Com Saci pantaneiro e Pai do Mato de Miranda integrando os episódios, a série de TV “Mitos Vivos” teve sua pré-estreia nesta quarta-feira (8) em Campo Grande. Apresentada por Gabriel Sater, o trabalho foi produzido quase totalmente por sul-mato-grossenses.
Mostrando que as regiões brasileiras são ricas em histórias e cultura, a série reúne personagens do folclore em episódios que contextualizam o assunto e ainda apresentam testemunhas dos mitos. Tanto é que no caso de Corumbá, por exemplo, moradores garantem que viram o saci nas florestas e dão detalhes sobre o homem com cachimbo.
Reservada para um público restrito, o lançamento ocorreu em uma sala do Cinépolis e contou com a participação da equipe integrante do projeto. Durante a apresentação, os convidados puderam assistir aos episódios do boto paraense e do saci de Corumbá.
Predominantemente desenvolvido por sul-mato-grossenses, o trabalho possui Fábio Flecha na criação e direção, além da produção de Tania Sozza.
Ao todo, a série documental conta com 13 episódios, sendo 26 minutos de duração cada. Temáticas, cada história tem como foco uma cidade brasileira, sendo que a equipe foi até os locais para gravar as imagens e registrar depoimentos de moradores.
Nesta primeira temporada, os mitos escolhidos foram Saci, Pai do Mato, Corpo Seco, Lobisomem, Mula Sem Cabeça, Caboclo D’água, Negrinho do Pastoreio, Salamanca de Jarau, Comadre Fulozinha, Alamoa, Boto e Matinta Perê.
Especificamente de Mato Grosso do Sul, as lendas correspondentes são o Saci de Corumbá e o Pai do Mato de Miranda.
Contando sobre a ideia do Mitos Vivos, Fábio Flecha detalha que as pesquisas começaram em 2014 e não pararam mais. “A ideia do projeto é que a gente visite uma determinada região do país e, nessa região, a gente vai falar sobre um mito, uma lenda, alguma coisa do folclore local, mas isso tem que ser contado pelas pessoas do local. Porque isso é que dá a vida ao mito: as pessoas. E o mito nada mais é do que a expressão de quem conta, do que o pensamento de quem conta sobre ele”.
Após conversar com os moradores e pesquisadores do local, o diretor explica que algo a mais precisava ser feito. Nesse sentido, era necessário dar vida aos mitos e a solução foi usar das mais variadas formas de arte.
“Nós convidamos artistas de segmentos diferentes, nós temos artistas visuais, artistas digitais, nós temos pessoas do teatro, pessoas da fotografia, um cineasta também trabalhando, para que eles, através da visão artística e da forma de arte que eles usam pudessem transformar isso em realidade, dar vida a esse mito”, comenta sobre a parte final de cada episódio.
Na prática, cada história é mediada por Gabriel Sater durante a apresentação e, antes de apresentar os mitos, o local recebe ponderações históricas e culturais de especialistas. Em seguida, as histórias ganham espaço e são detalhadas por quem já viu, ouviu ou sentiu os personagens.
Sobre os mitos escolhidos de Mato Grosso do Sul, Fábio destaca que a riqueza é enorme, mas duas histórias foram selecionadas. “Escolhemos o Saci de Corumbá, que é diferente do de Monteiro Lobato, e foi uma pesquisa muito gostosa de se fazer. E, falando de preservação, da natureza que nosso estado tem isso na raíz, fomos a Miranda para falar do Pai do Mato, que é um protetor da floresta. Então, a gente tem muito para falar desses dois”.
Orgulhoso de integrar o projeto, Gabriel Sater comenta que recebeu o convite de Fábio quando ainda estava gravando para a novela Pantanal.
“Chegou esse e-mail com uma introdução lindíssima sobre o projeto, uma apresentação falando de inúmeras lendas brasileiras, muitas que eu nem conhecia. Amei o material, até porque estava num momento de construção e de trabalho em cima do universo sobrenatural, místico, com Trindade, e comecei a realmente me interessar em fazer o projeto, mesmo gravando numa agenda muito louca que é agenda de novela, que você não tem vida, felizmente”, brinca.
