameaçado de extinção, como se fosse uma pedra, um nada”, lamenta a fundadora do Instituto Libio, Raquel Machado.

Ela participa de um grupo de coalizão de organizações não governamentais que lutam pela mitigação de acidentes com a vida silvestre nas estradas. Juntos criaram o projeto “Bonito não Atropela”, que serviu de base para expandir para o Estado a metodologia que ganhou o nome “Estrada Vida”.

No entanto, o programa lançado em dezembro de 2021 nunca saiu efetivamente do papel. Apesar das promessas da administração de abraçar a causa e implementar o manual de boas práticas para a fauna, nada foi feito pelo Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul).

A demora tem resultado em uma chacina nas rodovias MS-040, MS-178, MS-382, MS-339, MS-345 e MS-450, além da BR-359, que são monitoradas pelo Estrada Viva. A reportagem pediu os dados coletados neste período e recebeu apenas a foto uma maritraca na gaiola e a informação de que nesta semana uma cobra jararaca encontrada na MS-178 por uma das três equipes que fazem a ronda nas estradas.

Única imagem divulgada pelo programa Estrada Viva após solicitação de um relatório com os dados foi a de uma maritraca na gaiola. (Foto: Imasul)
Única imagem divulgada pelo programa Estrada Viva após solicitação de um relatório com os dados foi a de uma maritraca na gaiola. (Foto: Imasul)

Não houve um retorno quanto aos questionamentos de metodologia utilizada nos monitoramentos, transparência dos dados, divulgação dos técnicos responsáveis pelas ART’s (Anotações de Responsabilidade Técnica) e muito menos detalhes dos projetos informando os pontos de mitigação nas novas estradas que estão sendo abertas no Estado.

A falta de resposta é também reclamação de Raquel. “Encaminhamos vários ofícios. Entregamos tudo de bandeja e até hoje não temos um relatório. Pedimos prestação de contas e não recebemos. Fizemos um manual em conjunto e que não estão implementando como deveria ter feito”, destaca.

Exemplo disso é que as duas passagens superiores que existem em Bonito foram patrocinadas pelo Instituto Libio, SOS Pantanal e Localiza. Já as cercas que eram para ser implantadas na ponte dos rios Formoso e Formosinho ficaram mais de um ano guardadas e após muita insistência, foi implantada apenas de um lado, sem seguir o manual, de forma que o animal que atravessa a pista fica sem saída.

A moradora de Bonito, há 27 anos, a ciclista Rossana Luckner encontra animais todos os dias durante os treinos nas rodovias em torno da cidade. Ela compartilha os registros no instagram @ciclistas_facanacaveira. Além de imagens belíssimas, há também muitos animais mortos.

“Aqui é só estrada morta. Toda vez encontro muito bicho atropelado. Sei onde eles passam. Alguns os carros já passaram tanto por cima, que não dá nem para identificar o que era. E está saindo um monte de asfalto novo e não estou vendo a passagem dos animais”, lamenta.

Proteger os animais é um dever do Estado, conforme a Constituição Federal. No entanto, a rica biodiversidade de Mato Grosso do Sul só tem contado com a ajuda das ONG’s. Na última semana, o IHP (Instituto Homem Pantaneiro) iniciou a implantação de bonecos sinalizadores na BR-262, que corta o Pantanal entre Miranda e Corumbá.

O trecho que é responsabilidade do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) que até então só implantou radares em alguns pontos da rodovia federal. Com mais de 400 carretas de minério passando todos os dias no trecho, a BR-262 já é considerada a que mais mata em Mato Grosso do Sul.

Última onça-pintada morta atropelada na BR-262, em janeiro deste ano. (Foto: PMA)

Em janeiro deste ano uma onça-pintada foi morta atropelada, próxima a ponte do Rio Aquidauana. A perda de um indivíduo atropelado causa impacto irreparável para espécie ameaçada de extinção. Só nós últimos sete anos, 17 onças-pintadas perderam a vida atropeladas, tentando atravessar a rodovia.

O projeto Bandeiras e Rodovias do ICAS (Instituto de Conservação de Animais Silvestres) também tem feito um trabalho de responsabilidade do governo. Com várias ações, os pesquisadores buscam proteger a fauna e cuidar da vida para estradas mais seguras.

Durante 3 anos (2017-2020) monitorando quatro rodovias do Mato Grosso do Sul, o projeto registrou 12.400 animais silvestres envolvidos em colisões veiculares. Isso porque foram percorridas apenas 14% das rodovias asfaltadas do estado, ou seja, se forem consideradas todas as rodovias do MS, esse número será muito maior.

O grupo tem cobrado o esquecimento da gestão público em relação as milhares de mortes de animais símbolos da fauna brasileira. “O Bonito Não Atropela vem alertando sobre esse enorme problema, que deveria de fato ser tratado como uma das maiores prioridades do governo, vez que põe em risco a integridade de humanos e animais, impactando drasticamente no funcionamento do ecossistema da região”, alertam os responsáveis pelo programa.

 

Fonte:CGN

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