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Após chuvas recordes, Bonito e região aguardam rios voltarem ao normal

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O volume de chuvas recorde no verão deste ano está retardando a limpeza completa das águas dos rios de Bonito e região. Os turistas até conseguem ver o efeito da transparência, fazer fotos, aproveitar os passeios, mas a aparência cristalina, que é uma característica da água na região, ainda não retornou.

Empresário do turismo, Eduardo Coelho, dono da Estância Mimosa, conta que se antes as pessoas conseguiam ter 10 metros de visibilidade com a clareza da água, hoje está em 2 metros. Mas ele relata que ainda assim a experiência está agradando os turistas. O alento é que as nascentes estão limpas, diz.

Ana Cláudia Almeida é bióloga e professora em Bonito, mas também atua no turismo, levando pessoas para conhecer a Cachoeira Boca da Onça e o Rio Salobra, na Serra da Bodoquena, a 60 quilômetros da cidade. Ela também relata sobre o turvamento das águas nesta temporada de chuvas. Conforme ela, o fato impacta a expectativa das pessoas, que vão ao local exatamente em busca da água cristalina para visualizar peixes e a riqueza da biodiversidade dos rios.

Ela explica que o verde característico não reapareceu, seria como um caldo de cana, compara. Ana diz que moradores antigos relatam que antes havia o turvamento, mas era breve, logo retomava a limpeza das águas. Para ela, atualmente está demorando mais e isso só vai ocorrer com a passagem da temporada da chuva.

E os levantamentos apontam que Bonito enfrenta uma temporada com volumes muito acima do normal. Quando as médias em janeiro e fevereiro ficavam em cerca de 189,5 mm e 140,2 mm, respectivamente, neste ano foram registrados na cidade 234,5 mm e 495 mm nos dois meses.

Coelho diz que houve lugares de Bonito em que as chuvas podem ter atingindo 600 mm. Recentemente, a chuva foi tão intensa que turistas ficaram ilhados, rios transbordaram, passeios precisaram ficar interditados.

Terra no rio – Para ele, fatores se associam para deixar os rios turvos. Um dos aspectos é a qualidade das estradas. Com tanta enxurrada e lama, acaba chegando resíduo aos rios, que têm o leito de areia ou calcário, e afeta a limpeza das águas. O empresário considera que é preciso melhorar a técnica para a recuperação das estradas na zona rural. Ele defende que se não houver um nível mais elevado da pista, com canais nas laterais e locais de contenção, a enxurrada vai seguir sujando os rios.

Segundo ele, a situação foi exposta ao governador Eduardo Riedel, que esteve na cidade para acompanhar os estragos da chuva no mês passado. Eduardo aponta que além do turismo, o transporte de estudantes e também da produção ficam afetados. É um “jogo de perde perde”, sintetiza.

Ana ainda menciona que com a intensidade das chuvas, o asfalto estragou e as estradas de acesso a passeios esburacaram. Com isso, turistas reclamam do risco de danos aos veículos. Ela acredita que com a terra molhada, se entrar maquinário vai produzir muito mais sujeira para os rios.

A bióloga também aponta que chama a atenção a expansão da produção agrícola. Relata que turistas que retornam à região constatam e comentam sobre o tema. Estudo divulgado há pouco tempo apontou que de 2010, a área de soja saltou de 4% para 23% em 2020. Ana aponta outros fatores, como a mineração, o desmatamento e o crescimento urbano sem planejamento.

No mês passado, o prefeito de Bonito, Josmail Rodrigues, informou que estava em tratativas com o governo estadual para a elaboração de um plano de drenagem para captação e direcionamento das águas da chuva. Seria um empreendimento a se concretizar com financiamento externo. A reportagem tentou obter novas informações esta manhã mas não teve resposta.

Enquanto isso, o governo, via Agesul, esclarece que o processo de recuperação de estradas é permanente, mesmo em época de chuvas. Na cidade, diferentes setores se associam em iniciativas ecologicamente corretas.

Eduardo Coelho menciona o IASB (Instituto das Águas da Serra da Bodoquena), do qual é presidente, participa do projeto Águas de Bonito, que envolve produtores rurais, e consegue realizar ações como a abertura de curvas de nível em propriedades, para permitir o escoamento de água, cercamento e plantio de árvores em regiões de nascente na sub-bacia do Rio Mimoso. A iniciativa é apoiada pelo governo estadual e o Sindicato Rural da cidade.

Abertura de curvas de nível, plantio de árvores perto de nascentes são medidas para assegurar a qualidade da água em Bonito.

 

Fonte:CGN

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