Na época, por estar envolvido com as gravações, ele explica que precisou pedir permissão à sua chefia para encontrar tempo e se deslocar até Campo Grande.
Gravei nos finais de semana que eu não tinha folga, teve dias que eu vim sem dormir por completo de show, assim, muito feliz que deu certo porque eu queria muito fazer. Acho que quando você quer fazer algum projeto e dá certo mesmo com qualquer dificuldade, noite sem sono é o mínimo, Gabriel detalha.
Especificamente sobre como foi a experiência na apresentação, Gabriel pontua que nunca havia feito algo parecido e, ao “descobrir” novos mitos, percebeu que a divulgação é ainda mais importante. “Então eu acho que é muito importante para nossa cultura estar cada vez mais preparada para as próximas gerações. Meu filho, meu futuro neto, vão poder entender a quantidade de figuras míticas e lendárias que a gente tem no país, porque muitas vezes a gente absorve culturas de outros países muito mais do que a nossa”, ele comenta.
Ainda aproveitando o legado deixado por Pantanal, o artista narra que a união entre a nova e os novos projetos integram um período que não foi interrompido até agora. De acordo com Gabriel, 45 eventos foram realizados em pouco mais de cinco meses, mas deu tempo de aproveitar cada um deles.
“Tive lançamento do álbum novo, estreei dois shows novos, até três, mas o 3º foi um show pontual com era um repertorio novo, mas resumindo: 45 eventos e agora feliz de daqui a pouco tocar na minha terra porque ainda não tinha tocado em Campo Grande desde então”, diz.
Apesar de estar em Mato Grosso do Sul nesta semana apenas para a série, o músico irá retornar para Campo Grande para a reinauguração da Casa do Artesão no próximo dia 19 com seu show “Noites Pantaneiras”.
Composição da série
Responsável pela trilha sonora, Antônio Porto comenta que vem produzindo materiais parecidos para outros trabalhos, mas que Mitos Vivos é considerado seu grande projeto na área. “É um trabalho muito extenso, acredito que com o que produzi temos três álbuns. São trilhas para treze episódios, então é impossível ser diferente”.
Convidado por Fábio Flecha para integrar a equipe da série, o artista explica que a magia saiu das histórias e se encontrou com suas composições musicais. “Fiz algumas produções que são bastante diferentes do que costumo fazer. Criei algumas coisas no violão, troquei a afinação, mudei as cordas de lugar, foi realmente alguma mágica que aconteceu ali”, explica sobre o processo.
Apesar de ser um projeto longo, ele detalha que o cansaço não se tornou algo negativo e que integrar a série foi especial do início ao fim. Tanto é que além de ser responsável pela série como um todo, ele também atuou no episódio da Mula Sem Cabeça.
Também parte da equipe, o ator e diretor Bruno Moser interpretou vários papéis na série e narra que talvez o mais difícil foi personificar a histórias de fora do Estado. “Uma das minhas preocupações era como seria possível a gente materializar esses mitos que não vivemos, não conhecemos. É muito difícil porque envolve crenças, regionalidades, então nos esforçamos ao máximo para respeitar as culturas e fazer algo bonito”.
Integrando a série
Para os registros dos episódios, a produção foi até Corumbá, Miranda, São Luiz do Paraitinga (SP), Joanópolis (SP), Barão de Cocais (MG), Mariana (MG), Alegrete (RS), Quaraí (RS), Caruaru (PE), Fernando de Noronha (PE), Belém (PA) e Ananindeua (PA).
Em seguida, artistas de dança, teatro, artes visuais, literatura, artes digitais, música, fotografia e cinema foram convidados para encenar e dar vida aos mitos. O objetivo é que a série seja veiculada na TV Brasil no segundo semestre e, posteriormente, integre plataformas de streaming como a Netflix e Globoplay.
Na lista de artistas convidados estão Antônio Porto, Ana Ruas, Ingrid Farah, Espedito Di Montebranco, Bruno Moser, Galvão Pretto, Marcelo Flecha, Ariadne Cantú, Flávio Sobreira, Ana Carolina Brindarolli e Alexis Prappas.
A pesquisa foi feita por Andriolli Costa, enquanto o elenco é composto por Jurema de Castro, Espedito Di Montebranco, Bruno Moser e Laura Santoro.
Fonte:CGN